Vox Capital promove debate sobre avanços nas metodologias de gestão e mensuração de impacto

Daniel Izzo, da Vox: “Um mundo em que os fluxos financeiros trabalhem para gerar mais abundância, equidade e transformação social e ambiental positiva” Foto: Júlia Salles

Às vésperas de completar 10 anos de atuação, a Vox Capital realiza encontro para promover reflexão sobre Propósito na Prática e lança o Clube de Impacto, iniciativa que oferece a oportunidade, para qualquer pessoa, de investir em negócios de impacto, a partir de R$ 1 mil.

Imaginem um mundo em que os fluxos financeiros trabalhem para gerar mais abundância, mais equidade para todos e mais transformação social e ambiental positiva. Um mundo em que todos os negócios têm como objetivo não só retornar valor para o acionista mas tornar o planeta mais sustentável, um pouco melhor para todos. É com essa promessa que a Vox, empreendedores de impacto social e ambiental e o setor de investimento de impacto trabalham.”

Com esse chamado, Daniel Izzo, co-fundador da Vox Capital, abriu o encontro Propósito na Prática: histórias de quem trabalha por um mundo melhor e ferramentas para te ajudar a chegar lá, realizado em São Paulo, no dia 9 de maio.

O evento contou com a participação de Amanda Feldman, diretora do Impact Management Project (IMP), iniciativa que conta com a participação e inputs de 2 mil organizações do mundo todo e que está rapidamente se posicionando como o principal framework global sobre gestão de impacto. A Vox Capital é um dos parceiros de conteúdo global desse projeto, na busca por padronizar a forma como se pensa o objetivo de impacto a ser alcançado por empresas ou fundos. O Relatório Anual de Impacto 2018 da Vox Capital foi lançado durante o evento, baseado na metodologia IMP.

Segundo Izzo, “investidores vêm trabalhando cada vez mais na oferta de investimentos e produtos financeiros que tenham em suas métricas entregar um mundo melhor”. O investimento de impacto, ou seja, o fluxo de dinheiro que segue para soluções de impacto social que também tenham fins de lucro surgiu há cerca de 10 anos. O último relatório do GIIN – Global Impact Investing Network (Rede Global de Investimento de Impacto) estima o mercado global de investimentos de impacto em US$ 502 bilhões (ver reportagem no Portal Notícias de Impacto). O mercado de impacto, na verdade, vem crescendo rapidamente, duas vezes ao ano, o que deixa claro, entre outros desafios, o de avaliação, mensuração e gestão de impacto.

Gestora pioneira em investimentos de impacto no Brasil, a Vox trabalha há 10 anos para construir um mundo melhor, investindo nos negócios que estão resolvendo os principais problemas do Brasil. A empresa já investiu em 23 negócios de impacto, contava com 72 milhões de pessoas atendidas ao final de 2018 e foi eleita 7 vezes entre os 50 melhores gestores de investimento de impacto no mundo. Com base neste histórico, Daniel Izzo acha fundamental a realização de eventos como o Propósito na Prática, com o objetivo de compartilhar experiências importantes de metodologias de gestão e de mensuração de impacto. Além de Amanda Feldman, do Impact Management Project (IMP), participaram Jéssica Silva Rios, da Vox; Clécio Lima, da Avante; e Daniel Brandão, da Move Social.

Para abrir as portas às pessoas que compartilham os mesmos valores e a crença de unir recursos financeiros a propósito, a Vox lançou no final do encontro o Clube de Impacto, iniciativa aberta para pessoas dispostas a fazer parte desse movimento. A partir de R$ 1 mil, qualquer pessoa pode investir em negócios de impacto junto com a Vox e gerar impacto social e ambiental. Basta acessar o site da Vox Capital.

Interesse e desafios crescentes

O tema investimento de impacto vem despertando o interesse crescente de empresas, organizações e fundos que querem gerar impacto social e ambiental, além de obter retorno financeiro.” Se o termo investimento de impacto é recente, não podemos falar o mesmo de avaliação de impacto. Filantropia e políticas públicas adotam avaliação de impacto com um dos principais pilares das suas operações. Herdamos da filantropia o dilema que é fazer a gestão social dessas iniciativas. Mas a dúvida que se apresenta é: o que é adequado e compatível para negócios de sociais?”, indaga Jéssica Silva Rios, gestora da área de Impacto Social da Vox Capital.

Jéssica Silva Rios, da Vox: “O caminho adiante para a gestão de impacto é longo e ainda não está integrado 100% em todas as práticas” Foto: Júlia Salles

Padronização, comparação, transparência das informações e o componente humano são ferramentas que norteiam os relatórios de impacto. Globalmente, esse movimento está alinhado aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (ODS) e a uma agenda de desafios socioambientais. A adoção da Teoria da Mudança, outra herança da época da filantropia, surge nesse contexto para apoiar não só planejamento desses negócios e iniciativas, mas para acompanhamento pós-investimento desses projetos.

“O caminho adiante para a gestão de impacto é longo e ainda não está integrado 100% em todas as práticas, não só na Vox, mas em todos os atores no campo, no Brasil e globalmente. Sabemos que, para avaliar impacto, não existe uma receita ou fórmula. É diferente de quando olhamos para um fluxo financeiro, por exemplo. Mas a nossa provocação é que, ainda assim, temos uma responsabilidade grande para conseguir demonstrar e acompanhar qual é o resultado desses negócios”, completa Jéssica.

O impacto da Avante na oferta de microcrédito

Clécio Lima, CEO da Avante, falou sobre a trajetória da empresa que apoia pessoas que não têm acesso ao sistema bancário, que não têm condições de obter crédito para montar o próprio negócio. “Nós temos hoje no Brasil um pouco mais de 40 milhões de microempreendedores. São pessoas que não encontraram uma  oportunidade e, passando por grandes necessidades, tiveram que empreender em coisas pequenas. Normalmente são não bancarizados ou sub-bancarizados ou têm uma conta bancária que praticamente não oferece nada para ajudar no negócio; 80% são informais, por necessidade e não por opção. De modo geral, esses microempreendedores estão excluídos do sistema financeiro e a vida é bastante difícil para eles”, explica Clécio.

Clécio Lima, da Avante: “inteligência artificial para cruzar dados e ver essa pessoa tem características de um bom pagador” Foto: Júlia Salles

Oferecendo microcrédito individual, a Avante começou na comunidade em Paraisópolis (São Paulo) com uma loja física. Depois, para reduzir custos, recorreu à tecnologia para conhecer e entender o mercado, para avaliar o cliente, passando a usar mais a internet. “Se a pessoa não tem carro ou uma casa para dar como garantia, nós usamos inteligência artificial para cruzar dados e ver essa pessoa tem características de um bom pagador. Mas ela está negativada! Temos quase 65 milhões de pessoas negativadas no país. É muito difícil encontrarmos uma pessoa que não esteja negativada, ainda assim ela precisa de crédito. Nós cruzamos vários outros tipos de dados para entender o perfil, o comportamento desse microempreendedor e podemos oferecer crédito para ele”, afirma Clécio.

A importância de considerar a interconexão de sistemas complexos

Daniel Brandão, fundador da Move Social, trouxe uma inquietação – destacou a importância da Teoria da Mudança, ferramenta valiosa para apoiar processos de planejamento e avaliação de organizações e programas sociais, mas usou a imagem de um flock of birds (bando de aves) que voam em conjunto, para ressaltar a importância da conexão. “Esta imagem remete a sistemas complexos, que são belos, são interconectados. A conexão é a chave central para a formação de um sistema. A Teoria da Mudança tem que ser considerada como um subsistema dentro da lógica de um negócio social. Não podemos ter uma visão fragmentada”, destacou Daniel.

Daniel Brandão, da Move Social: “A Teoria da Mudança tem que ser considerada como um subsistema dentro da lógica de um negócio social” Foto: Júlia Salles

Fundada em 2011, a Move Social já atendeu mais de 100 organizações, públicas e privadas no Brasil. Além da Teoria da Mudança, Daniel considera que a construção de futuro e o processo de avaliação de impacto têm que considerar outros subsistemas, como o propósito, planos estratégicos, metodologia OKR (Objective and Key Results), Canvas Business Model e Teoria da Mudança. Ele considera que “esse é um todo indissociável, essencial para contar o impacto das iniciativas. Agendas novas precisam surgir, para que a avaliação não seja um mecanismo de opressão”.

As cinco dimensões do IMP

Para Amanda Feldman, diretora do Impact Management Project (IMP), “impacto não é só um número”. O IMP propõe um consenso global para que o impacto seja definido por cinco dimensões: 1) O quê; 2) Quem; 3) Quanto; 4) Contribuição; e 5) Risco. Essas dimensões trazem uma percepção ampliada sobre o impacto e sobre como melhor definir os resultados esperados e gerenciar os processos em busca dos objetivos.

Amanda Feldman, do IMP: “O IMP propõe um consenso global para que o impacto seja definido por cinco dimensões” Foto: Divulgação

Veja a seguir o que representam as cinco dimensões propostas pelo IMP para a gestão de impacto.

  • Na dimensão 1) “O quê”, considera-se os efeitos gerados pelo negócio, se positivos ou negativos, e a sua importância para as pessoas ou para o planeta.
  • Na dimensão 2) “Quem”, considera-se o público que experimenta os efeitos positivos do impacto e o quanto esse público já está ou não atendido por esses resultados.
  • Na dimensão 3) “Quanto”, procura-se identificar quão significativo é o efeito, no sentido de sua escala, profundidade e duração.
  • Na dimensão 4) “Contribuição”, a questão está em saber até que ponto os efeitos gerados pelo negócio contribuem para a melhora ou piora das pessoas ou do planeta.
  • Na dimensão 5) “Risco”, avalia-se quais fatores de risco são materiais e qual a probabilidade de o efeito ser diferente da expectativa.

 Veja mais informações sobre o modelo no portal do Impact Management Project