Projeto da FEA investirá R$ 310 mil em treinamento de jovens da comunidade São Remo

Por Cacilda Luna*

As jovens professoras da FEA Kavita Miadaira Hamza e Ana Carolina de Aguiar Rodrigues iniciam em julho um projeto que terá um grande impacto social nas comunidades localizadas no entorno do campus da USP, principalmente na Favela São Remo. Durante dois anos, serão investidos mais de R$ 300 mil na capacitação e potencialização de 30 jovens, com idade entre 18 e 30 anos, a serem recrutados com a ajuda de líderes comunitários. A ideia é transformar esses jovens em empreendedores e auxiliá-los a desenvolver projetos que melhorem as condições da comunidade onde vivem. Os projetos não precisam necessariamente ter fins lucrativos, podem ter apenas caráter social.

Intitulado “Potencializa: Programa de potencialização de jovens multiplicadores em contextos periféricos”, o projeto foi um dos finalistas do edital Empreendedorismo Social 2019, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU), que premiou oito por categoria. Foram quatro categorias disputadas (discentes de graduação, discentes de pós-graduação, docentes com mais de 6 anos de atuação e jovens docentes). As professoras da FEA concorreram na categoria jovens docentes. O auxílio financeiro disponibilizado pela PRCEU em conjunto com a Agência USP de Inovação para cada projeto vencedor é de até R$ 25 mil.

Mas no caso específico do projeto Potencializa, o “pulo do gato” veio da articulação das autoras junto a uma rede de parceiros externos. Quatro organizações que já trabalham com ações sociais resolveram investir no programa R$ 285 mil, o que somado à verba da USP totaliza R$ 310 mil, potencializando assim o impacto do projeto. As entidades são o CAVC Idiomas, escola de idiomas vinculada ao Centro Acadêmico Visconde de Cairu da FEA, o British Council, a empresa ponteAponte e a Escola Aberta do Terceiro Setor. “É como se a USP com 25 mil reais conseguisse alavancar mais 285 mil reais. Acho que essa articulação com os parceiros foi um ponto bastante favorável para a seleção do projeto”, constata a professora Kavita Hamza.

O CAVC Idiomas entrou com a maior parte dos recursos externos, o que deixa as professoras Kavita e Ana Carolina orgulhosas, por ser uma entidade ligada à FEA. A escola irá oferecer por um período de dois anos aulas gratuitas de inglês (5 módulos) aos 30 jovens participantes. A diretora do CAVC Idiomas Ana Paula Bastos Vilar Garcia disse que é gratificante participar de um projeto dessa magnitude social. “Esse projeto caminha muito próximo aos ideais que o CAVC sempre defendeu para a universidade: que ela seja pública, gratuita e transforme a vida de seus alunos e da comunidade”.

O British Council irá aplicar nos jovens uma metodologia chamada de Active Citizens, que eles desenvolveram e já foi implementada em 68 países. “É uma metodologia já bem consolidada em que eles potencializam jovens em situações vulneráveis para ajudá-los a empreender. Tem muito treinamento de autoconhecimento e de empoderamento, no sentido de: quem sou eu no mundo, qual é o meu papel, quais são os meus direitos, como faço para melhorar a comunidade em que eu vivo? Então, são cursos com esse objetivo, de potencialização do próprio jovem”, explica Kavita.

A ponteAponte, como seu próprio nome sugere, faz a ponte entre o primeiro, o segundo e o terceiro setor. “Eles ajudam a conectar as empresas que querem investir em projetos para melhorar a sociedade”, afirma Kavita Hamza. A empresa já realizou um piloto do programa no ano passado com 8 jovens. Eles contribuirão com sua expertise em empreendedorismo social, realizando o processo de divulgação do programa e seleção dos jovens, aplicação metodológica, articulação de professores/mentores, estruturação do currículo do programa em parceria com a FEA, preparação e compilação de conteúdos para as aulas, acompanhamento dos jovens ao longo do processo e avaliação dos resultados.

A Escola Aberta do Terceiro Setor vai ajudar a selecionar os 30 jovens que participarão do projeto. Ela participará com a produção de três cursos ou videoaulas, com duração de 30 minutos cada, a serem disponibilizados gratuitamente na plataforma online da Escola. Qualquer jovem terá acesso aos cursos e não somente os recrutados.

Cidadãos ativos

O principal objetivo do projeto Potencializa é realizar treinamento visando tornar os jovens das comunidades no entorno da USP cidadãos ativos na sociedade. Nessas comunidades de baixa renda, as pessoas têm menos conhecimento sobre os próprios direitos ou sobre como se organizar em grupo. A capacitação dos 30 jovens escolhidos englobará temas como autoconhecimento, empreendedorismo social e gestão de projetos, empoderando-os para se tornarem agentes de transformação em suas comunidades.

Segundo a professora Kavita Hamza, a metodologia ajuda a identificar os problemas na comunidade e as soluções para esses problemas. Os jovens recrutados participarão de aulas, palestras, oficinas e encontros de inspiração (mentorias). Depois, o grupo se dividirá em cinco equipes para o desenvolvimento colaborativo. As equipes colocarão em prática cinco projetos, que receberão ajuda financeira para sua implementação, ou seja, ”investimentos semente” no valor de 5 mil reais. Serão dados mais 500 reais para os dois melhores projetos, indicados pelos próprios jovens num processo de avaliação coletiva.

Além das coordenadoras, Kavita Hamza e Ana Carolina Rodrigues, serão envolvidos no processo cinco alunos de graduação e pós-graduação da FEA. Kavita reconhece que o treinamento dos jovens carentes é uma forma de capacitá-los profissionalmente, ajudando-os a melhorar de vida. Mas enfatiza que os projetos a serem implementados deverão obrigatoriamente beneficiar a comunidade em que eles vivem atualmente. A professora admite que, futuramente, outros parceiros poderão ser procurados para investir financeiramente nos empreendimentos.

(*) Assessora de imprensa da FEAUSP. Matéria publicada na edição de maio de 2019 da newsletter Gente da FEA.