Selo Origens Brasil®, conexões que valorizam a floresta e quem vive dela

Produzida há séculos por populações tradicionais na Amazônia, a farinha de mandioca do tipo ovinha, da região de Uarini, conhecida como A Ribeirinha, passa agora a ser comercializada com o selo Origens Brasil®, que garante que o cultivo e a fabricação de um produto têm origem florestal e respeitam tanto o meio ambiente quanto suas populações tradicionais e seus territórios.

O selo Origens Brasil® conecta os produtos da floresta com o mercado, valorizando o que há de mais rico: a cultura local e a conservação do bioma, construindo uma cadeia mais justa para todos. Está presente em produtos diversos como a pimenta jiquitaia Baniwa com açaí, chocolate com pimenta, geleia de manga com cumaru, óleo de pequi, peças de arte Yanomani e de artesanato Mulheres Kayapó.

Em junho, a iniciativa recebeu o Prêmio Internacional para a Alimentação e Agricultura Sustentáveis, concedido em Roma pela Organização das Nações Unidas, durante a 41ª Conferência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), e pela Embaixada da Suiça. “A farinha é um dos principais alimentos produzidos pelas populações ribeirinhas e pode contribuir para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Melhorias no processo de fabricação e na qualidade do produto beneficiam cerca de 1,8 mil pessoas em Unidades de Conservação (UC), nas quais a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) atua. Os impactos positivos incluem segurança alimentar, redução tanto do desmatamento quanto de queimadas e aumento da renda dos ribeirinhos”, explica Patrícia Cota Gomes, coordenadora do Origens Brasil.

Prêmio Internacional de Inovação para a Alimentação e Agricultura Sustentáveis: Francois Pythoud (embaixador da Suíça), Adriano Jerozolimski (coordenador da Associação Floresta Protegida), Bephhoti Atydjate (liderança Kayapó), Patrícia Cota Gomes, (coordenadora do Origens Brasil®) e José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO. Foto: FAO

Para conhecer a origem do produto

Além de garantir a origem florestal do produto, o selo Origens Brasil® funciona também como um QR Code que, após ser escaneado numa tela de smartphone, redireciona o consumidor a um endereço eletrônico com informações sobre a origem do produto, as histórias dos povos que o produzem e a região, entre outros dados, estimulando o respeito à diversidade dos modos de vida tradicional. O selo foi criado pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA).

O selo Origens Brasil® conecta os produtos da floresta com o mercado. Foto: Dirce Quintino

Assim a farinha A Ribeirinha conta a sua história: produzida por agricultores de 15 comunidades situadas entre os municípios de Uarini e Alvarães, a cerca de 550 quilômetros de Manaus, dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá. A farinha também é empacotada pelos próprios comunitários e comercializada com o nome de A Ribeirinha, recebendo apoio técnico da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), com recursos do Fundo Amazônia/BNDES, por meio dos programas Geração de Renda e Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis. “É importante a farinha receber o selo para valorizar o produto e reconhecer o trabalho dos comunitários”, diz Edvaldo Oliveira, coordenador da Regional Solimões do Programa Geração de Renda, da FAS.

“O selo mostra quem está por trás da produção, quem são esses produtores, qual é a área protegida, a região de onde a farinha vem. Isso dá transparência aos compradores e consumidores, que por vezes não conhecem essa região da Amazônia”, afirma Helga Yamaki, coordenadora do Imaflora.


A Ribeirinha

Essa farinha é produzida há séculos e chama-se “ovinha” por lembrar ovinhas de peixe. A mandioca colhida é imersa em água por 2 a 3 dias para fermentar, amolecer e soltar a casca. Daí, a massa é seca em tipiti (objeto de palha trançada especialmente para secar massa de mandioca) ou em prensa e peneirada. Até aí, mesmo processo das farinhas d’água normais.

Então a massa é colocada num “boleador”, um objeto cilíndrico que é girado lentamente de forma que os grãos se tornem redondinhos. Numa casa de farinha mais simples, este processo é feito em uma rede de pano, também girada diversas vezes para arredondar os grânulos. Depois a farinha é colocada no tacho de ferro para torrar e é peneirada novamente e passa por um ventilador para tirar a poeira e deixar apenas as bolinhas.


 

Foto: Dirce Quintino

 “Agora a gente consegue mostrar a história do nosso povo ribeirinho agricultor, mostrar o rosto dos produtores, como a farinha é produzida, quantas famílias participam e de onde sai”, disse Raimundo Rodrigues “Xexeo”, agricultor da comunidade São Francisco do Aiucá, da RDS Mamirauá. “Antes a pessoa só comprava e comia, hoje ela vai poder saber a nossa história, de onde vem. Nossa farinha vai ficar mais conhecida, as pessoas vão poder comprar de qualquer lugar do mundo e pelo preço que vale, um produto sustentável e sem agrotóxicos”.

Há um ano, por meio dos programas Geração de Renda e Empreendedorismo da FAS, a farinha ovinha produzida por agricultores das comunidades na RDS Mamirauá passou a ser empacotada na comunidade Campo Novo e comercializada com o nome “A Ribeirinha”. Ela é vendida no mercado local, no Amazonas, e, mais recentemente, também passou a ser vendida a nível nacional por meio da loja virtual “Jirau”, uma parceria da FAS com a americanas.com. A farinha A Ribeirinha pode ser comprada pelo site https://bit.ly/2ZMqN6q

Antes de ajudar a levar a farinha de Uarini ao mercado nacional, a equipe técnica da FAS desenvolveu ações de qualificação, treinamento e negócios com os produtores por meio do programa de Empreendedorismo. “O selo vai contribuir no reconhecimento do território, da origem, da história, do local e dos povos que trabalham de forma justa e sustentável pela manutenção da floresta. Ao colocar no mapa a farinha A Ribeirinha por meio do selo Origens Brasil, o empreendimento comunitário poderá ser valorizado como um produto de valor comercial mais justo num mercado que é cada vez mais exigente”, ressalta Wildney Mourão, coordenador de Empreendedorismo da FAS.

FAS

A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) é uma organização brasileira não governamental, sem fins lucrativos, que promove o desenvolvimento sustentável, a conservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida das populações que vivem em Unidades de Conservação (UC) no Amazonas, em cooperação estratégica com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).