Com a Cannabis Medicinal, Indeov busca impacto positivo para a qualidade de vida de pacientes

Camila Teixeira, CEO da Indeov (centro), e sua equipe. Foto: Ilana Goldsmid

Guiada pelo propósito de trazer impacto positivo para a qualidade de vida de pacientes, familiares e cuidadores, conectando-os a médicos e produtores, a Indeov, empresa especializada no acesso à Cannabis Medicinal, foi uma das startups selecionadas pelo Brazil Accelerate 2030

A Indeov, empresa especializada no acesso à Cannabis Medicinal, foi uma das 35 startups selecionadas na etapa nacional do programa Brazil Accelerate 2030, iniciativa do Impact Hub e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). “Foram muitos nãos, uma luta solitária. Receber essa validação de uma entidade tão comprometida com as mudanças de impacto social e global significa muito. Somos importantes afinal. O que nós mais precisamos é ser ouvidos por entidades sérias”, afirma Camila Teixeira, CEO da Indeov.

A Indeov nasceu com a missão de desenvolver o ecossistema de Cannabis Medicinal no Brasil, apoiando empresas do ramo no mercado brasileiro com serviços de consultoria e representação comercial. Atualmente, representa duas das maiores empresas de Cannabis no mundo – Charlotte’s Web e Elixinol –, oferecendo educação e apoio técnico-científico aos médicos e atendimento a pacientes que necessitam de auxílio na importação dos produtos, em todas as fases do processo.

“Somos guiados por um propósito claro: impactar positivamente a qualidade de vida de pacientes, familiares e cuidadores, conectando-os a médicos e produtores de Cannabis Medicinal. Para isso, trabalhamos com paixão e espírito de excelência, oferecendo soluções integradas na área da Cannabis Medicinal. Prestamos consultoria de internacionalização e entrada no mercado brasileiro para empresas com produtos de alta qualidade, abrangendo áreas técnicas, médica, negócios, regulatório, compliance e representação comercial. Nossos programas de pacientes e médicos apoiam pessoas de todas as idades em todas as etapas do acesso a estes produtos, acolhendo seus cuidadores e familiares, com consultoria técnica e educação continuada por meio de equipe multidisciplinar especializada, com monitoramento terapêutico. Possuímos experiência internacional em mercado regulado e nossos valores são centrados no acolhimento e bem-estar de todos os envolvidos no ecossistema de Cannabis Medicinal”, explica Camila

Accelerate 2030

O programa Accelerate recebeu 364 inscrições de startups de 12 estados. Os negócios escolhidos têm impacto direto em 13 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e passaram pela avaliação de uma banca examinadora de 70 pessoas, entre empreendedores, especialistas, executivos e representantes da academia. Além de sintonia com os ODS, os critérios de seleção incluíram estar em estágio de crescimento, possuir um modelo escalável e uma equipe ambiciosa e competente. Os selecionados terão acesso a treinamentos, desenvolvimento de plano para escala internacional, fomento a conexões estratégicas e suporte especializado.

Na primeira etapa do programa, atividades de formação serão realizadas nas capitais: São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Manaus e Florianópolis. Os empreendedores serão capacitados para aprimorar práticas de mensuração de impacto, elaborar um plano de escala global, oferecer suporte e fazer contato com especialistas, investidores, mentores e parceiros do mundo todo.

Na segunda etapa, as três empresas com o melhor desempenho serão indicadas para participar de uma imersão em Genebra, na Suíça, onde participarão de eventos globais voltados aos ODS. Além disso, também receberão suporte de organizações internacionais por mais nove meses para fortalecerem seus modelos de negócios Entre 364 inscritos, foram selecionadas 35 empresas distribuídas entre 12 estados brasileiros.


“Indeov significa Inovação e Desenvolvimento. Agora, com o suporte do Accelerate, vamos passar por alguns mudanças também de branding, porque queremos nos mostrar mais acolhedores na comunicação.”

Camila Teixeira, CEO da Indeov


 Esse é o primeiro programa de aceleração do qual a Indeov participa. “Nós optamos por estruturar uma equipe multidisciplinar, atender a demanda por algum tempo e desenvolver uma curva de aprendizado porque é tudo muito novo no Brasil. Começamos a avaliar as oportunidades, entrar ou não em programas de aceleração. Agora, com a validação do PNUD, podemos de fato ganhar escala. Teremos a oportunidade de conversar com profissionais sérios para essa construção. Aí a gente vai mostrar para o mundo”, diz Camila.

A empresa surgiu inicialmente nos Estados Unidos. “Trouxemos para o Brasil com um novo nome, Indeov, que significa Inovação e Desenvolvimento. Agora, com o suporte do Accelerate, vamos passar por alguns mudanças também de branding, porque queremos ser mais receptivos, mais acolhedores na comunicação. Enfrentamos muito preconceito e a meta agora é expandir a nossa perspectiva de comunicação, para que tanto pacientes quanto médicos se sintam acolhidos”, destaca a CEO.

Para a Indeov, o que conta é a conexão com o paciente e com o médico. “Temos um cuidado muito grande em relação à educação personalizada dos médicos porque eles têm que se sentir muito seguros para recomendar ao paciente a opção terapêutica da Cannabis Medicinal. Nós representamos as duas principais marcas de Cannabis Medicinal dos Estados Unidos: Charlotte’s Web e Elixinol, produtos que foram criteriosamente selecionados pela qualidade técnica, científica e de produção, além de validados por médicos parceiros. Fazemos ainda o acompanhamento logístico e, principalmente o acompanhamento terapêutico. É um conceito de base sólida e de grande impacto social”, afima Camila.


No Brasil, 3,4 milhões de pacientes portadores de doenças crônicas poderiam se beneficiar com a opção terapêutica da Cannabis Medicinal.


O avanço constante das pesquisas científicas sobre os benefícios da droga à saúde já permitiu que seu uso médico fosse legalizado em 30 países em todo o mundo, incluindo o Canadá, algumas partes dos EUA, México, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Israel, Argentina e Austrália, além de estar sendo avaliado em outros lugares. O uso medicinal da Cannabis já é comprovado no controle da dor crônica, epilepsia, depressão, psicose, Parkinson e Alzheimer, e tem ajudado pacientes a lidar com náuseas causadas por quimioterapia no tratamento do câncer, entre outras aplicações. Diante das evidências de seus legítimos benefícios medicinais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está propondo pela primeira vez retirar a Cannabis do controle internacional de drogas. Atualmente a substância está classificada no cronograma 4, que é a categoria mais rigorosamente controlada. Na avaliação do Comitê de Especialistas em Dependência de Drogas (ECDD) da OMS seria possível rebaixar a Cannabis e outros produtos relacionados a ela para o cronograma 1, onde se encontram substâncias menos danosas e com propriedades curativas ou medicinais.

“O nosso trabalho é muito individualizado, mas com o empoderamento dos pacientes, cada vez mais procurando uma solução, e os médicos, cada vez mais cientes dos benefícios para ajudá-los, podemos dizer que a mudança está ganhando rapidez. A regulamentação, porém, depende da Anvisa e de uma série de decisões de governo que fogem do nosso alcance.  Estudos indicam que, com a abertura no mercado brasileiro, 3,4 milhões de pacientes poderão ser beneficiados em três anos”, comenta Camila.


“Os pacientes com Alzheimer saem, fogem, não lembram do rosto do filho. Isso é um peso econômico e social que não sei porque está sendo negligenciado. Só focar no paciente já não é mais suficiente, a família inteira fica doente.”

Carolina Nocetti, da InterCan


Carolina Nocetti, consultora técnica da Indeov e fundadora da InterCan, centro de educação em saúde na área de Cannabis Medicinal, afirma que o tema é sensível e cercado de preconceitos. “Uma entre cada 68 crianças hoje nasce com autismo e esse é um número extremamente importante. Não existe medicação para autismo na farmácia. Para a doença de Alzheimer, os medicamentos mais efetivos diminuem a sobrevida do paciente. São doenças para as quais não há solução, mas que a Cannabis tem impacto muito positivo, não só nos pacientes mas também nos cuidadores. Os pacientes com Alzheimer saem, fogem, não lembram do rosto do filho. Isso é um peso econômico e social que não sei porque está sendo negligenciado. Só focar no paciente já não é mais suficiente, a família inteira fica doente. Essa é a minha missão e eu vejo o brilho no olho de pessoas que agora conseguem dormir 4, 5 horas. São coisas pequenas que fazem toda a diferença, como ‘meu pai lembrou do meu nome’. É uma luta diária mas não tem como negligenciar que é preciso dar a esses pacientes alguma solução”, afirma Carolina.

No Brasil, são mais de 5 mil pacientes beneficiados até o momento e cerca de 900 médicos prescritores. Segundo Carolina Nocetti, a Anvisa exige três documentos para permitir acesso aos produtos derivados da Cannabis: prescrição, relatório médico e um termo de responsabilidade, assinado tanto pelo médico quanto pelo paciente. O médico também precisa preencher um formulário de solicitação no site da Anvisa e anexar outros documentos referentes ao pedido. O processo é todo online e a autorização chega via e-mail para o paciente. Com a liberação em mãos, é possível comprar os produtos em sites internacionais e encaminhar a permissão de entrada para a Receita Federal.

As perspectivas para o acesso são crescentes, seja via importação, seja via defensoria pública. O paciente pode recorrer diretamente e percorrer os caminhos naturais com toda burocracia.

Camila e Carolina recomendam assistir ao filme “Ilegal”, para conhecer a luta das mães  para ter acesso à Cannabis Medicinal. “São mães leoas, que fariam tudo o que fosse preciso para ter essa medicação aqui no Brasil. É impossível não se sensibilizar com a força dessas mães”, afirma Carolina.