Fórum discute apoio e futuro de empreendedores sociais da periferia

Participantes do painel de abertura do 3° Fórum de Negócios de Impacto da Periferia (sentido horário): Fabiana Ivo (ANIP); João Souza (Fa.Vela); Maitê Lourenço (BlackRock); Claudio Nascimento (Lab Griô); e Ítala Herta (Vale do Dendê).

O 3°FNIP – Fórum de Negócios de Impacto da Periferia online foi idealizado com o
pensamento de disseminar práticas inspiradoras de lutas cotidianas, de propostas
de superação contra o racismo estrutural e contra a violência de gênero.

A mesa do painel de abertura do 3° Fórum de Negócios de Impacto da Periferia,
FNIP, reuniu verdadeiras potências das periferias do Brasil para debater
Representatividade, Inspiração e Luta, temas tão caros para todos os
participantes: Maitê Lourenço, da Black Rocks (São Paulo), João Souza, da
Fa.Vela (Belo Horizonte), Ítala Herta, da Vale do Dendê (Bahia) e Claudio
Nascimento, do Lab Griô (Recife).

Ao abrir o painel, Fabiana Ivo, coordenadora pedagógica de A Banca e da
Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (ANIP), citou Paulo Freire, que
afirmava que era preciso “acreditar no inédito viável. Crer no sonho possível, que
só se alcança pela prática libertadora”. No FNIP, segundo Fabiana, “a construção
libertadora se dá no momento em que refletimos juntas e juntos sobre o que nos
afeta, quando a periferia se torna protagonista das suas soluções. Imaginar isso
12 anos atrás seria uma utopia. Hoje, no entanto, é parte de uma realidade
construída dia a dia e dos dois lados da ponte”.

O FNIP é uma realização da ANIP, resultado de parceria entre A
Banca, Artemisia e Centro de Empreendedorismo e Negócios da Fundação
Getulio Vargas (FGVCenn), “todos com o propósito comum”, segundo Marcelo
Rocha (Dj Bola), fundador do negócio social A Banca e cofundador da ANIP, “de
fortalecer os empreendedores que estão e são da periferia e vêm causando
impacto social em seus territórios”.

Maure Pessanha, diretora-executiva da Artemisia: “Estamos tentando criar uma série de apoios para empreendedores e empreendedoras, para que realmente os negócios possam prosperar e impactar mais pessoas”.

Segundo Maure Pessanha, diretora-executiva da Artemisia, a ANIP surgiu do entendimento de que “os empreendedores precisam de uma jornada um pouco mais completa de apoio. Essa jornada envolve reflexões, diálogos, encontros entre pares, capacitação, aceleração, acompanhamento, recurso financeiro. Estamos tentando criar uma série de apoios para empreendedores e empreendedoras, para que realmente os negócios possam prosperar e impactar mais pessoas”.


“Nós acreditamos nas inovações sociais que vêm da periferia e
nos empreendedores das quebradas que fazem a diferença”. |
Edgard Barki, FGVcenn


 

Edgard Barki, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV, o FGVcenn: “A ANIP não é só uma articuladora É uma luta para quebrar os muros sociais existentes no Brasil. Para fortalecer os empreendedores eempreendedoras de todas as quebradas”.

Para Edgard Barki, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos
Negócios da FGV, o FGVcenn, “a ANIP não é só uma articuladora, é uma luta para
quebrar os muros sociais existentes no Brasil. Para fortalecer os e,mpreendedores
e empreendedoras de todas as quebradas. Uma nova forma de realizar negócios,
com alegria, paixão e propósito. Nós acreditamos nas inovações sociais que vêm
da periferia e nos empreendedores das quebradas que fazem a diferença.
Estamos juntos nesta luta, estamos juntos neste fórum”, afirmou Barki no início do
encontro.

“O racismo estrutural, para nós da periferia, sempre foi uma luta constante de
superação e para nos mantermos vivos e vivas. A maioria dos negócios de
impacto da periferia (NIPs) inscritos nos nossos programas era de mulheres e
homens negros. Queremos com o FNIP da Virada readequar as necessidades dos
negócios e motivar, inspirar e falar do futuro dos empreendedores sociais
periféricos. Vamos discutir os novos desafios e demandas que, com a pandemia
do coronavírus, alcançaram uma proporção alarmante que exige mudanças
drásticas nos modelos de negócio e na forma de desenvolver as ações no dia a
dia”, comentou a mediadora do painel Fabiana Ivo, coordenadora pedagógica de A
Banca/ANIP.


“Queremos com o FNIP da Virada readequar as necessidades dos
negócios e motivar, inspirar e falar do futuro dos
empreendedores sociais periféricos.” | Fabiana Ivo, ANIP


 

Entre as questões colocadas no painel pela mediadora Fabiana Ivo estava “quais
foram as principais viradas de chave que cada um teve que realizar para
empreender, como é trabalhar com o que se ama e fazendo isso dos lugares que
viemos”.

Para Maitê Lourenço, fundadora e CEO da BlackRocks Startups, o ecossistema
de startups sempre foi muito elitista e isso chamou a atenção dela. “Vi a
oportunidade de abrir o acesso para o povo preto que tem tantas ideias e estava
tão distante desse mundo. E pensei: por que não posso ser a responsável por
trazer as ideias inovadoras dos trabalhos dessas pessoas? O desafio me fez ver a
oportunidade de desenvolver outros empreendedores com foco na questão racial’,
comenta Maitê.

Assim surgiu a BlackRocks Startups, uma iniciativa pioneira e várias vezes
premiada, que tem o objetivo incentivar a população negra a acessar o
ecossistema de startups, inovação e tecnologia.

“O fio condutor da minha virada e que me fez empreender e trabalhar com
inovação e economia criativa foi minha mãe. Sou de bairro popular de Salvador
chamado Boca do Rio. Costumo dizer que a minha história não é de superação,
mas de muita luta. Minha mãe mostrou o caminho. Uma dona de casa, mulher
negra que sempre teve que buscar saídas, montou uma pequena lanchonete na
nossa rua, que em pouco tempo virou um ponto comercial. Ela formou todos os
meus skills, não frequentei nenhuma universidade de negócios”, conta Ítala Herta,
co-fundadora do centro de inovação Vale do Dendê (Salvador- BA) e fundadora da
aceleradora Diver.SSA.

Ao longo de sua trajetória profissional, Ítala muitas vezes se viu em um ambiente
hostil, no qual os espaços muitas vezes são negados, principalmente para
mulheres. “Nos últimos 15 anos, passei por muitas oscilações. Só quando comecei
a empreender com uma perspectiva criativa e a acreditar que a minha criatividade
era potente, mesmo com toda vulnerabilidade, é que tudo mudou. Eu bato muito
nessa tecla, na economia criativa como inovação social porque a criatividade no
Brasil está nas margens”, conta Ítala, que é também pesquisadora e
comunicadora independente da cultura negra e periférica e associada da SILO –
Arte e Latitudes Rurais, organização nacional instalada na zona rural do Rio de
Janeiro que atua promovendo o protagonismo feminino e práticas.


“A grande questão do porque continuamos a fazer o que fazemos,
apesar de tudo, é a vontade de sermos os protagonistas das
nossas histórias, de controlarmos nossas narrativas e de termos
voz.” | João Souza, FA.VELA


“As histórias acabam se cruzando de alguma forma. A influência da família está
sempre presente na lógica do empreender, quando criança. Tem a história de
ajudar a mãe no sacolão em que a gente sabe que está ajudando no sustento da família. A grande questão do porque continuamos a fazer o que fazemos, apesar
de tudo, é a vontade de sermos os protagonistas das nossas histórias, de
controlarmos nossas narrativas e de termos voz’”, argumenta João Souza,
empreendedor social reconhecido pela rede global Ashoka. João é cofundador e
head de Futuros Inclusivos do FA.VELA, plataforma de inovação social no campo
de pesquisa e design de projetos nas áreas de educação, transformação digital
inclusiva, impacto social e diversidade.

Claudio Nascimento se considera um empreendedor nato, pois desde criança
trocava figurinhas e bolas de gude, em verdadeiras operações de escambo.
“Quando ouço falar de startups, adoro essas tecnologias apropriadas. Pior só falar
brainstorming, que no Nordeste é conhecido como toró de palpite. Como o inglês
já é excludente”, afirma Nascimento. Há uma década trabalhando com políticas
públicas para o desenvolvimento social e cultural, Claudio articula ações em prol
do desenvolvimento econômico social e cultural em Olinda, Recife e na Amazônia
com o foco nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Aprendizados

Entre os aprendizados do dia, ficaram:

  • Que tal valorizar o que já temos?
  • Cultivar a memória e as redes
  • Nada construímos sozinhos
  • O que vai perpetuar no pós-pandemia são as relações mais sinceras
  • Olhar para nossas origens

Os encontros do 3º Fórum seguem ainda nos dias 18, 25 e 26 de agosto.
Para se inscrever, clique aqui.

Veja o que vem pela frente na programação:

Dia 18 de agosto, das 15h às 16h30
Energias renováveis, gambiarras, tecnologias e inovações socioambientais criadas nas
quebras. O que está sendo feito para combater a Covid-19?

Convidados:
Fabio Miranda – Favela da Paz
Thiago Vinícius – Agência Solano Trindade
Adélia Rodrigues – Gastronomia Periférica
Mediadora: Fabiana Ivo

Dia 25 de agosto, das 15h às 16h30
Tecnologia, Internet e Vendas, quais os cuidados para não ser um falso positivo. Como
escalar e vender no E-commerce?

Convidados:
Carlos Alberto Silva – We Use
Carlos Humberto – Diáspora Black
Débora Luz – Clube da Preta
Mediadora: Sauanne – Fundação Tide Setubal

Dia 26 agosto, das 15h às 16h30
Representatividade, Inspiração e Luta!

Convidados:
Ana Fontes – Rede Mulher Empreendedora
Fióti – Laboratório Fantasma
Sérgio Vaz – Poeta e Agitador Cultural
Mediadores: Fabiana Ivo e Dj Bola