Mudar a natureza da competitividade representa um desafio para o futuro da economia global

O estudo anual do Fórum Econômico Mundial sobre a economia global revela um cenário de competitividade radicalmente alterado pelo impacto da Quarta Revolução Industrial.

– Sob a nova estrutura da competitividade, a economia dos Estados Unidos é a mais próxima da “fronteira da competitividade”, seguida por Cingapura, Alemanha, Suíça e Japão.

– O Brasil ficou em 72º lugar, com queda de três posições em relação ao estudo anterior, em razão do excesso de regulações e por ser um dos menos preparados para a Quarta Revolução Industrial.

– A nova metodologia para o Relatório Global de Competitividade também oferece insights sobre o preparo das economias para o futuro, o capital social, dotação de negócios disruptivos e preocupações com dívidas, entre outros indicadores.

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A natureza mutável da competitividade econômica em um mundo que está se tornando cada vez mais transformado por novas tecnologias digitais está criando um novo conjunto de desafios para governos e empresas, que coletivamente correm o risco de ter um impacto negativo no crescimento e produtividade futuros. Esta é principal conclusão do Relatório de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, publicado hoje.

De acordo com o relatório, que em 2018 usa nova metodologia para capturar plenamente a dinâmica da economia global na Quarta Revolução Industrial, muitos dos fatores que terão o maior impacto na condução da competitividade no futuro nunca foram o foco de decisões políticas importantes no passado. Isso inclui a geração de ideias, cultura empreendedora, abertura e agilidade.

A nova ferramenta mapeia o cenário da competitividade de 140 economias por meio de 98 indicadores organizados em 12 pilares. Para cada indicador, usando uma escala de 0 a 100, a nova ferramenta indica quão próxima uma economia está do estado ideal ou da “fronteira” de competitividade. Quando estes fatores são combinados, os Estados Unidos alcançam o melhor desempenho geral, com uma pontuação de 85.6, à frente de Cingapura e da Alemanha. A média da pontuação mundial é de 60, 40 pontos distante da fronteira.

Um tema unificador entre as economias mais competitivas do mundo é o de que todas elas possuem espaço considerável para melhorias. Por exemplo, embora o Índice de Competitividade Global mostre que Cingapura é a economia mais ‘preparada para o futuro’, ela fica atrás da Suécia quando se fala em ter uma força de trabalho especializada no campo digital. Enquanto isso, a Suíça tem o trabalho mais efetivo, em matéria de políticas de requalificação e reciclagem, e as empresas norte-americanas são as mais rápidas quando se trata de aderir às mudanças.

Uma das conclusões mais preocupantes do relatório é a fraqueza relativa da maioria dos países na dominação do processo de inovação desde a construção da ideia à comercialização do produto. Nesse aspecto, 103 países alcançam uma pontuação abaixo de 50 e, nesta área, a Alemanha está em primeiro, seguida pelos Estados Unidos e pela Suíça. O relatório descobre que a atitude frente ao risco empreendedor é a mais positiva em Israel e tende a ser negativa em várias economias do Leste Asiático. O Canadá tem a mais diversa força de trabalho e a cultura corporativa da Dinamarca é a menos hierárquica, ambos fatores críticos para a condução da inovação.

“Incorporar a Quarta Revolução Industrial tornou-se um fator definidor para a competitividade. Com este relatório, o Fórum Econômico Mundial propõe uma abordagem para avaliar quão bem os países estão se saindo em relação a este novo critério. Prevejo uma nova divisão global entre países que entendem as transformações inovadoras e os que não o fazem. Apenas as economias que reconhecerem a importância da Quarta Revolução Industrial serão capazes de expandir as oportunidades para as suas populações”, disse Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial.

A abertura deve ser complementada pela inclusão

Em um tempo de agravamento das tensões nas relações comerciais e de retrocesso contra a globalização, o relatório também revela a importância da abertura para a competitividade. Por exemplo, as economias que têm bom desempenho nos indicadores que denotam a abertura, tais como tarifas reduzidas ou barreiras não-tarifárias, facilidade de contratar mão de obra estrangeira e colaboração na aplicação de patentes, entre outros, também tendem a ter bom desempenho em termos de inovação e eficiência de mercado. Esses dados sugerem que a saúde econômica global poderia ser positivamente impactada pelo  retorno a uma maior abertura e integração. No entanto, é fundamental que sejam implementadas políticas para melhorar as condições dos afetados adversamente pela globalização nos países.

O relatório também apresenta um forte argumento de que políticas de redistribuição, redes de segurança, investimentos em capital humano, assim como taxações mais progressivas para lidar com a desigualdade não precisam comprometer o nível de competitividade da economia. Sem um trade-off inerente entre a competitividade e a inclusão, é possível ser a favor do crescimento e ser inclusivo ao mesmo tempo. Por exemplo, trabalhadores das dez economias mais competitivas do Índice, trabalham em média cinco horas a menos por semana do que trabalhadores de três economias do BRICS – Brasil, Índia e Rússia – para as quais os dados do tempo de trabalho estão disponíveis.

Uma mensagem fundamental do relatório é a necessidade de uma abordagem abrangente para aumentar a competitividade – um desempenho forte em uma área não pode compensar um desempenho fraco em outra. Isso é especialmente verdadeiro quando se trata de inovação: embora seja verdade que um grande foco na tecnologia possa proporcionar um aumento grande nas oportunidades de saltos para países de baixa e média renda, os governos não devem perder de vista ‘velhas’ questões desenvolvimentistas, tais como governança, infraestrutura e habilidades. Neste contexto, um fator preocupante levantado pelo índice deste ano é o fato de que, para 117 das 140 economias pesquisadas, a qualidade das instituições permanece um empecilho à competitividade global.

“A competitividade não é uma competição nem um jogo soma zero — todos os países podem se tornar mais prósperos. Com oportunidades para saltos econômicos, difusão de ideias inovadoras além das fronteiras e novas formas de criação de valor, a Quarta Revolução Industrial pode nivelar os campos de jogo de todas as economias. Mas a tecnologia não é fórmula mágica em si. Países precisam investir em pessoas e instituições para cumprir a promessa da tecnologia”, disse Saadia Zahidi, Membro do Conselho de Administração e Chefe do Centro da Nova Economia e Sociedade.

Destaques regionais e entre países

Com uma pontuação de 85.6 de 100 possíveis, os Estados Unidos são o país mais perto da fronteira da competitividade. Esse país lidera notavelmente o pilar do dinamismo de negócios, graças à sua vibrante cultura empreendedora, o pilar do mercado de trabalho (pontuação de 81.9 de 100 possíveis) e o pilar do sistema financeiro (92.1). Estes estão entre os vários fatores que contribuem para fazer do ecossistema de inovação dos EUA um dos melhores do mundo (86.5, 2º atrás da Alemanha). O sistema institucional do país também permanece relativamente saudável (74.6, 13º). No entanto, há indicações de uma estrutura de enfraquecimento social (63.3, abaixo dos 65.5) e uma piora na situação de segurança (79.1, 56º) — os Estados Unidos têm uma taxa de homicídio que é cinco vezes maior que a média das economias avançadas. Está longe da fronteira em áreas como controle e equilíbrio (76.3, 40º), independência judicial (79.0, 15º) e corrupção (75.0, 16º). O país também fica para trás de muitas economias avançadas no que diz respeito ao pilar da Saúde, com uma expectativa de vida saudável de 67.7 anos (46º), três anos abaixo da média das economias avançadas, e seis anos menos que Cingapura e Japão. Enfim, a adoção da Tecnologia em Informação e Comunicação é relativamente baixa se comparada com a de outras economias avançadas, incluindo aspectos tais como subscrições de banda larga para celulares e usuários de internet. Com uma pontuação de 71.2, os Estados Unidos estão 20 pontos atrás da Coreia.

Além dos Estados Unidos, outras economias do G20 estão no top 10, incluindo a Alemanha (3ª, 82.8), o Japão (5ª, 82.4) e o Reino Unido (8ª, 82.0). Os resultados do G20 são altamente diversos. Quase 30 pontos e 80 posições separam os Estados Unidos da Argentina (81ª, 57.5), a economia com pior desempenho no G20.

Cingapura está em segundo nos rankings globais (pontuação de 83.5), tendo a abertura como característica marcante deste centro global de negócios e sendo um dos principais condutores de seu sucesso econômico. O país também lidera o pilar da infraestrutura, com uma pontuação quase perfeita de 95.7, graças à sua infraestrutura de transporte de primeira classe e à conectividade.

Além da Cingapura e do Japão, Hong Kong (7º, 82.3) aparece como a terceira economia da Ásia Oriental e da região do Pacífico entre as dez melhores, confirmando a opinião generalizada de que a dinâmica do crescimento global na região durará. Estas três economias ostentam infraestrutura física e digital e conectividade de classe mundial, estabilidade macroeconômica, forte capital humano e sistemas financeiros bem desenvolvidos. A Austrália (14º, 78.9) e a Coreia (15º, 78.8) estão entre as 20 melhores. A grande lacuna nesta região reside no desenvolvimento de um ecossistema de inovação — A Nova Zelândia ocupa o 20º lugar no pilar da capacidade de inovação, enquanto a República da Coreia ocupa o 8º. Mercados emergentes tais como a Mongólia (99º, 52.7), o Camboja (110º, 50.2) e a República Democrática Popular do Laos (112º, 49.3) estão apenas a meio caminho da fronteira, tornando-as vulneráveis a um choque repentino, tal como uma alta inesperada nas taxas de juros em economias avançadas e tensão nas relações comerciais ascendentes.

Do grupo de grandes mercados emergentes do BRICS, a China é o mais competitivo, ocupando o 28º lugar no Índice de Competitividade Global com uma pontuação de 72.6. Seguida pela Rússia, que ocupa a 43ª posição. Estes são os dois únicos entre os 50 melhores. Depois vem a Índia, que ocupa o 58º lugar, subindo 5 posições em 2017: com uma pontuação de 62, registra o maior ganho de qualquer país no G20. A Índia é seguida pela África do Sul que caiu 5 posições neste ano para 67. Por último está o Brasil, que caiu 3 posições, indo para 72º.

A Europa é constituída por um noroeste muito competitivo, um sudoeste relativamente competitivo, uma ascendente região nordeste e um defasado sudeste. Apesar da contínua fragilidade de recentes mudanças políticas, os fatores de competitividade básicos do continente, tais como saúde, educação, infraestrutura e habilidades, estão firmes. A Suécia (9ª, 81.7) é a mais bem colocada das economias nórdicas, enquanto a França (17ª, 78.0) está entre as 20 melhores. As maiores discrepâncias na região residem nos ecossistemas de inovação nacional, com países na Europa Oriental e nos Balcãs carecendo de inovação em infraestrutura básica, enquanto países tais como a Alemanha e a Suíça estabelecem os padrões globais de inovação.

O Chile (33º, 70.3) lidera a América Latina e a região do Caribe com uma margem ampla, à frente do México (46º, 64.6) e do Uruguai (53º, 62.7). A Venezuela (127º, 43.2) e o Haiti (138º, 36.5) fecham a marcha. A competitividade da região permanece frágil e poderia ser mais comprometida por um grande número de fatores, inclusive o risco crescente do protecionismo comercial nos Estados Unidos; a repercussão da crise econômica e humanitária da Venezuela; a incerteza política das eleições nas maiores economias da região e perturbações causadas por desastres naturais ameaçando o Caribe. A insegurança e as fracas instituições são dois dos maiores desafios para muitos países.

O desempenho da competitividade no Oriente Médio e na África do Norte é muito diversificado, com Israel (20º, 76.6) e os Emirados Árabes Unidos (27º, 73.4) tomando a dianteira na região. A Arábia Saudita está na 39ª posição com uma pontuação de 67.5 de 100 possíveis. Um enfoque na conectividade dentro da região, combinado com melhorias na disponibilidade da Tecnologia da Informação e Comunicação e no investimento em capital humano melhorariam a capacidade da região para inovar, fomentar o dinamismo dos negócios e o aumento no desempenho de sua competitividade.

Dezessete das 34 economias africanas subsaarianas estudadas estão entre as 20 últimas, e a média da região (45.2) é menos da metade da fronteira. As Ilhas Maurício (49ª, 63.7) lideram a região, à frente da África do Sul, e está quase 30 pontos e 91 posições à frente de Chade (140º, 35.5). O Quênia está na 93ª posição com uma pontuação de 53.7, enquanto a Nigéria está na 115ª posição, com uma pontuação de 47.5 de 100 possíveis.

Sobre a metodologia Ranking de Competitividade Global 4.0

Construído com base em quatro décadas de experiência em benchmarking de competitividade, o Ranking de Competitividade Global 4.0 do Fórum Econômico Mundial é um novo indicador composto que avalia o conjunto de fatores que determinam um nível econômico de produtividade — amplamente considerado o mais importante determinante de crescimento em longo prazo. O sistema RCG 4.0 está construído em torno de 12 principais condutores de produtividade. Estes pilares são: Instituições, Infraestrutura; Disponibilidade tecnológica; Contexto macroeconômico; Saúde; Educação e habilidades; Mercado de produtos; Mercado de trabalho; Sistema financeiro; Tamanho do mercado; Dinamismo empresarial; e Inovação. Eles compreendem 98 indicadores individuais.

Centro para a Nova Economia e Sociedade

O Relatório faz parte do Centro para a Nova Economia e Sociedade do Fórum Econômico Mundial, que visa a construir economias dinâmicas e inclusivas em uma era de mudanças políticas e tecnológicas aceleradas, fornecendo aos líderes uma plataforma para entender e antecipar tendências sociais e econômicas emergentes e adaptar políticas e práticas ao nosso contexto em rápida evolução. Uma significativa porção do trabalho do Centro se concentra em moldar sistemas para fomentar o crescimento e a inclusão, incluindo um acelerador para política industrial e competitividade na Quarta Revolução Industrial. O Centro também está apoiando economias desenvolvidas e emergentes a estabelecerem colaborações público-privadas para eliminar carência de qualificações e preparar para o futuro do trabalho como parte da ordem do dia de seu capital humano. Finalmente, o Centro atua como um banco de ensaio para explorar contornos da nova economia e fazê-los surgir, inclusive repensando o valor econômico, as estratégias de investimento para a criação de empregos, os novos princípios para uma economia com mais contratos de trabalho de curto prazo ou freelance, em oposição a empregos permanentes, e novas redes de segurança.