Mapa da Desigualdade revela as discrepâncias sociais da cidade de São Paulo

Morador de Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo, vive 22 anos a menos, em média, do que quem mora no Alto de Pinheiros (Foto TV Globo/Reprodução)

O Mapa da Desigualdade 2021, da Rede Nossa São Paulo, revela os contrastes que marcam a população da cidade considerada a mais rica do país

Os moradores de bairros nobres da cidade de São Paulo vivem, em média, 22 anos a mais do que os moradores da periferia. Um morador do Alto de Pinheiros, na zona oeste, por exemplo, tem uma expectativa de vida média de 80,9 anos. Já na Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista, a média cai para 58,3 anos. Esta é apenas uma das tristes realidades da cidade de São Paulo, considerada a mais rica do país, reveladas pelo Mapa da Desigualdade 2021, da Rede Nossa São Paulo (RNSP), divulgado em outubro.

Realizado anualmente desde 2012, o levantamento traz dados sobre 96 distritos da cidade de São Paulo, com aspectos de população, habitação, meio ambiente, educação, saúde, cultura, trabalho e renda. Por que falar em desigualdade? Os autores respondem à questão logo no início do trabalho. Entre outros fatores, porque o Brasil é o nono país mais desigual do mundo – 1% da população mais rica detém quase um terço da renda total do país. O texto afirma que “A pandemia acentuou as desigualdades estruturantes, como em outras crises, reforçando custos ambientais, sociais e econômicos. O combate às desigualdades não avança na proporção de sua importância. É fundamental que o poder público esteja comprometido com a redução das desigualdades”.

A Rede Nossa São Paulo é uma organização que tem por missão mobilizar segmentos da sociedade para, em parceria com instituições públicas e privadas, articular e processar ações de combate à desigualdade, pela promoção dos direitos humanos e pela transparência e respeito ao meio ambiente. Fundada em 2007, a RNSP atua em diversos segmentos da cidade na construção de uma agenda que contribui para a gestão e planejamento municipal e identifica prioridades e necessidades da população em seus distritos.

A idade média de vida da cidade é de 68,2 anos, bem acima do identificado em quebradas como Anhanguera (58,6), Parelheiros (59,2), Iguatemi (60,1), São Rafael (60,3) e Grajaú (60,4). No que se refere à Covid-19, o estudo demonstrou que, considerando só os casos mais graves, que levam à internação, praticamente dobra a chance de morte para quem vive nos bairros mais pobres, independente da cor. Entre janeiro e julho de 2021, Perus, na Zona Norte, concentrou 63,8% das internações em UTI que foram a óbito, o maior número da cidade. O bairro de Cidade Tiradentes, no extremo da Zona Leste, teve 35,2% de mortes por Covid após internação, enquanto o Morumbi, na Zona Sul, registrou 14,7%, uma diferença de 2,4 vezes.

O Mapa da Desigualdade também mostra que os negros morreram mais de Covid-19 do que os brancos. O bairro do Itaim Bibi, por exemplo, na Zona Sul de São Paulo, registrou 1,7 vez mais mortes de Covid-19 de negros do que de brancos. De um modo geral, entre a população negra, 47,6% das mortes ocorreram por causa da Covid-19; entre a população branca, foram 28,1%.

A desigualdade nos serviços de saúde também é grande. A Rede Nossa São Paulo analisou a distribuição de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) a cada 100 mil habitantes por subprefeitura. A cidade possui 32 subprefeituras. O número de leitos de UTI a cada 100 mil habitantes aumentou quase sete vezes na capital, em todas as regiões, passando de 10,3 leitos em 2020 para 71,4 neste ano. No entanto, a desigualdade persiste na distribuição dos leitos, que ficou praticamente no mesmo patamar de 2020. No ano passado, a subprefeitura de Pinheiros, bairro de classe média alta da Zona Oeste, concentrava 65,2 vezes mais leitos a cada 100 mil habitantes que o bairro de São Miguel, no extremo Zona Leste. No primeiro, eram quase 124 leitos de UTI para cada 100 mil habitantes, enquanto no segundo, eram menos de 2.

Os piores bairros

Entre os dez bairros com os piores índices de educação, saúde, habitação e mobilidade da cidade, sete estão localizados na periferia: Iguatemi, Parelheiros, Jardim Ângela, Brasilândia, Marsilac, Perus e Lajeado. Nestas áreas a habitação é mais precária, saúde e educação têm menos qualidade e a infraestrutura de água e esgotamento sanitário é de menor qualidade. Os sete melhores bairros são Moema, República, Vila Mariana, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Pinheiros e Santo Amaro.

As franjas da maior cidade do país são ocupadas por favelas. Enquanto 9,5% da população da cidade vive em favelas, no Jardim São Luís esse índice atinge 68,8%. As periferias de São Paulo são mais negras e mais jovens do que a média da população da maior cidade do País e têm mais pessoas dividindo a mesma casa que nos bairros centrais e mais ricos. A média é de 3,3 pessoas no mesmo domicílio no Jardim Helena (Zona Leste), por exemplo, contra 2 pessoas em média na Consolação (Centro).

Com 390 mil habitantes, o Grajaú (Extremo Sul) continua sendo o distrito mais populoso da cidade e é o segundo mais negro, com 56,8% da população autodeclarada preta ou parda, que também é maioria em Parelheiros (56,6%), Lajeado (56,2%), Cidade Tiradentes (56,1%), Itaim Paulista (54,8%), Jardim Helena (54,7%), Capão Redondo (53,9%), Pedreira (52,4%) e Guaianases (51,5%).

Metade da população de Parelheiros tem até 29 anos – e 11,8% têm até 6 anos, apenas. Na média da cidade, 40,3% da população é jovem, mas esse número é maior em 41 distritos. Cidade Tiradentes (49,1%), Iguatemi (48,7%), Lajeado e Jardim Ângela (48,4%), Grajaú (47,8%), Jardim Helena (47,7%), Perus e Brasilândia (47,6%) e Anhanguera (47,2%) têm a maior concentração.

A oferta de emprego formal é maior no Centro: a Sé tem 112 vagas com carteira assinada para cada 10 habitantes do distrito, contra 0,4 vagas por 10 habitantes em Iguatemi (Zona Leste). Isso significa que um contingente maior de pessoas precisa se deslocar diariamente para conseguir trabalhar em um emprego formal, e estão mais distantes de postos de trabalho formal.

Veja aqui a íntegra do Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo.

Negócios de impacto social

Com a Covid-19, indicadores sociais e econômicos e as desigualdades sociais, que já eram gritantes, tornaram-se ainda mais evidentes. Com 2.037 empreendimentos em ação em 2020 (segundo mapa da Pipe.Social), 24 produtos financeiros de impacto socioambiental (segundo a Aliança pelo Impacto) e um mercado de investimentos de impacto que já chega a R$ 5 bilhões (dados da ANDE), o ecossistema de investimentos e negócios de impacto tem maturidade suficiente para ajudar na reconstrução de um país com menos desigualdades, agindo para que o impacto positivo esteja no centro da tomada de todas as decisões.