Fórum sobre negócios de impacto gera investimentos de mais de R$ 1 milhão em startups amazônicas

Encauchados de Vegetais da Amazônia, Manioca, Ração+ e Peabiru Produtos da Floresta – quatro pequenos negócios sustentáveis com base na Amazônia – foram selecionados entre os 81 projetos inscritos na Chamada de Negócios.

O 1º Fórum de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia (FIINSA), realizado nos dias 13 e 14 de novembro em Manaus (AM), reuniu cerca de 290 pessoas de diversas cidades da Amazônia para debater investimentos em negócios de impacto na região. Foi o primeiro evento do tipo, que possibilitou conexões e fechamento de negócios entre os atores desse ecossistema e inspirou a construção de uma agenda permanente de eventos e encontros que possam ajudar a desenvolver ainda mais esse campo na região.

Foi um encontro de empreendedores, investidores, aceleradoras, incubadoras, empresas, institutos, fundações e academia, todos com o mesmo propósito de fomentar e alavancar negócios focados na valorização e na conservação da biodiversidade, envolver comunidades tradicionais e buscar novos paradigmas para o desenvolvimento territorial sustentável. “A realização de um evento como o FIINSA em Manaus é muito importante porque normalmente os eventos dessa natureza são realizados na região Sudeste, ou em Brasília. Esse fórum abre uma agenda que deve se tornar cada vez mais perene e contribuir mais e mais para que investimentos de impacto e negócios sustentáveis tenham condições de se desenvolver na Amazônia”, afirma Mariano Cenamo, coordenador geral do Fórum.

Mariano Cenamo, pesquisador do Idesam e coordenador do FIINSA

A agenda do evento incluiu a apresentação dos 15 projetos finalistas, selecionados entre os 81 inscritos na 1ª Chamada de Negócios, realizada pela Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) e coordenada pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), em parceria com a USAID (US Agency for International Development) e CIAT (International Center for Tropical Agriculture). Entre as selecionadas estão startups, negócios de base comunitária e empresas que desenvolvem negócios de impacto voltados à conservação da floresta e ao desenvolvimento socioambiental.

As startups Encauchados de Vegetais da Amazônia, Manioca, Peabiru Produtos da Floresta e Ração+, negócios selecionados em estágio mais avançado de desenvolvimento, que buscam investimentos para expansão e ganho de escala, participaram da Rodada de Investimentos, com pitches de cinco minutos cada um, para apresentar seus negócios a investidores e concorrer a aportes financeiros. A banca de investidores foi formada por representantes das organizações SITAWI, NESst, Conexus, Bemol e PPA, que vão desembolsar R$ 1,1 milhão. Além de apresentar seus negócios “ao vivo”, os empreendedores tiveram que responder aos questionamentos dos “sharks” (tubarões), que foram bem detalhistas – queriam saber de planos de crescimento a como iriam aumentar seu impacto socioambiental. Outros quatro negócios que se destacaram na Chamada foram reconhecidos com o Prêmio PPA, com investimento de R$ 60 mil: Sustente, Onisafra, Da Tribu e Broto.

Aprendizado

A programação do Fórum incluiu vários painéis que mostraram um panorama do tema negócios de impacto no mundo e no Brasil, o desafio de trazer mais capital para a região amazônica, as diversas cadeias de negócios que precisam de apoio como a economia da floresta, reservas extrativistas e agropecuária, além de temas como mensuração do impacto, mudanças climáticas e outros. “Existe muita coisa na Amazônia, doações de filantropia, projetos de fundações e, mesmo nas cadeias produtivas das empresas já existe espaço para negócios de impacto. O Fórum levantou uma agenda que vai complementar o ecossistema atual. Olhar para o uso da floresta em pé com o viés de negócio de impacto é uma estratégia de desenvolvimento sustentável e de conservação, porque empodera as comunidades, gera renda, traz educação e capacita”, comenta Mariana Pavan, coordenadora executiva do Idesam.

Dentre os desafios apontados, estão:

  • a pouca disponibilidade de capital de impacto;
  • a necessidade de políticas públicas que atendam às necessidades das comunidades produtivas da região;
  • a qualificação associada a pesquisa e desenvolvimento;
  • necessidade de ampliar iniciativas de incubação e aceleração de negócios;
  • necessidade de maior conexão entre os atores do ecossistema;
  • logística e infraestrutura;
  • violência no campo;
  • necessidade de mudança da cultura empreendedora em relação à pecuária e madeira;
  • alavancar mais negócios na chamada “Amazônia profunda” com mais envolvimento das comunidades tradicionais.

As oportunidades incluem:

  • público crescente disposto a consumir produtos com a marca Amazônia e ligados à sociobiodiversidade, e conservação da biodiversidade;
  • novos recursos e modelos de financiamento chegando;
  • uma nova geração que assume os negócios com olhar mais apurado para estas questões e aberta a mudar.

Também durante o FIINSA foi lançado o estudo Investimento de Impacto na Amazônia – Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável, produzido pela SITAWI Finanças do Bem, que buscou identificar mecanismos de investimento, tipos de empreendimento, cadeias de valor, obstáculos e oportunidades ao investimento na região.

Negócios vencedores

Manioca

Indústria gastronômica criada em 2014 baseada em três ideias: uso de ingredientes da Amazônia, produtos 100% naturais e promoção do comércio justo com produtores, comunidades, cozinheiros e todos que são a base da culinária paraense. Produtos: geleias de pimenta de cheiro, de priprioca e de taperebá; doce de cupuaçu; molho de tucupi preto e o tucupi temperado; licor de flor de jambu e feijão manteiguinha, entre outros itens que são beneficiados e comercializados. Os recursos obtidos serão empregados em capital de giro, plano de comunicação, marketing e expansão do mercado.

Peabiru Produtos da Floresta

Compra mel e colmeias de agricultores familiares, cuidando da logística, beneficiamento, Selo de Inspeção Federal (SIF), venda e pós-venda. Ao mesmo tempo, proporciona renda a agricultores familiares, indígenas, quilombolas e povos tradicionais da Amazônia. Promove polinização agroflorestal, restauração ecológica e diminuição do desmatamento. O negócio é um spin-off do Instituto Peabiru, cuja atuação em uma década possibilitou, pela primeira vez, uma cadeia comercial, legalizada e regulamentada, de mel de abelhas sem ferrão na Amazônia. A empresa é hoje a única no Brasil com SIF para a comercialização regular desse produto, que é o único que pode ser exportado. Os recursos obtidos serão utilizados para comercializar cinco tipos de produtos da Amazônia: mel de abelhas, cacau, óleos da Amazônia, farinhas e feijão.

Encauchados de Vegetais da Amazônia

Promove a revitalização da borracha amazônica, gerando renda com inclusão e sem desmatamento, resgatando ao mesmo tempo a identidade seringueira. A iniciativa promove o desenvolvimento e a reaplicação de tecnologia social que transforma o látex nativo em produtos de mercado, permitindo autonomia e autogestão em unidades de produção familiares sustentáveis, envolvendo povos indígenas, seringueiros, ribeirinhos, quilombolas e assentados da reforma agrária. Os recursos serão empregados na ampliação da indústria e implantação de unidades financeiras de produção controladas, promovendo extrativismo sustentável.

Ração +

Cria rações usando resíduos de frutos e outros alimentos da região, que seriam descartados como lixo, e ajuda a triplicar a produção local de peixes a um custo mais reduzido para os pequenos produtores. A ração é vendida a um valor até 20% mais barato do que no mercado. Os recursos investidos serão usados para aquisição de maquinário, instalações, capital de giro e regularização jurídica e ambiental.