Encontro Quintessa apresenta visão de investidores sobre o setor 2.5  

Luciano Gurgel, da Yunus; Bruna Constantino, da Positive Ventures; Gilberto Ribeiro, da Vox Capital; e Gabriela Bonotti, do Quintessa (da esq para a dir.)

No terceiro encontro da série Impacto e retorno financeiro, o Quintessa realizou um painel com investidores com o objetivo de auxiliar o empreendedor na captação de investimentos. Vox Capital, Positive Ventures e Yunus Negócios Sociais explicaram critérios de seleção, lógica de captação, base do capital e saída do investimento.   

Que fatores os investidores levam em conta no momento de alocar recursos para negócios de impacto social e ambiental, o chamado setor 2.5? Foco, nível de maturidade do negócio, potencial de causar impacto social ou de ser escalável estão no radar, mas seja qual for o modelo – crédito, microcrédito, equity – é importante ressaltar que o investidor investe especialmente em pessoas. Para explorar essas questões ligadas a investimentos, a aceleradora Quintessa realizou mais um encontro da série Impacto e retorno financeiro: histórias que só o Quintessa pode contar, no dia 28 de novembro, na Unibes Cultural, em São Paulo (SP). O painel contou com a participação de Bruna Constantino, cofundadora da Positive Ventures; Gilberto Ribeiro, sócio da Vox Capital (especialista em venture capital); e Luciano Gurgel, diretor da área de microcrédito da Yunus Negócios Sociais.

“O objetivo do terceiro encontro foi auxiliar o empreendedor que vai fazer uma captação de investimento, tanto para ele entender se é o momento certo quanto para que possa se preparar para essa decisão”, diz Gabriela Bonotti, diretora do Quintessa, que fez a mediação do painel. A série de encontros foi lançada em agosto, com o tema “Negócios de impacto: soluções escaláveis para grandes desafios socioambientais”. Em setembro, o segundo encontro abordou “Impacto e retorno financeiro com novas tecnologias”. Todos os negócios apresentados nos dois encontros foram acelerados pelo Quintessa.

Bruna Constantino, da Positive Ventures

O Quintessa é uma aceleradora de negócios de impacto com foco em estruturar a gestão, impulsionar o crescimento e captar investimentos para as empresas que estão ajudando a resolver os desafios sociais e ambientais. A ideia dessa série de encontros é compartilhar a vivência e o aprendizado vivenciado com os empreendedores. Nesses anos todos, o Quintessa apoiou mais de 60 negócios, que impactaram mais de 6 milhões de pessoas.


 O capital privado será cada vez mais importante para buscar soluções escaláveis para problemas sociais e ambientais


Representantes de empresas de serviços financeiros engajadas com o tema negócios de impacto socioambiental, os painelistas destacaram que a relação entre investidores e empreendedores é muito próxima, passa por várias fases e tem uma dinâmica de interação peculiar. A análise para a tomada de decisão passa pelo perfil do empreendedor, sua capacidade de resiliência, a robustez do modelo de negócio, o impacto social e a replicabilidade.

“A Positive Ventures é uma empresa jovem e segue o modelo tradicional de venture capital. Procuramos investir em negócios que estejam na fase inicial e alinhados com os ODS da ONU e com os nossos valores. Olhamos para o que o empreendedor quer resolver e o quão relevante é. O capital privado será cada vez mais importante para enfrentar essa agenda e buscar soluções escaláveis para problemas sociais e ambientais”, comenta Bruna Constantino.


 Na Vox, os critérios de seleção incluem o foco do empreendedor e sua paixão pela causa.


 

Na Vox, os critérios de seleção incluem o foco do empreendedor e sua paixão pela causa. “Empreender é um ato solitário e exige uma inteligência emocional muito grande. Os desafios são constantes e se o empreendedor não tem uma conexão real com o negócio, a chance de a pessoa desistir é alta. Contam também o nível de conhecimento sobre o mercado e a capacidade de liderar e mobilizar pessoas”, afirma Gilberto Ribeiro.

Para a Yunus Negócios Sociais, o ponto de partida é o impacto social que o empreendedor pretende gerar na sociedade. Em relação à maturidade do negócio, Luciano Gurgel observou que existe um caminho natural para qualquer empreendimento, inclusive os tradicionais. “Os negócios nascem de uma ideia e de alguém que acredite nela e que faça um investimento semente. Depois, é provável que a ideia passe por um investidor anjo. Lá na frente, quando houver estabilidade financeira, abre a possibilidade do empreendedor tomar dívida. Não existe dinheiro certo ou dinheiro errado. Existe o dinheiro apropriado para cada fase de vida daquele empreendimento. É importante saber quais são as peças que se encaixam em cada ciclo. Quando o empreendedor toma dívida, ele tem que saber de onde o recurso virá, uma previsão de geração de caixa”, destacou Luciano.

Gilberto Ribeiro, da Vox Capital

Gilberto lembrou que ninguém trabalha com recursos próprios, mas sim com recursos de terceiros. A função do gestor é buscar o melhor retorno para cada unidade de risco que é assumido. E quais são os fatores de potencial de risco? O perfil do empreendedor, o modelo de negócio, o impacto e o mercado. “Sabemos que nenhum negócio está 100% pronto. Há vários fatores que influenciam o desempenho e o gestor tem que decidir se vale o risco ou não. No caso da Vox, preferimos que o dinheiro seja usado para fazer a empresa crescer, ao invés de ser usado para corrigir algum problema. O nosso fundo é mais voltado para tração e escala”, aponta Gilberto.

Luciano Gurgel, da Yunus Negócios Sociais

 Saída do investidor

Outro tema colocado em debate por Gabriela Bonotti foi a lógica de captação. Destacou que, às vezes, o empreendedor não imagina que o investidor vá vender a sua participação no futuro por não entender claramente a lógica de funcionamento dos fundos.

“Captação de investimento vai muito além de colocar dinheiro no negócio. No caso da Vox e da Positive, significa trazer um sócio. No caso da Yunus, um credor, que não está só preocupado com o retorno do dinheiro, mas sim com o impacto. Sempre é uma relação de longo prazo. O empreendedor precisa avaliar se quer mesmo esse tipo de dinheiro. Pela nossa lógica de funcionamento, os fundos da Vox têm normalmente 10 anos de prazo, o que significa que a gente vai ficar, em média, como sócio da empresa de cinco a sete anos. O fundo ganha dinheiro quando vende a participação valorizada naquela empresa. Por isso, buscamos investir em negócios que, depois desse prazo, possam ser comprados por fundos maiores ou para outras empresas do setor e que tenham interesse em incorporar a tecnologia ou o mercado”, explicou Gilberto.

Os fundos da Positive também vão de 8 a 10 anos, e são formados por capital de terceiros. “É um capital de risco, mas também um capital paciente. Temos o dever de dar retorno, fazer funcionar.  Nosso tíquete é menor, de R$ 1 milhão a R$ 3 milhões, e começamos a pensar na saída um pouco antes do usual. Por isso, é importante o alinhamento com o empreendedor. Nós não estamos inventando a roda, mas estamos inovando por incorporar o impacto”, explicou Bruna.

O Yunus surgiu na década de 1970 e foi pioneiro no conceito de microcrédito. “Gosto de fazer um paralelo com a Casas Bahia, que faz microcrédito, só que microcrédito de consumo. O Yunus faz crédito de investimento para pequenos negócios. O que fazemos é capital paciente, diferente do que praticam a Vox e a Positive que atuam com equity. São duas modalidades de dinheiro. O nosso recurso é para ser emprestado, não adquire participação societária da empresa. Tem que ter uma fonte de re-pagamento. Portanto, as empresas que nós apoiamos precisam já ter chegado no break even econômico porque assim elas conseguem gerar caixa para saldar o recurso emprestado. O nosso processo não tem saída, mas é cheio de desafios. Temos que acompanhar o empreendedor que se torna um parceiro”, destacou Luciano.

Base do capital

No caso da Vox, um terço da base de capital vem de investidores institucionais, agências de fomento. Um outro terço vem de pessoas de alta renda que estão conectadas com causas e que têm compreensão desse tipo de investimento. O restante vem de institutos e fundações empresariais. “É uma base de ativos muito arriscada. São 10 anos de prazo e muita pressão de retorno”, comenta Gilberto.

Apesar da Yunus ser uma empresa global, no Brasil ela só opera com recursos de capital local. “O nosso retorno fica abaixo do mercado. Se o mercado paga inflação mais 5%, nós pagamos apenas a inflação. É o que chamamos de “bolso filantrópico”. A nossa tese de investimento é otimizar a filantropia. Estamos no meio com o bolso filantropia: não perdemos a rentabilidade do fundo, mas ganhamos profissionalismo e aderência. Dessa forma, boa parte dos potenciais investidores ficam fora. Uma fundação, um fundo empresarial ou um investidor institucional que tenha meta atuarial e responsabilidade de prestar contas aos seus cotistas não serão nossos investidores. Nós somos focados em pessoas físicas e famílias de alta renda”, explica Luciano.

No portfólio da Positive há alguns investidores individuais de alta renda e family offices que estão migrando parte dos seus recursos para negócios de impacto social. “Olham para isso como uma oportunidade de resolver problemas sociais e ambientais e estão alinhados com a nossa visão de futuro. Acreditamos que, no futuro, todos os negócios terão que ter uma dimensão de impacto positivo. A sociedade não vai mais tolerar que isso não aconteça”, concluiu Bruna.