Aceleradora ANIP abre caminho para a Articuladora ANIP

Ao completar três edições, a Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia, ANIP, acelerou diretamente 20 negócios, mapeou mais de 280 negócios – 70% deles liderados por mulheres – e gerou uma movimentação total de R$ 11 milhões. A partir de 2021, novos caminhos deverão se abrir: a Aceleradora ANIP irá se transformar na Articuladora ANIP, com o objetivo de desenvolver mais atividades para fomentar ainda mais o conceito de negócios de impacto social e ambiental.

Uma escola de gestão de negócios (Empreende Aí), uma fábrica de turbantes coloridos (Butique de Krioula), outra de cosméticos naturais (Bioafetiva), um serviço de motoristas que atende o povo da quebrada (Jaubra), outro de alimentação orgânica (Enjoy), um guarda-roupa virtual que aluga roupas sob demanda (HOTD), uma linha de lingerie e moda praia para mulheres trans (Trucss)… esses são alguns exemplos de negócios de impacto social que nasceram na periferia, boa parte em função da necessidade de sobrevivência.

O Evento Final ANIP 2019, realizado dia 27 de novembro no Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo, em São Paulo, comemorou o encerramento do processo de aceleração da 3a turma de empreendedores. Ao todo, nas três turmas realizadas até aqui, foram 20 negócios inovadores apoiados pela Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia – ANIP, iniciativa da produtora A Banca – em parceria com Artemisia e FGVcenn (Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios). A ANIP foi formada com o objetivo de potencializar uma nova geração de negócios de impacto social. Além de fortalecer o modelo de negócio e aumentar o impacto social, a meta da ANIP é criar um ambiente que transforme os empreendedores e empreendedoras em protagonistas no desenvolvimento de soluções sociais e ambientais nas periferias.

“Quando criamos a ANIP, a nossa intenção era proporcionar o melhor, que os negócios crescessem e causassem mais impacto, verdadeiras microrrevoluções”, explica Marcelo Rocha, o DJ Bola, presidente-fundador da A Banca e um dos idealizadores da ANIP. Tendo A Banca como um case, a ANIP fomenta o conceito de negócios sociais em todos os lugares. “Explicamos os nossos códigos, como a gente faz negócios, como a gente empreende. Essa temática ainda não é clara para as pessoas, que não se reconhecem dentro desse lugar como empreendedores com propósito. O ecossistema tradicional não olha para a quebrada, onde tem muita coisa legal. Para vencer esse abismo criamos uma ponte, uma escada, para cruzar esses dois lados”, destaca Bola.


“Revimos todo nosso processo e chegamos à conclusão de que a  ANIP não é só um programa de aceleração que vai colaborar com o desenvolvimento. O que vamos ter agora é uma Articuladora de Negócios de Impacto na Periferia. Tudo mudou em função do aprendizado que tivemos nesses anos e que, para nós, é motivo de orgulho.”

Marcelo Rocha, DJ Bola, presidente-fundador da A Banca e um dos idealizadores da ANIP


 

Esse ciclo, porém, deverá tomar novos rumos. No lugar da Aceleradora ANIP deverá surgir a Articuladora ANIP. “Quando criamos esse programa não tínhamos uma metodologia fechada. Havia apenas uma intenção, um propósito e isso ainda está muito forte e enraizado. E assim queremos seguir nos próximos anos. Queremos acertar mais do que errar. Não desistimos do nosso sonho. Só vamos fazer diferente e continuar na luta. Revimos todo o nosso processo e chegamos à conclusão de que a  ANIP não é só um programa de aceleração que vai colaborar com o desenvolvimento. O que vamos ter agora é uma Articuladora de Negócios de Impacto na Periferia. Tudo mudou em função do aprendizado que tivemos nesses anos e que, para nós, é motivo de orgulho”, comenta Bola.

A ANIP vai realizar mais um programa de aceleração em 2020, mas a ideia é que, a partir de 2021, desenvolva mais atividades para fomentar ainda mais o conceito de Negócios de Impacto Social e Ambiental. “Vamos construir mais pontes, conectar mais pessoas, fomentar essa discussão em diversos outros lugares, levar essa narrativa para todas as rodas de conversa”, comenta Bola.

Três turmas de NIP’s

A terceira turma da Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia consolidou um projeto que nasceu em 2018 no distrito do Jardim Ângela, para fortalecer ideias e iniciativas da periferia, e se transformou em um ecossistema construído com bases genuínas.

Os 10 negócios selecionados para a 3ª edição vieram de diferentes regiões periféricas de São Paulo e não apenas dos bairros da zona sul, como nas duas edições anteriores, que aceleraram outros 10 negócios. Todos receberam um investimento de R$ 20 mil cada um e passaram por um profundo processo de gestão e autoconhecimento.

Nas duas primeiras edições de seu programa de aceleração, a ANIP acelerou as iniciativas Boutique de Krioula, Empreende Aí, Ecoativa, Jovens Hackers, Editora Selo do Povo, Bora lá, Bio Afetiva, Gastronomia Periférica, Nutrir-Si e Periferia em Movimento. Todas da zona sul de São Paulo, com grande número de mulheres à frente de seus processos.

Em 2019, as iniciativas selecionadas foram Repagine Me, Clinfy, Enjoy Alimentação Orgânica, HOTD, Jaubra, Kitanda das Minas, LiteraRUA, Recifavela, Silvana Trucss e Meninos da Billings.

“Essas organizações foram criadas a partir do sonho de desenvolver soluções voltadas para os desafios sociais e ambientais da periferia. Mulheres e homens da quebrada que desenvolvem seus negócios de forma genuína num primeiro momento e, quando potencializados, ganham maturidade para escalar de tal forma que geram desenvolvimento do seu entorno e dos seus iguais”, avalia Fabiana Ivo, diretora pedagógica da A Banca.


“A ANIP é mais que um programa, é um movimento, é luta, é investir diretamente na base da pirâmide, é exaltar o que há de melhor na quebrada, é quebrar barreiras sociais, é fazer das pontes da cidade um caminho de troca, é acreditar mais nas soluções do que nos problemas, é fomentar negócios de impacto socioambiental direto na base da pirâmide aliado ao que vamos fazer com propósito, é buscar felicidade.”

Marcelo Rocha, DJ Bola


“A ANIP foi a única a reconhecer que na periferia há empreendedores com potencial. A gente quer participar desses programas, mas às vezes não é possível se afastar do negócio porque cada minuto fora é um minuto que a gente deixa de ganhar dinheiro”, diz Michelle Fernandes, moradora do Capão Redondo, que começou informalmente o seu negócio, a Boutique de Krioula, em 2012. Cinco anos depois, a ANIP potencializou o negócio e Michelle ganhou o mundo.

Dos 10 negócios selecionados para a terceira turma do programa de aceleração, entre 169 inscritos, cinco são da zona leste, três da zona norte e dois da zona sul. Seis deles são liderados por mulheres.

“O programa é mais que uma aceleração simples porque visa o crescimento em escala.  Esse é um grande conhecimento que a gente aprendeu fazendo e vivenciando em diversos negócios que participaram do programa. Ainda é necessário criar o ecossistema de negócios de impacto da periferia. Existe muita coisa sendo feita, mas tem também  muita ponta solta. Se formos pensar em uma linha do tempo, algumas organizações desenvolviam sua atuação antes de participar de um programa de aceleração ou de um processo de prototipagem. Mas até um negócio ganhar corpo e começar a se pagar, tem um caminho árduo.  Depois que ele passa por um programa de aceleração ele tem ainda mais chances de vingar. Não temos fundo de investimento, nem investidores anjo que olhem para os negócios das periferias. Então é um ecossistema que precisa ser costurado. Ainda precisamos trabalhar mais”, comenta Bola.

O programa incluiu 11 encontros temáticos presenciais e acompanhamento individual. Entre os temas abordados estão: impacto social e modelos de negócios sustentáveis; competências empreendedoras e proposta de valor; gestão financeira; marketing digital; questões jurídicas; inovação; estruturação e refinamento do negócio; e conteúdos adaptativos de acordo com a demanda de cada negócio selecionado. “Fizemos encontros remotos, por hangout, WhatsApp, Skype. Fomos até o espaço dos empreendedores e estamos a postos para fazer mentoria após o encerramento desse ciclo de aceleração. Todos os negócios podem nos procurar para trocar uma ideia e vamos acompanhar os processos dos seus empreendimentos”, comenta Fabiana Ivo.

O programa foi encerrado no dia 27 de novembro com a apresentação dos pitches dos empreendedores e empreendedoras, e entrega de certificados aos NIPs.

Empreendedores e empreendedoras certificados na terceira turma de aceleração da ANIP, ao lado de Fabiana Ivo (à esquerda) e DJ Bola (à direita). Representam as empresas HOTD, Enjoy, Repagina Me e Trucss (sentido Horário). Fotos: ANIP

Os 10 negócios da 3a turma da ANIP

HOTD (Have Options to Dress), de Itaquera, zona leste

Propõe uma forma de consumo inteligente por meio de um guarda-roupa virtual compartilhado. Empresa que existe há três anos, 100% digital. Foi recentemente agraciada com um investimento no valor de R$ 450 mil. “Queremos ser a primeira startup unicórnio da periferia”, afirma Carlos Alberto Silva, fundador, da HOTD.

LiteraRUA, da Casa Verde, zona norte

Editora que dá voz a autores e artistas populares para a criação de produções culturais da periferia. Anunciou o lançamento de uma antologia em homenagem a Emicida, um dos maiores nomes da cultura HIP HOP brasileira.

Clinfly, de São Miguel Paulista, zona leste

Aplicativo voltado para a área da saúde, com atuação na contratação de cuidadores de idosos, babás e enfermeiros. Oferece uma pulseira para localização de idosos e banco de profissionais.

Enjoy Alimentação Orgânica, de M’Boi Mirim, zona sul

Delivery de alimentos orgânicos. Une os produtores e os consumidores, evitando desperdício. Espaço de venda direta em construção.

Trucss, de Guaianases, zona leste

Silvana Trucss, fundadora, explicou sua motivação para criação de moda praia e lingerie para mulheres transgênero. Trabalhava em hospitais e se espantou com a quantidade de mulheres trans com problemas nos rins. Patenteou o suporte em forma de funil.

Repagina Me, de Perus, zona norte

Serviço de arquitetura e de decoração para pequenos estabelecimentos comerciais da periferia. Melhorar a “cara” dos negócios é a visão da startup.

Jaubra, da Brasilândia, zona norte

Aplicativo de transporte e central de atendimento que atendem as pessoas da periferia da cidade. Os aplicativos tradicionais não circulam na zona norte. Diferencial: motoristas locais.

Meninos da Billings, de Capela do Socorro, zona sul

Operadora de turismo náutico nas represas Billings e Guarapiranga. Produz prancha feitas com plástico retirado da água e monta roteiros gastronômicos.

Recircular, da Vila Prudente, zona leste

Cooperativa de resíduos recicláveis e incentiva a educação ambiental. Desenvolveu um cartão em parceria com a Visa para compra de resíduos e pagamento em criptomoeda.

Kitanda das Minas, de Cidade Tiradentes, zona leste

Serviço de catering e bufê com inclusão de mulheres negras e imigrantes africanas. Promove a autoestima, valorização e capacitação.