Soluções tech coletivas inovadoras abrem caminho para um futuro crowd em negócios de impacto

Por Dinaura Landini

Os empreendedores de impacto social passaram a contar, em 2019, com novas oportunidades de obter recursos financeiros. Na linha de frente desse movimento, estão as plataformas de empréstimo coletivo. O caminho para um futuro crowd na área de negócios de impacto abre novas dimensões para a evolução rumo a “uma sociedade mais digna, um planeta mais saudável, uma economia que cada vez mais é de causas e não de produtos e serviços”.  

É cada vez maior o número de participantes do segmento de negócios de impacto socioambiental no Brasil dispostos a aumentar o fluxo de recursos financeiros disponíveis para movimentar empreendimentos que têm a missão de gerar impacto socioambiental positivo. Exemplo recente é o lançamento da segunda rodada de captação da Plataforma de Empréstimo Coletivo da SITAWI Finanças do Bem, com foco na Amazônia. A plataforma de empréstimo coletivo é um entre vários instrumentos inovadores que vêm surgindo no país para democratizar o acesso ao investimento de impacto e acelerar o fluxo de capital para negócios de impacto, ajudando a vencer os desafios mais prementes do país no campo social e ambiental.

Institutos e fundações, family offices, investidores anjos, organismos multilaterais, incubadoras, aceleradoras, instituições como Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, ICE, SITAWI Finanças do Bem, Vox Capital, Din4mo, Rede Dinheiro e Consciência, Firgun e muitas outras organizações trabalham de forma contínua para superar uma barreira comum a quase todos os negócios de impacto: a dificuldade em angariar recursos para ganhar escala e não sucumbir ao chamado “vale da morte”. Segundo dados do 2o Mapa de Negócios de Impacto da Pipe Social, de 2019, entre os 1.002 negócios cadastrados na base, 48% consideram como principal “Pedido de Ajuda”, o quesito Dinheiro; e 43% procuram sobreviver tocando os seus negócios com “Investimento Próprio”.

Em sua publicação Produtos Financeiros de Impacto Socioambiental, a Aliança pelo Impacto aponta as oportunidades para investidores, com o objetivo de fazer avançar as metas elencadas em 2015 voltadas ao tema: a meta 01 – Investimento de indivíduos de alta renda em produtos de impacto; e a meta 11 – Formatos inovadores para apoio e investimento a NI. Entre os desafios, está a possibilidade de reduzir os valores de aplicação, ampliando o leque de investidores. Esta possibilidade ganhou novo impulso com a modalidade de investimento direto via redes e plataformas que oferecem empréstimos, financiamentos coletivos (crowdequity e corwdlending) e investimento anjo  (equity).

Como detalham Célia Cruz, Diogo Quitério e Beto Scretas no capítulo O ecossistema de fomento aos investimentos e negócios de impacto: rompendo fronteiras, do livro Negócios de Impacto Sociambiental no Brasil, organizado por Edgard Barki, Graziella Maria Comini e Haroldo da Gama Torres, “enquanto os fundos de investimentos brasileiros (…) demandam um perfil de investidor profissional que já tenha aplicações financeiras superiores a R$ 10 milhões, as plataformas de investimento coletivo em negócios de impacto têm democratizado as oportunidades de investimentos. Em 2017, a Din4mo realizou em parceria com a plataforma Kria cinco ciclos de captação via crowdequity. Em um dos cases, mobilizou 80 investidores para aportar mais de R$ 1 milhão para a +60 Saúde”. Já a Rede Dinheiro e Consciência, com foco em empréstimos coletivos, reuniu 80 pessoas que emprestaram cerca de R$ 1,25 milhão para os negócios Morada da Floresta, Vela Bikes e Impact Hub São Paulo.


“O mais belo do crowd de impacto é que não se trata de R$ 1,00 mas sim de 1 voto no que importa para você como cidadão.”

Marco Gorini, Din4mo


 

Para Marco Gorini, sócio-fundador da Din4mo, “as operações de crowdinvesting tendem a crescer muito mais, tanto no mundo como no Brasil. A lógica é simples. Há muito mais pessoas com R$ 1 mil do que com R$ 1milhão, o que normalmente é necessário ter para ser investidor qualificado e investir em fundos de investimento. E lembremos que, como costumo dizer, as formigas são, talvez, o animal que mais impacta o ecossistema. Formigas literalmente constroem ecossistemas. Com as soluções tech coletivas ficando cada vez mais robustas e as estruturas de mercado se fortalecendo, minha previsão é de que o futuro será crowd”.

Em 2018, segundo Gorini, “o crowd global já mobilizou mais recursos do que a indústria de venture capital”. O desafio, na visão dele, é de awareness, de conscientização, de percepção. “Ainda é pouco conhecido. O mais belo do crowd de impacto é que não se trata de R$ 1,00 mas sim de 1 voto no que importa para você como cidadão”, afirma. Logo, “é a síntese da possibilidade de termos infraestrutura adequada para evoluir na construção das bases de uma sociedade mais digna, um planeta mais saudável, uma economia que cada vez mais e mais é de causas e não de produtos e serviços”.

A Din4mo foi pioneira no crowdequity de impacto no Brasil, com a primeira operação fechada no primeiro trimestre de 2016. “Está na centralidade da nossa tese de impacto a democratização do acesso aos investidores, como uma forma de ampliar a consciência e a disseminação da temática de impacto socioambiental”, destaca Gorini. Hoje a Din4mo é o maior “Sindicato de Investimento de Impacto” do país, com sete ofertas exitosas realizadas que mobilizaram aproximadamente R$ 4 milhões de capital semente e uma rede de mais de 220 investidores. “Temos aproximadamente 500 investidores que manifestaram interesse em apoiar nossa tese de impacto e investimento”, diz Gorini.


A InvestSocial deverá lançar novas operações em 2020, levando a mercado entre R$ 100 milhões e R$ 120 milhões


 

A Din4mo atua também por meio da InvestSocial, joint venture com o Grupo Gaia, criada para focar em operações de dívida – uma lacuna imensa no ecossistema empreendedor – via mercado de capitais, exclusivamente para startups e empresas de impacto. A InvestSocial deverá lançar algumas operações este ano, com a meta de levar a mercado entre R$ 100 milhões e R$ 120 milhões no total.

Outra inovação da Din4mo foi o lançamento, em 2018, da primeira debênture de impacto social no Brasil. Solução pioneira desenvolvida junto com o Grupo Gaia, a iniciativa abriu caminho para unir os negócios de impacto ao mercado de capitais. A debênture foi criada para dar suporte ao Programa Vivenda, que realiza reformas em moradias localizadas em regiões de baixa renda. Ao todo foram captados R$ 5 milhões.

A solução blended finance desenvolvida pela Din4mo viabiliza tanto operações de equity quanto de crédito e envolve estratégias de captação através de mecanismos distribuídos como o crowdequity, crowdlending, estruturação de operações de antecipação de recebíveis originados por startups de impacto e os chamados Social Impact Bonds (SIBs).“A ferramenta estabeleceu pontes entre os negócios de impacto que precisam de capital de giro e têm dificuldade de acessar linhas de crédito; os investidores que querem colocar o capital a serviço do campo de negócios de impacto, mas não sabem como; e os gestores tradicionais que têm um certo receio pela inovação”, explica Marco Gorini.


“A Plataforma de Empréstimo Coletivo SITAWI é uma alternativa a um número crescente de investidores de varejo que buscam não apenas retornos financeiros atraentes, mas opções de investimento alinhadas com seus valores.”

Leonardo Letelier, SITAWI


 

“Depois de uma década desenvolvendo soluções financeiras para negócios de impacto, em 2019, a SITAWI deu um passo significativo para tornar esse tipo de investimento mais acessível para pessoas físicas”, diz Leonardo Letelier, fundador e CEO da SITAWI. “Em parceria com o Instituto Sabin, lançamos a plataforma de Empréstimo Coletivo SITAWI, como uma alternativa a um número crescente de investidores de varejo que buscam não apenas retornos financeiros atraentes, mas opções de investimento alinhadas com seus valores”, destaca Letelier.

Modelo indígena Ngrejkampyre Kayapó, com um colar Kayapó vendido pela Tucum, que está entre as cinco organizações que deverão captar recursos na 2a rodada da Plataforma de Empréstimo Coletivo da SITAWI. Foto: Paulo Velozo/Associação Floresta Protegida

A primeira rodada da Plataforma de Empréstimo Coletivo SITAWI, lançada em junho de 2019, foi um sucesso: atingiu as metas de captação em 58 dias, tempo menor que o prazo previsto, e levantou R$ 1,5 milhão para cinco negócios: Coopsertão (BA), uma cooperativa liderada por mulheres, que fortalece a agricultura local com a produção de polpas de frutas; Orgânicos In Box (RJ), um e-commerce de produtos orgânicos, que trabalha com produtores para reduzir custos e democratizar o acesso a uma alimentação mais saudável; Inteceleri (PA), edtech especializada no ensino de matemática utilizando realidade virtual, beneficiando mais de mais de 250 mil estudantes; Stattus4 (SP), que desenvolve sensores para detectar vazamentos de água e gás; e UpSaúde (RN), um aplicativo de inteligência de dados que está reduzindo em 38% as filas de atendimento da rede pública de saúde de 20 cidades.

Com a iniciativa, pequenos investidores tiveram a possibilidade de fazer a diferença para o sucesso e o crescimento de negócios com missão de impacto socioambiental positivo. Pela plataforma, foi possível investir a partir de R$ 1 mil, oferecendo retorno de 1% ao mês para os 159 investidores, sendo 157 pessoas físicas. Para um dos investidores Heiko Hosomi Spitzeck, professor da Fundação Dom Cabral, a plataforma foi a resposta para algo que ele buscava para sua carteira de ativos. “Tenho interesse em investir em iniciativas de impacto positivo, mas vejo pouca transparência nas opções oferecidas pelos grandes bancos. A SITAWI me deu segurança porque sempre forneceu muitas informações. Tive acesso a históricos dos projetos, análises de risco, planejamento para uso do investimento, além de um detalhamento de como as iniciativas estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU”, explica. 


 Clube de Impacto da Vox terá novas rodadas em 2020


 Outro mecanismo financeiro inovador que surgiu em julho de 2019 foi o Clube de Impacto da Vox Capital, gestora de investimentos de impacto. Após atuar por 10 anos com investidores profissionais e tíquetes mínimos de R$ 250 mil, a Vox Capital decidiu apostar também no pequeno investidor de impacto. O objetivo do Clube de Impacto foi captar R$ 600 mil para a Diáspora Black, o primeiro negócio selecionado. Mais de 85 investidores, pessoas físicas interessadas em negócios de impacto, juntaram-se à Vox para investir a partir de R$ 1 mil e a captação foi concluída com sucesso.

”Nosso primeiro investimento foi focado em uma tese racial. A Diáspora Black atua no marketplace de turismo para promoção da igualdade racial como a principal comunidade de turismo afro do Brasil, reunindo anfitriões e viajantes que amam a cultura negra e buscam viver experiências autênticas e inesquecíveis em suas viagens”, afirma Gabriela Chagas, gestora do Clube de Impacto da Vox Capital.

O Clube de Impacto da Vox funciona no modelo de equity crowdfunding. Essa ferramenta virtual permite o investimento, ao lado da Vox Capital, em startups com alto potencial de gerar impacto socioambiental e retorno financeiro. A Vox seleciona, avalia e é a primeira investidora em todos os negócios recomendados, entrando nos mesmos termos que os demais investidores. Após o investimento, a Vox apoiará o crescimento de cada startup para maximizar as chances de sucesso dos investidores. A solução também é importante para empreendedores de impacto que precisam captar entre R$ 500 mil e R$ 1,5 milhão, valores muito altos para investidores-anjo, mas muito baixos para fundos de Venture Capital. Dessa forma, poderá ajudar startups a passar pelo chamado “vale da morte”. A Vox Capital planeja inaugurar mais rodadas de investimento este ano.


Sucesso inicial motivou a segunda rodada da Plataforma SITAWI, prevista para março


 

O sucesso da primeira rodada animou a SITAWI a lançar a 2a Rodada da Plataforma de Empréstimo Coletivo, desta vez com foco na Amazônia. “Estamos presenciando e apoiando o crescimento de uma nova geração de organizações de impacto na Amazônia, com modelos de negócio inovadores, que aliam geração de renda, valorização da cultura local e proteção dos recursos naturais em uma das regiões mais ricas e importantes do planeta. Com a Plataforma de Empréstimo Coletivo, contribuímos para dar visibilidade a esse movimento e permitimos, que investidores de todo o Brasil possam participar ativamente dessa transformação, diz Andrea Resende, gerente de Finanças Sociais da SITAWI.

A rodada, a ser aberta a investidores no mês de março, vai contribuir para mobilizar R$ 3,2 milhões, dos quais aproximadamente 30% serão captados de pessoas físicas que querem apoiar a conservação da floresta e ter retorno financeiro. Junto com as pessoas físicas, participam da rodada os chamados investidores-âncora, que atuam para reduzir os riscos e atrair investidores de mercado. Além da própria SITAWI, são investidores-âncora na nova rodada o Instituto Humanize, a USAID, o Fundo Vale, o FIIMP (Fundações e Institutos de Impacto) e o Grupo Rede Amazônica.

“A SITAWI possui experiência com iniciativas amazônicas, como o investimento no Programa de Aceleração da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), do qual também realizamos a análise técnica dos projetos participantes em 2018 e 2019. Nesta nova rodada da Plataforma de Empréstimo Coletivo, reafirmamos a importância do crescimento dos negócios de impacto da região para o desenvolvimento da economia e da população local, e para a conservação do meio ambiente”, afirma Leonardo Letelier, fundador e CEO da SITAWI.

A nova rodada vai levantar recursos para cinco organizações: COEX Carajás, de Parauapebas (PA), cooperativa que tem a missão de gerar renda e recuperar as florestas pela extração e comercialização de produtos florestais; Na Floresta Alimentos Amazônicos, de Manaus (AM), que nasceu em 2003 para conservar a floresta por meio da produção sustentável de cacau por comunidades ribeirinhas agroextrativistas; OKA, de Ananindeua (PA), que produz de forma sustentável e em escala industrial sucos com frutas nativas da Amazônia para os mercados nacional e internacional; Prátika Engenharia, de Manaus (AM), que vende e instala a valores acessíveis painéis solares, como alternativa a geradores a diesel, para comunidades quilombolas isoladas da Calha Norte do Estado do Pará; e Tucum, com sede no Rio de Janeiro (RJ), que tem como missão valorizar e promover a arte das populações indígenas e tradicionais do Brasil, gerando renda para suas comunidades.

A plataforma estará disponível em www.emprestimocoletivo.net. Investidores interessados já podem se cadastrar para serem notificados assim que a rodada estiver aberta. No site, será possível visualizar o perfil, o impacto e as projeções financeiras dos negócios, e emprestar às organizações preferidas pelo investidor. O valor mínimo de empréstimo é R$ 1 mil. E o pagamento será mensal, com juros equivalentes a 12% ao ano. Em até 24 meses, os investidores terão recebido todo o dinheiro emprestado de volta. Toda a operação é realizada pelo modelo de peer-to-peer lending, em parceria com a CapRate, intermediada pelo Banco Topázio e com apoio do escritório TozziniFreire Advogados.
“Ao diminuir a barreira de investimentos, antes restrita a fundos e investidores qualificados que representam uma parcela muito pequena da população, acreditamos que estamos contribuindo e nos antecipando para uma mudança de paradigma na cultura de investimentos. Quando o investidor apoia financeiramente um negócio e passa a receber relatórios sobre o impacto positivo gerado com o seu dinheiro, naturalmente começa a repensar seus outros investimentos e a desejar ampliar sua participação nesse ciclo”, afirma Andrea Resende.


“Como colocamos os nossos aprendizados a serviço de todos? É esse o caminho a ser aberto pela nova plataforma nos próximos meses.”

Fernando Assad, Programa Vivenda


 

 O Programa Vivenda nasceu para “revolucionar o mercado de reformas habitacionais”, como diz Fernando Assad, um dos fundadores. Com a entrega de mais de 2 mil obras, a Vivenda se prepara agora para uma nova fase, ainda mais ampla: deverá lançar no primeiro trimestre de 2020 uma nova plataforma que buscará expandir todas as experiências de relacionamento, confiança, crédito e outras, do Programa Vivenda para o mundo digital. A plataforma vai reunir pedreiros, arquitetos, todos que tenham interesse em trabalhar com habitação e reforma. Uma das ferramentas a ser utilizada é o sistema BIM (Building Information Modeling – Modelagem de Informações da Construção). Uma plataforma inovadora, que vai além das plataformas de empréstimo para formar uma rede articulada pela Vivenda.

A nova plataforma a ser articulada pela Vivenda colocará os aprendizados da empresa a serviço de todos, ampliando a oferta de reformas habitacionais. Foto: Divulgação

Segundo Fernando Assad, a Vivenda atuou como construtora, fazendo reformas; depois no varejo, aprendendo a vender; e também como mecanismo de investimento, aprendendo o papel do crédito adequado na promoção do acesso a produtos e serviços relacionados ao morar bem. Agora, a empresa quer de fato escalar, ampliar muito mais a sua atuação. “Após muitos estudos e reflexão, vimos que era importante analisar tudo o que precisa ser feito no sistema para mudar o sistema, para que então o sistema todo possa mudar”, explica Fernando.

Nessa direção, Vivenda quer em sua nova fase ir além, deixando de ser “estrita operadora da obra”, para ter uma atuação mais voltada a estruturar as partes faltantes do sistema, colocando à disposição do todo e oferecendo uma proposta de valor. Em outras palavras, vai disponibilizar toda a sua biblioteca de práticas e experiências na nova plataforma para que qualquer um possa operar. “Como colocamos os nossos aprendizados a serviço de todos?”, questiona Fernando. É esse o novo caminho a ser aberto nos próximos meses. Na nova plataforma digital, o arquiteto pode entrar na casa, fazer todo o processo de forma digital, gerar um orçamento, etapas, relatórios de gestão, crédito etc. A Vivenda passa a ser a articuladora de pedreiros, arquitetos e outros participantes”, afirma Fernando. Todo um ecossistema de tecnologia está em desenvolvimento com o objetivo de abrir portas. Um piloto está em desenvolvimento junto com a Artemisia e outras novidades deverão surgir em breve.

Na sua jornada de “reestruturação de sistema”, a Vivenda considerou ainda que havia uma ponta relevante solta: a do fornecimento de materiais de construção, lojas que muitas vezes são apenas “depósitos” e não oferecem soluções para os moradores. Surgiu então outra ideia inovadora, a ser lançada no próximo dia 5 de fevereiro, em parceria com a Vedacit, Gerdau, Tigre, Duratex, Votorantim Cimentos e Suvinil, também com o suporte da Artemisia. A Vivenda vai inaugurar a primeira loja de materiais de construção no modelo “centro de soluções de morar bem”, em parceria também com a MCF Materiais de Construção. Iniciativas inovadoras que inauguram uma nova etapa no desenvolvimento das plataformas e prometem ampliar ainda mais o raio de ação dos negócios de impacto.

O pioneirismo do Kria

Lançado em outubro de 2014, como Broota Brasil, o Kria é a plataforma pioneira em investimento de startups no Brasil. Por meio de sua rede, 60 startups já captaram R$ 25 milhões em investimentos, com aportes que variam de R$ 500 a R$ 200 mil. O investimento do Kria é em troca de participação acionária. Ou seja, o investidor compra o direito de se tornar sócio da empresa, tem uma porcentagem, acompanha o seu crescimento.

“Quando o Kria (na época, Broota) surgiu, a ideia era permitir que cada vez mais pessoas pudessem participar dos negócios que estão transformando o mundo. O empreendedorismo é um dos grandes motores para transformações relevantes na nossa sociedade, e o impacto gerado por ele pode ganhar ainda mais escala a partir da colaboração entre pessoas, negócios e ideais. Nós não investimos apenas em startups que enxergam a geração de impacto socioambiental positivo como a alma do negócio, mas acreditamos que o investimento em startups é capaz de gerar impacto de diferentes formas”, comenta Frederico Rizzo, CEO do KRIA.

Entre os investimentos do Kria estão a Radix, de investimentos florestais, a Jeitto, que é uma fintech de crédito para o público de baixa renda e a Carbono Zero, startup de entregas através de bikes e transportes elétricos. Foram cerca de R$ 2,5 milhões captados para negócios de impacto socioambiental.

Com foco desde o princípio em tecnologia, os fundadores do Kria apresentaram também ao mercado uma nova estratégia de atuação, separando a função tecnológica e regulatória da plataforma – com uma nova marca, Basement – do serviço de seleção de empresas e estruturação de ofertas públicas – o papel do Kria.

“Estamos hoje concluindo o primeiro ciclo de nosso portfólio. Tivemos empresas investidas que receberam novos aportes de capital, cresceram em faturamento e cresceram em seus impactos gerados diretamente na comunidade – desde o número de empregos gerados, até ampliação dos impactos gerados pelas empresas graças aos recursos aportados em seu crescimento”, afirma Rizzo.

Para ele, o fato de termos cada vez mais plataformas surgindo no mercado tem seu lado bom. São mais agentes investindo na educação de investidores e movimentando o ecossistema. Com a queda dos juros e um cenário econômico mais favorável, muitos investidores estão migrando para aportes de renda variável. “O investidor de impacto é diferente do investidor de venture capital – ele se importa com o retorno, é claro, mas considera tão importante quanto o retorno financeiro, o impacto gerado. Termos mais desses investidores buscando oportunidades de participar nos negócios sociais que estão mudando o futuro, é essencial para o desenvolvimento do mercado”, completa. Entre os negócios que captaram com sucesso na Kria está o Programa Vivenda.


O crowdfunding da Firgun conecta as duas pontas de uma rede solidária


 

Na linha da democratização do acesso ao capital, a Firgun desenvolveu uma plataforma de investimentos coletivos para oferecer a oportunidade de investir em negócios conduzidos por empreendedores de baixa renda. “O time analisa os negócios e seleciona os empreendedores que estão na periferia, em situação de vulnerabilidade, para receberem o empréstimo. Contamos a história deles na plataforma e o que eles pretendem fazer com o dinheiro. Qualquer pessoa pode acessar a plataforma, escolher a campanha e investir em um negócio a partir de R$ 25, por meio de crowdfunding. Pela plataforma mesmo, o empreendedor recebe mensalmente os boletos para pagar o seu empréstimo e o investidor pode acompanhar. Quando recebe o valor, o empreendedor pode sacar investir ou reinvestir em outra campanha”, explica Lemuel Simis, co-fundador da Firgun.

Nos seis primeiros meses de operação, a Firgun arrecadou R$ 45 mil com a mobilização de 120 investidores e investiu em cinco projetos de impacto. “Esses empreendedores estão à margem do sistema financeiro e, por meio de uma ferramenta digital, acessam um novo futuro. É o caso da Maria da Conceição Pimentel, costureira do Capão Redondo, bairro da região sul de São Paulo, que quitou seu empréstimo com três meses de antecedência. Em duas semanas, ela levantou R$ 4 mil para fazer uma reforma em seu espaço de trabalho, que também é sua casa. Com esse dinheiro ela comprou os materiais para a reforma no bairro, ajudando a movimentar a economia local, contratou um pedreiro e um ajudante, dando oportunidades de trabalho. Ganhou mais 100 metros quadrados, colocou mais uma mesa de corte e novas máquinas. Com isso, dobrou a capacidade produtiva da empresa e criou novos produtos para o seu portfólio. Nos finais de semana, dá aulas de corte e costura. É incrível o que ela fez com R$ 4 mil”, contou Lemuel.

“A Firgun conecta as duas pontas de uma rede solidária. De um lado, empreendedores que precisam de capital para investir em seus negócios e de outro, pessoas que estão dispostas a investir para promover impacto positivo no mundo. Não somos um banco, somos facilitadores. Aqui não acontecem doações, mas sim investimentos”, destaca Lemuel.

Rede Dinheiro e Consciência mobiliza mais de 100 pessoas em oito cidades

A Rede Dinheiro e Consciência (RDC) é fruto da parceria do EcoSocial, consultoria e coaching para o desenvolvimento humano e organizacional com base antroposófica, com a Fundação Avina, instituição internacional que trabalha para o desenvolvimento sustentável na América Latina, incentivando alianças entre líderes sociais e empresariais.

A RDC teve início em 2017, com encontros de empresários e executivos para uma reflexão a respeito do uso consciente do dinheiro junto com Joan Melé, palestrante internacional, economista, empresário, e ex-diretor do Triodos Bank. O banco holandês, considerado pioneiro como banco ético, está hoje presente nos principais países da Europa e atua com a missão de financiar empresas, instituições e projetos que promovam valores culturais e beneficiem a sociedade e o meio ambiente.

Foi a partir do interesse demonstrado pelas pessoas nestes eventos que o negócio começou a ser desenhado. A operação teve início com ciclos de palestras e eventos para despertar a consciência sobre o fluxo do dinheiro. Logo, veio a necessidade de criar um instrumento financeiro que permitisse colocar em prática o que estavam descobrindo.

Foi lançada, então, em outubro de 2018, uma plataforma P2P (Peer to Peer) para que os interessados pudessem investir diretamente em negócios de impacto. A primeira rodada contemplou três empreendimentos: Morada da Floresta, Vela Bikes e Impact Hub São Paulo.

Em 15 dias, foram captados R$ 1,25 milhão de 80 investidores, que colocaram entre R$ 1 mil e R$ 100 mil nos negócios. A taxa de retorno para o investidor é de 1% ao mês em 24 meses. Essa porcentagem foi combinada com as próprias empresas porque precisava ser justa para as duas pontas.

Hoje, a Rede mobiliza mais de 100 pessoas em oito hubs nas cidades: Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. A ideia é que os hubs se tornem agentes de desenvolvimento local, para que o dinheiro possa fomentar negócios que impactem cada uma dessas regiões. Para este ano, a meta é promover mais quatro rodadas, que devem beneficiar até 12 negócios e movimentar cerca de R$ 6 milhões em empréstimos diretos.