Rodada de Negócios PPA atrai investimentos de R$ 4,8 milhões em negócios de impacto na Amazônia

Empreendedores de nove iniciativas selecionadas receberão investimentos da SITAWI, USAID, Conexsus, Fundo Vale, Instituto Humanize, FIIMP, Grupo Rede Amazônica e Althelia Funds. Objetivo é desenvolver a Amazônia de forma sustentável e gerar renda para produtores, comunidades e povos indígenas que mantêm a floresta em pé.

A Rodada de Negócios 2019, promovida pelo Programa de Aceleração da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) em dezembro, levantou R$ 4,8 milhões para apoiar modelos de negócios nas áreas de alimentação, geração de energia, extrativismo sustentável, educação ambiental, logística de transporte fluvial e plataforma de comercialização. As iniciativas selecionadas são: Na Floresta, Coex Carajás, Oka Sucos, Prátika Engenharia, Tucum Brasil, Academia Amazônia Ensina, NavegAM, Manioca e Onisafra.

O valor a ser investido nesses negócios é quatro vezes maior do que o total investido na rodada de negócios promovida pela PPA em 2018, que contabilizou um total de R$ 1,1 milhão. Os investidores da rodada 2019 foram SITAWI, USAID, Conexsus, Fundo Vale, Instituto Humanize, FIIMP, Grupo Rede Amazônica e Althelia Funds, quase todos membros da PPA.

“A rodada superou totalmente nossas expectativas. Ficamos surpreendidos com o estágio de desenvolvimento dos negócios e com o quanto eles estão prontos para receber investimento e iniciar um processo de expansão”, diz o coordenador executivo da PPA e diretor de novos negócios do Idesam, Mariano Cenamo. “Essa rodada foi um pouco diferente da que realizamos no ano passado, sobretudo porque muitos negócios ainda estavam em fase de modelagem do negócio e início de operações. Com esse novo grupo, um grande foco será desenvolver estratégias de mensuração e comunicação de impacto de seus negócios.”

Ted Gehr, diretor da USAID Brasil, afirma que “além do progresso real no número de inscritos e no volume de investimentos de um ano para o outro, fiquei muito impressionado com a qualidade das apresentações”. Segundo ele, os participantes pensaram seriamente nos planos de negócios e falaram com entusiasmo sobre seus produtos e serviços, e o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Investidores apostam no futuro que começa agora

Antes de começarem as negociações, CEOs de empresas integrantes da PPA e investidores participaram de uma mesa sobre investimentos de impacto na Amazônia que destacou a inovação e a vanguarda desses negócios na mudança da chave de desenvolvimento econômico da Amazônia e a importância de ter mecanismos técnicos e financeiros para fomentar esse movimento.

Denis Minev, CEO da Bemol e integrante da PPA, avalia que o Programa de Aceleração e as rodadas de investimento já têm resultados em pouco tempo de atuação: “Muita gente fala sobre o tema da bioeconomia, que é um tema importantíssimo na Amazônia como um todo, mas vejo muita fala e pouca gente criando coisas que efetivamente vão melhorar as condições de vida na região utilizando a bioeconomia. E essa iniciativa da PPA já está mostrando que é possível construir empresas novas, mobilizar empresários bons e profundos, cientistas, empreendedores que realmente conhecem a Amazônia, para construir esse futuro mais próspero para cá”.

Márcia Côrtes, do Instituto Humanize, reforça também o potencial da bioeconomia no Brasil: “O Instituto Humanize resolveu participar da PPA porque acredita que esse potencial enorme de negócios está na Amazônia, e precisa de investimento e pesquisa para avançar. Esses empreendedores são pioneiros em promover negócios com propósito e impacto positivo. A PPA conseguiu identificar essa rede de empreendedores e de negócios sustentáveis que já acontecem na floresta, e esse é o futuro da questão ambiental. Essa tendência a ter negócios que deixam a floresta em pé, que restauram, de preservar com essa inteligência de gerar renda e também gerar prosperidade para as pessoas que vivem na floresta”.

Um dos investidores da rodada, o Fundo Vale, atua há dez anos na Amazônia apoiando projetos de desenvolvimento local por meio da filantropia, tem olhado com mais atenção para o ecossistema de negócios de impacto em expansão na floresta: “A gente aprendeu, nesse tempo todo, que não é possível transformar se não oferecemos novas possibilidades para a economia local, de mudança de mentalidade. E isso não conseguimos só com o modelo tradicional da filantropia. Agora estamos olhando mais para esse viés de negócios de impacto, e essa rodada de negócios superou nossas expectativas. Apoiamos hoje três negócios, mas vários outros, quando ganharem maturidade, volume de produção e serviços, têm grandes possibilidades de fazer conexões com trabalhos que o Fundo Vale vem fazendo, inclusive na área de restauração e preservação de florestas. Isso é só o início. Temos um potencial incrível pela frente se ajudarmos esses negócios a se desenvolverem”, diz Márcia Soares, do Fundo Vale.

Investimento que faz a diferença 

Para os negócios de impacto em fase inicial, muitas vezes é difícil encontrar investidores que trabalhem com tickets de valores menores, o que dificulta o acesso a recursos por parte dos negócios em fases iniciais, que precisam de aportes menores para rodar. Essa é também uma importante contribuição da PPA a essas startups, aponta Andrea Resende, diretora e responsável pela área de investimento de impacto da SITAWI.

“A SITAWI tem um histórico de parceria com a PPA e outros projetos voltados para investimento de impacto e para o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Apoiar o desenvolvimento de novos modelos de negócio sustentáveis na região é uma das nossas prioridades. Esse trabalho da PPA, de juntar diferentes tipos de investidores e capital para tornar possível o financiamento desses negócios, é fundamental, porque as empresas e negócios só se tornarão grandes se tiverem o primeiro, o segundo cheque. Estamos felizes em ampliar ainda mais a participação da SITAWI nesta nova rodada, com apoio técnico na seleção e avaliação dos negócios e como principais investidores”, avalia.

Participaram da rodada de negócios deste ano 8 das 15 startups selecionadas para o Programa de Aceleração da PPA 2020, além de duas outras que integraram o Programa em 2019: Na Floresta, Coex Carajás, Oka Sucos, Tucum, Academia Amazônia Ensina, NavegAM, Nossa Fruits, Manioca e Onisafra. Os investimentos em cada negócio variaram em acordo com suas necessidades e nível de estruturação.

Negócios que atuam nas áreas de produção de alimentos e extrativismo sustentável, entre outros, receberão recursos da PPA. Foto: Henrique Saunier

Outros negócios selecionados para o Programa 2020 concorreram ao Prêmio Empreendedor PPA, também entregue durante a rodada de negócios, que premiou três deles com R$ 10 mil cada: Instituto Ouro Verde, Serras Guerreiras de Tapuruquara e Cacauway.

Artur Coimbra, proprietário da empresa Na Floresta, recebeu o maior ticket de investimento da rodada de negócios. O principal produto é o chocolate Na’kau, produzido desde 2017 com cacau amazônico comprado de comunidades ribeirinhas e agroextrativistas: “Já passamos por muita dificuldade e baixas para continuar existindo. Com esse recurso vamos trabalhar e trazer retorno para todo mundo que nos apoia e fazer ainda mais. Precisamos também desse programa de aceleração da PPA, para  a gente se escutar e ter ajuda de outras pessoas pra lidarmos melhor com modelo de negócio, questões financeiras, números. Nos profissionalizar ainda mais. A Amazônia precisa disso, e nosso compromisso é atender as pessoas que estão aqui”, avalia.

Outra startup investida, a NavegAM, busca resolver um gargalo importante para os próprios negócios amazônicos: a logística de transporte fluvial. “Saímos com mais do que o dobro do que pedimos aos investidores. Vamos investir tudo em desenvolver as soluções voltadas à Amazônia, na busca de solucionar o gargalo que é, além do transporte de passageiros e do frete fluvial, a dificuldade de conseguir informação nesse setor”, avalia Geferson Oliveira, um dos integrantes do negócio.

Saiba mais sobre os negócios investidos e participantes do Programa de Aceleração 2020 aqui.

Aposta no desenvolvimento sustentável

Desenvolver a Amazônia de forma sustentável é um dos objetivos do Programa de Aceleração da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA). Com a missão de fomentar modelos de negócios que criem soluções econômicas para o desenvolvimento sustentável, a PPA incentiva a geração de renda para os produtores, comunidades e povos indígenas, tudo para manter a floresta em pé.

A Plataforma iniciou suas atividades em 2017 no Amazonas, sob a Coordenação Executiva do Idesam. Expandiu sua atuação ao Pará no final de 2018, com a mobilização de parceiros e membros locais. Em pouco tempo, se consolidou como uma plataforma de ação coletiva, liderada pelo setor privado, que busca a construção de soluções inovadoras, tangíveis e práticas para o desenvolvimento sustentável, conservação da biodiversidade, florestas e recursos naturais da Amazônia. Atua por meio de quatro grupos temáticos (GTs): (1) Empreendedorismo, investimento de impacto e aceleração de negócios sustentáveis; (2) Oportunidades estratégicas de investimento, com base em incentivos fiscais e bioeconomia; (3) Fortalecimento de cadeias de valor Amazônicas e compras locais; (4) Fortalecimento de relações entre comunidades e empresas com base em gestão territorial integrada e Usos Socioambientais de Reservas Privadas

O programa de aceleração, que tem duração de seis meses, inclui, além do dinheiro, capacitações, mentorias, assessorias em áreas como contabilidade, jurídica e marketing e bolsas para participação em feiras e eventos pelo Brasil. Parte desses coaches pode inclusive, ser dada pelas próprias integrantes da PPA. “Se o setor privado não assumir o protagonismo nessa luta pela preservação, não vai funcionar. Não estamos falando de filantropia. Estamos falando sobre apoiar negócios concretos, que geram empregos, renda e rendimentos para os investidores”, afirma Cenamo.

O Programa de Aceleração é liderado por um grupo de empresas da PPA, coordenado pelo Idesam e conta com apoio estratégico e financeiro da USAID, CIAT, Instituto Humanize e Fundo Vale. Contou ainda com a parceria da Pipe Social, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, Instituto Centro de Vida (ICV), Fundação CERTI, Fundação Rede Amazônica, FIIMP, Sitawi, ICE, NESsT e Conexsus e apoio das seguintes empresas e organizações: Natura, Instituto Peabiru, Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam) Bemol, DD&L, Whirpool Cervejaria Ambev, Beraca, Agropalma, Abrapalma, Althelia e Grupo Rede Amazônica.


Proposta da Onisafra, que atua nas regiões norte e sudeste, é investir tanto em tecnologia quanto na área comercial. Foto: Divulgação

Negócios selecionados para o

Programa de Aceleração 2019-2020

 Academia Amazônia Ensina (Manaus, AM)

Criada em setembro de 2018 com base na ideia do fundador João Tezza de preparar estudantes de graduação e pós-graduação para novas habilidades do futuro, a Academia Amazônia tem a floresta amazônica como plano de fundo e foco principal. Oferece cursos, que contam em média com 15 alunos por turma, para difundir e discutir sustentabilidade, tecnologia, conservação meio ambiente e desenvolvimento econômico, com expedições para a floresta, nas quais os alunos participam de vivências sensoriais e se comprometem a desenvolver projetos para desenvolvimento sustentável na região. O público principal está nas universidades, centros de capacitação e empreendedores em diversos níveis.

COEX Carajás (Parauapebas, PA)

A Cooperativa dos Extrativistas da Flora de Carajás (COEX Carajás) surgiu em 2011 com o nome Cooperativa Jaborandi, tornando-se COEX Carajás em 2011. Atua na Floresta Nacional de Carajás. Possui 39 cooperados e tem como missão gerar renda por meio da extração sustentável das folhas do jaborandi, matéria-prima para a formulação de produtos farmacêuticos, e da comercialização de sementes de outras espécies, atividade esta que já auxiliou na recuperação de mais de mil hectares de floresta.

Na Floresta Alimentos Amazônicos (Manaus, AM)

Empresa fundada em 2003, tem como principal produto o Chocolate Na’kau, produzido desde 2017 com cacau amazônico comprado de comunidades ribeirinhas agroextrativistas. Nasceu a partir da preocupação em conservar a floresta amazônica por meio do fornecimento de alimentos éticos e íntegros, incluindo os povos amazônicos. Hoje trabalha com oito famílias de produtores de cacau e outros 24 indiretamente impactados. Os produtores estão localizados nos rios Madeira e Amazonas, sendo uma unidade de conservação e um assentamento da reforma agrária, nos municípios de Manicoré, Nova Olinda, Novo Aripuanã e Borba.

Pratika Engenharia (Manaus, AM)

Fundada em 2018, a Pratika Engenharia é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão reduzir impactos ambientais de painéis solares para produção de energia elétrica em comunidades indígenas e quilombolas isoladas da Calha Norte do Estado do Pará. O gerador a diesel é uma das principais alternativas utilizadas nos locais sem acesso à energia distribuída, e a Prática oferece venda e instalação acessível de painéis solares tradicionais para produção de energia elétrica em comunidades isoladas da Amazônia como forma de substituir os geradores movidos a diesel, reduzindo gastos, fornecendo energia limpa e renovável e mitigando o impacto ambiental negativo do uso de óleo diesel

Manioca (Belém, PA)

A produção de geleias, temperos e farinhas com matérias-primas da floresta, como priprioca, cupuaçu, jambu, taperebá, açaí e tucupi conta com o trabalho de produtores da agricultura familiar. Entre seus clientes, estão o Grupo Pão de Açúcar, o restaurante D.O.M., do premiado chef Alex Atala, e o St. Marché. Com os R$ 200 mil captados na edição 2018, a empresa investiu em um programa de capacitação e desenvolvimento de fornecedores e implantou um centro de distribuição em São Paulo, para otimizar e diminuir os custos da operação logística. Agora, com os R$ 250 mil da rodada de 2019, vai investir no lançamento da granola de tapioca, a novidade da empresa. Outra parte do dinheiro será usada para montar um espaço próprio para os produtos à base de tucupi, atualmente terceirizados.

NavegAM (Manaus, AM)

Startup de tecnologia fundada em 2018, promove vendas de passagens e transporte de cargas fluviais online e serviço de acompanhamento logístico rodoviário e fluvial na Amazônia. Sua plataforma online permite também a gestão de serviços e operações financeiras de transportadores/clientes locais, de dados e informações logísticas variadas como quantidade de pessoas, preços, vendas por agência etc. Atualmente, a NavegAM consiste em um módulo interno para embarcações, gerenciando informações de venda de passagens, e um aplicativo para efetuar a venda dessas passagens, tanto na própria embarcação quanto nas agências que oferecem essas passagens. A proposta da empresa é reduzir custos e democratizar o transporte de passageiros e cargas na Amazônia, viabilizando assim cadeias de valor estratégicas para a conservação da floresta.

OKA Sucos (Ananindeua, PA)

A OKA Juice é uma empresa de alimentos estabelecida em 2018, que tem como missão ser referência nacional e internacional na produção de alimentos associados à preservação da Floresta Amazônica. Nasceu como opção de escala industrial para oferta de sucos com frutas nativas da Amazônia para o mercado nacional e internacional, e objetiva verticalizar a produção primária de frutas regionais. Produz sucos e néctares de frutas nativas da região como açaí, bacuri, cupuaçu, etc. utilizando açúcar demerara. Todo o ciclo produtivo é pensado de forma sustentável para que gere o mínimo de lixo e impactos negativos ambientais. Além dessa produção, a empresa também tem como objetivo atender a cadeia de uma ponta a outra, desde a produção dos insumos, capacitação dos fornecedores, recuperação de área florestal, utilização de fornecedores de garrafas e rótulos da região até a logística reversa das embalagens.

Onisafra (Manaus,AM)

A valorização da agricultura familiar é o coração da Onisafra, plataforma idealizada para ajudar os produtores a escoarem as hortaliças eliminando intermediários e ligando-os diretamente ao consumidor. A empresa que atua em Manaus, Belém e São Paulo, participou da primeira edição do evento. Com os recursos captados na edição de 2019 – R$ 350 mil – vai expandir a plataforma para possibilitar a criação de multilojas. Qualquer grupo de agricultores pode criar sua própria loja dentro da plataforma, permitindo que o consumidor compre diretamente dos agricultores.

Tucum (Rio de Janeiro, RJ)

Fundada em 2012, a organização tem como missão valorizar e promover a arte das populações indígenas e tradicionais do Brasil, gerando renda para suas comunidades. A Tucum faz isso por meio de parcerias comerciais com associações, cooperativas, grupos produtores ou artistas, pautadas pela ética, legalidade, sustentabilidade, respeito às realidades locais e relações economicamente equilibradas. É reconhecida pelo selo Origens Brasil e atualmente conta com 2.500 artesãos em 31 terras indígenas e/ou áreas protegidas, representando 54 etnias. O desenvolvimento da cadeia produtiva do artesanato promove geração de renda de modo sustentável, valorização da cultura, empoderamento de mulheres e circulação pelo território, sendo um contraponto ao envolvimento com atividades em garimpo e madeira