Pesquisa Tsunami60+ aponta desafios e tendências do mercado sênior

Lívia Hollerbach, Layla Vallias e Mariana Fonseca, idealizadoras da pesquisa. Foto Rafael Ribeiro

Em 2050, o Brasil será o 6º país no mundo com maior número de pessoas com mais de 60 anos. São os “novos velhos”, pessoas que trabalham, se exercitam, ajudam suas famílias e influenciam o meio onde vivem.

Os brasileiros com mais de 60 anos são hoje, em sua maioria, provedores da família, ajudam os filhos e netos e se relacionam cada vez melhor com novas tecnologias como computadores e smartphones. Para saber mais sobre essa fatia crescente da população, seus anseios, angústias e como se relacionam com o dinheiro, a Pipe.Social e a Hype60+ realizaram a pesquisa Tsunami60+. Entre os dados, está o fato de que apesar desses consumidores maduros movimentarem R$ 1,6 trilhão por ano no Brasil, ainda existem poucos produtos e serviços que são desenhados e que resolvam problemas desses importantes representantes da “economia prateada”.

O mapeamento faz um raio x do estilo de vida, da autoimagem, dos hábitos de consumo e da relação com a cidade dos brasileiros que compõem o mercado sênior ou dos “maduros”. A pesquisa quantitativa entrevistou 2.242 pessoas acima de 55 anos de todos os estados brasileiros e de todas as classes sociais. Para a pesquisa qualitativa, os pesquisadores visitaram as casas e mergulharam na rotina de 88 pessoas com mais de 60 anos de 5 capitais.

Em 2050, os 60+ serão mais de 68,1 milhões no Brasil, enquanto as crianças e adolescentes com até 14 anos serão 18,8 milhões, segundo a Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos. Esse progresso demográfico, que cresce 3% ao ano, é resultado do aumento da longevidade e da queda da taxa de natalidade. Classificado como Tsunami Prateado, esse contingente deve ser visto como um desafio, mas também uma força positiva para a economia e uma oportunidade social.

“Envelhecer é uma novidade. Por mais que a frase possa remeter a uma contradição, estamos vivendo mais do que o esperado; encontrando desafios nunca enfrentados e mudando paradigmas antigos sobre a idade. Entretanto, poucos querem falar sobre o tema. Estamos focados na beleza da juventude e pouco preocupados com a riqueza que reside na sabedoria do tempo de vida. É necessário mudar a mentalidade e dar luz às pessoas com mais de 60 anos. São elas que vão nos ensinar sobre os hábitos, desejos e o mercado emergente que está se formando para uma população cada vez mais longeva. Essa visão do amanhã motivou a elaboração desse projeto audacioso, que é só o início de uma jornada de estudos”, detalha Mariana Fonseca, futuróloga, cofundadora da Pipe.Social e uma das coordenadoras do Projeto Tsunami60+.

O mapeamento mostra que entre os entrevistados, 58% são casados, 22% divorciados, 10% viúvos e 10% solteiros; 75% são brancos, 18% pardos ou mulatos e 4% negros; 50% se declaram católicos, 15% evangélicos, 15% espíritas, 12% agnósticos ou ateus, e 6% outras religiões. Na análise da escolaridade, 19% possuem pós-graduação, mestrado ou doutorado; 33% ensino superior completo; 35% ensino médio completo; e 12% ensino médio incompleto ou menos anos de estudo. A pesquisa contou com 53,5% de homens e 46,5% de mulheres, sendo 54% das capitais, 20% das regiões metropolitanas e 26% do interior dos Estados.

Setores como saúde, seguros e cuidados estão entre aqueles que oferecem reais oportunidades de empreender, mas há inúmeros desafios a vencer. Falta planejamento financeiro e espaço para trabalhar; faltam ofertas de consumo e marcas para os 60+; faltam espaços nas cidades e agendas públicas; e, especialmente no que se refere à baixa renda, há enormes desafios com a saúde e a dependência.  As cidades brasileiras não estão preparadas para o envelhecimento seja por problemas de topografia, iluminação ou segurança. Além disso, 54% dos brasileiros com mais de 55 anos afirmam que há pouca ou nenhuma opção de lazer nas cidades.

A pesquisa aponta que somente 10% dos brasileiros com mais de 55 anos acreditam que a palavra “idoso” seja a mais adequada para definir uma pessoa com mais de 60 anos. A cada três brasileiros, um acredita que ‘maduro’ seja uma nomenclatura melhor para classificar os 60+.

“Diante dos resultados, fica claro que é preciso rever o conceito de idoso. Há uma energia voltada para a realização e descoberta que se faz muito presente nessa geração”, analisa Lívia Hollerbach, uma das coordenadoras da pesquisa e cofundadora da Pipe.Social. “Nunca achei que chegaria tão bem na idade em que estou”, a frase resume o sentimento de 68% dos brasileiros, acima de 55 anos, sendo que acima dos 75 anos essa percepção sobe para 70% dos entrevistados; na região Sul do país, 72% concordam com a afirmação.

Para Layla Vallias, cofundadora da Hype60+ e uma das coordenadoras da pesquisa, “um dos erros mais comuns é considerar os idosos como uma massa uniforme de consumidores com desejos e necessidades iguais”. Não somente as estatísticas têm sido desmentidas, como os estereótipos estão sendo quebrados por esses brasileiros prateados. Os idosos de hoje têm um estilo de vida e hábitos de consumo que eram, há três décadas, associados aos jovens. Namoram online e têm vida sexual ativa, trabalham, são ativistas de causas modernas, continuam curtindo rock e buscam aprimoramento intelectual e profissional. A definição de idoso está muito velha”, afirma.

Entre os desafios revelados pela pesquisa está também a formação de famílias com novos formatos e os conflitos familiares que muitas vezes decorrem dessa nova estrutura. Entre os brasileiros com mais de 55 anos, 70% têm dois ou mais filhos; 38% têm pai e/ou mãe vivos. Se por um lado a convivência intergeracional traz ganhos para todos – sobretudo, uma dinâmica de troca que oxigena as pautas e informações –, de outro, as tensões surgem. Entre os entrevistados, 58% moram com o cônjuge; 31% com os filhos; 8% com outros familiares; e 4% com os netos. Nesse cenário, a cultura de que se cria os filhos para o mundo, cai por terra por pressões econômicas. Há filhos sobrecarregando os pais e vice-versa; 46% dos idosos afirmam serem a base da família e o peso que isso causa.

Há, ainda, a chamada geração sanduíche que se desdobra entre os cuidados com os filhos e com os próprios pais. Um dos maiores impactos do alargamento da vida é exatamente a gestão do cuidado com os mais velhos; a função de cuidador é exaustiva e pode levar à depressão já que o cuidador dedica muito tempo à função e esquece de si: não tem tempo para atividades físicas, termina relacionamentos e pode até parar de trabalhar.

 Destaques da pesquisa 

  • Provedores – No Brasil, 63% das pessoas com mais de 60 anos são provedoras da família e ajudam os filhos, os netos, pagam as contas das próprias casas e de outras com o dinheiro do trabalho ou da aposentadoria.
  • Redes SociaisApenas 10% declaram não estar em nenhuma rede social.
  • Computador/notebookEntre os entrevistados com até 64 anos, 85% possuem computador/notebook – o computador está menos presente na região Norte (67%) e entre as classes mais baixas.
  • Smart-TV63% possuem smart-tv.
  • Smartphone – 92% dos prateados possuem smartphone. O índice é de 51% entre os 75+ e 96% entre os com até 64 anos.

Quando perguntados sobre as atividades feitas no celular, entre as 10 atividades estão 91% ligações; 81% acessam redes sociais; 80% pesquisam na internet; 66% tiram e gerencia fotos/vídeos; 64% checam e-mails; 61% assistem a vídeos; 60% acessam o banco; 51% ouvem música; 58% usam navegadores e GPS; e 55% pedem táxi e UBER.

Entre os 75+ os principais usos são: 82% ligação; 40% táxi e UBER; 39% ouvem música; 32% acessam redes sociais; 29% tiram e gerencia fotos/vídeos; 27% pesquisam na internet; 26% assistem a vídeos; 21% checam e-mails; 20% acessam o banco; 20% usam navegadores e GPS.

  • ViagensViajar é o sonho de todos – independentemente da faixa etária e classe social – e a realidade de alguns. Para 79%, a viagem simboliza o imaginário da aposentadoria.
  • GratuidadesO universo das gratuidades é muito bem explorado pelos maduros com mais de 65 anos. Eles acessam redes próprias e buscadores para saber de cursos, atividades, eventos e espaços com opções de lazer, aprendizado e convivência. Entre os 75+, apenas 16% afirmam pagar o valor integral; nas classes C, D e E está o maior índice de uso da gratuidade: 46% contra 11% da classe A.
  • Saúde – Chegar à maturidade com saúde contribui para o sentimento de não estar velho; isso ocorre porque há uma clara relação entre velhice e doença, na percepção dos maduros. “Minha saúde mental e física está bem” – 62% dos brasileiros, com mais de 55 anos, se identificam com essa frase. Somente após os 75 anos, o corpo dá os primeiros sinais de envelhecimento, na percepção de 65% dos entrevistados com até 64 anos; 57% acreditam nessa afirmativa entre 65 e 74 anos; e 47% dos entrevistados com mais de 75 anos. O uso de medicamentos contínuos para doenças como diabetes e pressão alta é encarado como cuidado com a saúde e não falta de saúde.

 Pesquisa

A pesquisa quantitativa e etnográfica foi realizada nos meses de julho e agosto e se divide em três capítulos. No primeiro, um Raio X de quem são e como vivem os prateados brasileiros, mapeando aspectos como saúde e cuidados; relações afetivas e sexualidade; trabalho e ocupação; tecnologia (posse e uso); relação com a cidade; lazer e viagens; compra e consumo. No segundo capítulo, as Tensões da longevidade: desafios da extensão do tempo. Nele, análises sobre mais tempo na aposentadoria (planejamento financeiro e espaço de trabalho); mais tempo no consumo (ofertas e marcas para os 60+); mais tempo na cidade (espaços e agendas para os 60+); mais tempo em família (ninho cheio e geração sanduíche); e mais tempo no corpo (desafios com a saúde e dependência). No terceiro capítulo – Envelhecimento 2.0: um novo olhar para a maturidade – o propósito de vida versus papéis (a busca pelo pertencimento) e oportunidades do envelhecimento (novos negócios e ofertas).