Pesquisa da Pipe.Social mostra como investidores avaliam negócios de impacto

Entre julho e dezembro de 2019, pesquisadores da Pipe.Social foram a campo ouvir investidores de impacto atuantes no país e empreendedores investidos por eles. A pesquisa Scoring de Investimento de Impacto traz uma análise sobre o setor de investimentos de impacto no Brasil e no mundo, visões de especialistas, e aprofunda o conhecimento sobre a dinâmica da interação entre investidores e empreendedores de impacto socioambiental.

O que os investidores de impacto buscam no momento de investir em um negócio? Que indicadores olham? O que os negócios que já conseguiram seu primeiro capital têm em comum? Quais características os diferenciam dos negócios que ainda não receberam investimento?

A pesquisa Scoring de Investimentos de Impacto faz um levantamento em profundidade da jornada de seleção de negócios de impacto e os critérios de investimento praticados neste mercado. A pesquisa foi conduzida pela Pipe.Social – plataforma-vitrine que mapeia negócios de impacto e conecta empreendedores com investidores, aceleradoras, marcas, governos etc. que, desde 2017, acompanha a jornada do empreendedor e sua demanda por investimento. Agora, a equipe se dedicou à compreensão do perfil, demandas e jornada de captação de investimento.

Apresentação da pesquisa pela Pipe.Social no Google Campus, em São Paulo

Entre julho e dezembro de 2019, a equipe estudou o mercado no Brasil e no mundo, ouviu 51 profissionais (investidores e empreendedores) e apontou 22 indicadores de investimentos praticados no mercado de impacto brasileiro. O levantamento é inédito e serve como guia prático de autoavaliação para empreendedores que buscam investimentos se prepararem para captar com sucesso.

A pesquisa Scoring de Investimento de Impacto é resultado de um trabalho robusto e colaborativo entre os times da Pipe.Social e dos patrocinadores Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, Instituto Renault e Itaú Unibanco, e também dos apoiadores PwC Brasil, Trés Investimentos, Palladium Group, além de vários especialistas do ecossistema.

“Buscamos com este estudo traçar várias características práticas da avaliação dos negócios e ferramentas que possam facilitar esse encontro entre investidores e empreendedores. Sempre ouvimos a voz dos empreendedores – atualmente são mais de 4 mil negócios cadastrados na nossa base –, seus desejos e desafios, assim como geramos frequentemente dados qualitativos sobre os diferentes negócios do mercado de impacto brasileiro. Agora foi a vez de ouvir também a fundo as dores e demandas dos investidores em busca de soluções e tentar encontrar os gargalos para que esse diálogo seja mais fácil e frequente. Chegamos a 22 métricas recorrentes entre os investidores e esperamos poder ajudar na formação e preparo dos empreendedores que querem captar no mercado”, explica Mariana Fonseca, CEO e cofundadora da Pipe.Social.

Mariana Fonseca: sempre ouvimos a voz dos empreendedores; agora foi a vez de ouvir as dores e demandas dos investidores e tentar encontrar os gargalos para que esse diálogo seja mais fácil e frequente

Esse é um mercado aquecido em todo mundo, que cada vez atrai mais dinheiro em busca de boas soluções que sejam escaláveis ao mesmo tempo em que geram impacto socioambiental. “O campo de investimento de impacto ganhou especial tração nos últimos dois anos. Globalmente foram mapeados US$ 0,5 trilhão investidos em impacto, segundo a GIIN 2019 e o tema já aparece como central em declarações de grandes investidores – como, por exemplo, Larry Fink, da Blackrock, maior gestora de recursos do mundo – e, recentemente, na reunião em Davos do Fórum Econômico Mundial. É um movimento sem volta. O crescente interesse de investidores traz urgência para que os empreendedores de impacto tragam oportunidades concretas e atrativas de investimentos. Precisamos de mais e melhores negócios de impacto que consigam acessar recursos para crescer e poder adequadamente responder à complexidade e à dimensão dos desafios sociais e ambientais”, diz Beto Scretas, investidor na Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto.

Indicadores

O ponto de partida dos investidores no momento é a análise de uma oportunidade de investimento e do potencial de impacto da solução. O estudo revelou que os investidores avaliam os negócios sob três dimensões: avaliação dos empreendedores e sua equipe, avaliação dos números e desempenho do negócio e avaliação do impacto gerado ou pretendido. A próxima etapa foi integrar essa dinâmica com vinte e dois indicadores de investimento de impacto. São eles:

Indicadores de avaliação de empreendedores/equipe: formação educacional; experiência; conhecimento de negócios; conhecimento do negócio; complementariedade do time; comprometimento; reputação; referências; grau de coachability.

Indicadores de avaliação de negócio: solução (produto/serviço); fase da jornada; modelo de negócio; gestão financeira; quadro acionário; governança; mercado potencial; potencial de escala; potencial de saída;

Indicadores de avaliação do impacto: relevância do problema; intencionalidade; tese de mudança; medição de impacto.

Alguns investidores nascem com o conceito de impacto claro, outros chegam de mercados tradicionais de tecnologia e inovação para experimentar investir no setor. Há tanto visões mais restritivas quanto ao modelo que um negócio de impacto deve ter quanto outras mais abrangentes. “O Scoring de Investimentos de Impacto mostra um setor diverso dos dois lados do balcão, com investidores e negócios de impacto para todos os gostos. Ainda assim, conseguimos encontrar algumas características em comum entre os negócios que conseguem captar investimentos e algumas dicas para empreendedores que pretendem buscar seu primeiro investimento”, afirma o economista e analista de investimentos na Pipe.Social, Pedro Hércules Rosário.

O estudo apontou equity (participação acionária) e dívida (conversível ou empréstimo tradicional) como os mecanismos de investimento mais comuns na hora de acessar investimentos pelos empreendedores de impacto. No primeiro deles, os investidores aportam recursos financeiros em troca de participação na empresa. Ou seja, tornam-se sócios do negócio investido. Isso significa que o investidor é remunerado principalmente pela venda da sua participação em eventual aquisição ou IPO da empresa. As formas mais comuns de investimento via equity para negócios emergentes são investimento anjo e fundos de venture capital, com retorno variável e de longo prazo.

Já no empréstimo, onde um acordo é feito entre o empreendedor e o banco ou agente financeiro, onde o negócio recebe uma determinada quantia com a promessa de quitá-la no futuro, acrescido juros e, muitas vezes, em parcelas pré-definidas. Considerado um investimento de baixo risco, com retorno baseado em juros, sendo fixo e pré-determinado; o empréstimo tem retorno de investimento de curto e médio prazo.

Dependendo do perfil do investidor e mecanismo utilizado, o nível de exigência para o negócio investido pode variar. Pedro Hércules esclarece que captar um investimento requer do empreendedor clareza do estágio do seu negócio e visão sobre a aplicação do recurso.

“Há três anos a Pipe vem estudando o perfil e os números dos negócios de impacto socioambiental no país e também necessidades e demandas dos empreendedores, para dimensionar este pipeline e acenar oportunidades para os atores do setor. Era preciso agora, fazer uma escuta dos principais investidores do setor para entender sua jornada e critérios na seleção de seu portfólio. Com este estudo, apresentamos ao empreendedor os parâmetros do processo de busca e seleção dos investidores de impacto, um verdadeiro guia para promover sua autoavaliação no momento de captação e apoiá-lo nesse diálogo”, afirma Livia Hollerbach, cofundadora e COO na Pipe.Social.

Lívia Hollerbach: com esse estudo, apresentamos ao empreendedor os parâmetros do processo de busca e seleção dos investidores de impacto, um verdadeiro guia para promover sua autoavaliação no momento de captação.

Metodogia

Para publicar este resultado, os pesquisadores levantaram dados sobre o setor de investimentos de impacto no Brasil e no mundo, entrevistaram os principais investidores do país e empreendedores investidos por eles, analisaram indicadores e os testaram por meio de uma ferramenta quantitativa com diversos empreendedores investidos e não investidos do setor. Além disso, foram realizados workshops com patrocinadores, parceiros e especialistas do setor para uma construção conjunta da análise e validação dos insights de campo.

Ao todo, foram 51 entrevistas em profundidade com investidores e empreendedores, buscando alcançar representatividade da amostra nas diferentes regiões do país, e três workshops de análise com um time de 12 especialistas no setor.

A pesquisa na íntegra está disponível no site Pipe.Social.