Investimento Social Privado, Inovação e Gestão Pública

Formação de lideranças para a gestão pública, eficiência do gasto e a necessidade de interação entre a sociedade civil e o governo foram as principais linhas da conversa sobre Investimento Social Privado (ISP), Inovação e Gestão Pública, parte da programação aberta do X Congresso GIFE, no dia 4 de abril.

Na esteira da trilha “O que o ISP pode fazer por…”, representantes da Fundação Lemann, Instituto Humanize, Fundação Brava, Vetor Brasil, Comunitas e Fundação Getulio Vargas, instituições ligadas à área de educação e com foco em gestão pública, apresentaram seus projetos e compartilharam experiências.

Lideranças

“Talvez o nosso olhar para gestão pública seja muito amplo e isso acarrete a dispersão do ISP, sem conseguir mudar de fato alguma coisa na nossa realidade. Para avançar, é necessário focar não apenas na eficiência do gasto e na melhoria das políticas setoriais, mas olhar para quem pode fazer a diferença. Quem já passou pela gestão pública, sabe que as pessoas fazem toda a diferença”, provocou Werner Sutti, da Fundação Lemann.

A entidade coordena uma rede de mais de 450 pessoas comprometidas com a solução dos problemas sociais do país. “Pessoas que estudaram fora, são preparadas, mas quando voltam não conseguem trabalhar na gestão pública. O Brasil tem uma estrutura de serviços públicos bastante consolidada, mas atrasada em relação aos cargos de liderança. Em comparação com países da América Latina e da Europa, o Brasil trabalha na linha de coalisão. A regra geral de acesso à gestão é o da indicação política,” afirma Sutti.

A Fundação Lemann iniciou em 2017 um levantamento sobre os aspectos que envolvem a gestão pública, a partir de um benchmark com outros países e mais de 80 entrevistas com especialistas, políticos e representantes do Terceiro Setor. “A conclusão foi que esse tema envolve pouquíssima reflexão e não faz parte da agenda de praticamente nenhum governo. O Brasil conta com 653 mil servidores federais. Desses, 98 mil são cargos comissionados e 1.080 são cargos de liderança, entre secretários nacionais e diretores. Vimos então a oportunidade de sensibilizar as pessoas que detém as decisões de governo, começar a olhar para esses cargos para transformá-los em alavanca de uma nova mentalidade, procurar as pessoas mais aptas e sensibilizá-las. É preciso superar os obstáculos, apostar na gestão de pessoas e ter liderança capacitada na gestão pública. Focar esforços na forma de como escolhemos os nossos líderes de governo, não os líderes políticos e ministros, mas os cargos técnicos dentro dos ministérios e nas agências. Se a gente conseguir olhar isso, vamos ter as pessoas certas que promovam as mudanças”, aponta Sutti

O Instituto Humanize trabalha com uma agenda de meio ambiente voltada para as cidades. Ao desenvolverem ações estruturantes para chegar aos resultados pretendidos, identificaram que a gestão pública era um elo-chave. “As empresas se preocupam com a gestão de pessoas, contratando e capacitando as melhores pessoas para os lugares certos. O setor público não tem esse olhar. Existem alguns exemplos de boas práticas, mas não é a regra”, afirma Natália Leme.

No final de 2017, o Humanize firmou uma parceria com a Fundação Lemann para desenvolver várias frentes: identificar as lideranças, realizar capacitação, sistematizar boas práticas e, por fim, formar uma rede de pessoas capazes de apoiar as mudanças necessárias. “Nas gestões municipais, 30% do efetivo tem o ensino médio e 25% apenas o fundamental, o que revela a baixa capacitação técnica. Na outra ponta temos 85 universidades do Brasil que oferecem cursos de gestão pública. O setor público, por sua vez, não absorve essa capacitação. O ISP tem que atuar nessa frente”, comenta Natália.

Educação

Rodrigo Vaz, da Fundação Brava, destacou que falar de inovação no setor público ainda é prematuro, em razão do ambiente jurídico frágil, que muitas vezes penaliza gestores inovadores.

Desde 2002, a Fundação Brava trabalha com gestão pública, desenvolvendo projetos estratégicos na área de educação e inciativas de suporte para gestores. “Nessa caminhada, observamos que muitas ações não conseguem se manter com a troca de governantes e de partidos políticos. Em 2017, iniciamos um programa de pós-graduação de gestão de pessoas com o Insper e está programado um mestrado acadêmico. Pessoas são um grande gargalo, mas também alavancas de mudança. Organizações se diferenciam em função da liderança. O nosso objetivo é qualificar o capital humano que já está dentro no setor público. Pensar em incentivos para que as pessoas não cresçam apenas na carreira, mas se desenvolvam também”, conclui Rodrigo.

A professora da Fundação Getulio Vargas, Regina Pacheco, enfatizou que o ISP deveria usar as informações disponíveis para ampliar o olhar e promover melhorias nas políticas públicas. “Os dados são contemporâneos e podem ser analisados, para além do debate ideológico, para avançar. Um dos problemas que merecem atenção é, por exemplo, o absenteísmo”, explica Pacheco.

Área municipal

Patrícia Loyola, da Comunitas, compartilhou cases bem-sucedidos desenvolvidos na área municipal, conectando inovação e empreendedorismo. Pelotas (RS) é um deles, que passou a contar com recursos tecnológicos para fazer a gestão da área de saúde e aprimorar o atendimento.

O Brasil possui cerca de 5,5 mil municípios, e como é inviável a atuação em todos, o projeto Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável desenvolvido pela Comunitas prevê que as experiências e casos de sucesso possam ser replicados em localidades diferentes. Outro ponto fundamental é fazer com que, naqueles projetos mais maduros, os empresários locais e a população participem ativamente da gestão pública, como forma de perenizar os ganhos obtidos. “O diálogo com a sociedade civil é fundamental para implementar a inovação e melhorar os processos’, constatou Patrícia.

Jovens lideranças

Com o objetivo de ligar jovens com grande potencial a cargos públicos de alto impacto, a startup Vetor Brasil oferece dois programas de desenvolvimento e atração de talentos para a gestão pública: Trainees e Líderes de Gestão Pública. “O governo brasileiro tem dificuldade para atrair jovens líderes para posições de alto impacto e essa é a nossa motivação. Atrair jovens motivads e engajados para fazer a mudança no setor público”, comentou Joice Toyota, da Vetor Brasil.

Participantes da discussão sobre

O Investimento Social Privado pela Gestão Pública

X Congresso GIFE

Weber Sutti – Fundação Lemann

Natália Leme – Instituto Humanize

Rodrigo Vaz – Fundação Brava

Joice Toyota – Vetor Brasil

Regina Pacheco – Fundação Getulio Vargas

Patrícia Loyola – Comunitas