Turma de 2020 do Programa de Aceleração da PPA faz seu primeiro encontro

Reunidos durante cinco dias, em Manaus (AM) e em um hotel na selva, sem conexão com a internet, integrantes dos 15 negócios selecionados pelo Programa de Aceleração da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) participaram de uma oficina de modelagem de negócios e construção de indicadores. O encontro foi organizado para ajudar os participantes a aprimorar modelos de negócio e indicadores de resultado e impacto.

Segundo a PPA, a programação foi direcionada ao diagnóstico do estado dos negócios, criação de um plano de desenvolvimento individual e aprofundamento de um olhar pessoal para os empreendedores, fomentando ao máximo o ambiente de trocas e a construção de redes. Também foram abordados fluxo e modelo de negócio, geração de receita, avaliação e monitoramento e cultura organizacional.

O evento foi facilitado pela Sense-Lab e pela Move Social, parceiros do Programa e idealizadores do Modelo C, e também pela Maniê, consultoria que apoia o desenvolvimento de pessoas e organizações que buscam gerar impacto positivo

“Estamos extremamente empolgados com essa nova turma. São negócios e empreendedores que têm potencial para transformar a economia da região, cada um na sua área, em sua especialidade. A construção dos modelos de negócio e teorias de mudança de cada um deles nos permitiu avaliar em profundidade o impacto que cada um quer gerar e construir também os indicadores que irão avaliar o crescimento desses negócios. É uma turma extremamente promissora”, avalia Mariano Cenamo, diretor de novos negócios do Idesam, instituição implementadora do Programa de Aceleração da PPA.

Uma das particularidades do Programa de Aceleração da PPA é a customização a partir das necessidades dos próprios negócios acelerados. Assim, além dos planos de ação individuais construídos ao longo desses cinco dias, o grupo sugeriu temas a serem abordados nos próximos encontros presenciais, que deverão acontecer nos meses de abril e junho. O Programa tem seis meses de duração e inclui também mentorias individuais, assessoria jurídica, contábil e de marca, bolsas para participação de eventos e cursos.

A coordenadora do Programa, Ana Carolina Bastida, avalia positivamente o primeiro encontro dos empreendedores, destacando o fato de eles terem definido, por meio do planejamento estratégico elaborado com base no Modelo C, os desafios em que devem trabalhar nos próximos meses. Ao mesmo tempo, a coordenação do Programa passou a entender também as fragilidades e desafios de cada negócio e como contribuir para o seu avanço. “Outro ponto a destacar é que, com a teoria de mudança e a matriz de indicadores construídos ao longo desses dias, já sabemos quais os principais itens a serem mensurados nas próximas etapas do programa, em termos de mudança, de impacto e de resultados”, completa.

Imersão reforça conexão entre empreendedores

É um grupo diverso, mas complementar. Para a equipe da Maniê, essa característica proporciona uma troca bem rica e fortalece a rede. Os participantes saem desse workshop bem unidos no senso de propósito, da Amazônia, dessa causa maior.

Yurik Ostroski, do Sense-Lab, destaca que o processo de seleção bem feito para chegar aos 15 negócios acelerados fez toda a diferença na composição do grupo e que durante a aplicação do Modelo C, ao olhar mais de perto a estrutura de cada um deles, transparece uma consistência já muito grande no dia a dia das iniciativas. “Precisam de uma lapidação aqui e ali no modelo de negócios, talvez nos indicadores, mas na essência eles já têm uma causa muito forte de transformação. Procuramos criar uma energia, durante a facilitação, para que os conteúdos não ficassem muito maçantes e colocamos em todos os dias muitos momentos de conexão entre eles. Quando se trabalha com problemas sistêmicos, precisamos estimular essa união, as trocas entre quem já testou coisas e pode ajudar. Vi isso acontecendo em vários momentos. Embora eles estejam trabalhando muitas vezes com cadeias diferentes, têm muito aprendizado comum nos modos de fazer. Para nós, estar nessa rede de parceiros que o Idesam, o Programa de Aceleração e a PPA proporcionam é formidável. Aprendemos muito.”

Antônio Ribeiro, da Move Social, lembra que o campo dos negócios de impacto é novo, e que vem sendo construído de modo coletivo: “a proposta do Programa de Aceleração da PPA surge muito atenta a essa construção coletiva de um campo de investimento e negócios de impacto. A gente vê isso no dia a dia do trabalho com os empreendedores e empreendedoras. É bacana ver parceiros, empreendedores e todo mundo ligado à PPA buscando pensar junto o que é esse campo, como atores do campo social e ambiental, resistindo às diversas pressões que estão acontecendo. Essa é a força de um programa como esse. Trazer as diversas vozes dos diferentes atores do ecossistema para fazer junto. É uma perspectiva coletiva e de resistência”.

O grupo que participa do Programa de Aceleração da PPA em 2020 é composto por negócios que trazem soluções em agricultura e pecuária sustentável, manejo e produção florestal, produtos e serviços ambientais, educação para conservação do meio ambiente, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, dentre outros. Três cooperativas extrativistas integram a turma, o que proporcionou também trocas bastante construtivas entre elas.

Impressões dos empreendedores

“Tínhamos que ter um treinamento desses antes de sermos empreendedoras, porque erramos muito. A vontade de ser empreendedora e a necessidade são maiores do que o conhecimento que a gente tem para isso. Logo no primeiro dia do workshop a gente já ‘bateu’ realmente na ferida, olhando para onde estão os nossos problemas, onde precisamos melhorar, para a nossa organização mesmo. E estar junto com outras cooperativas está nos ajudando a pensar problemas comuns”, avalia Hélia Félix, da Cacauway, empreendimento da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica, localizada em Medicilândia, no Pará, que fabrica chocolate a partir do cacau extraído pelo grupo.

Hélia Félix, da Cacauway, com o Modelo C construído durante o workshop

 

“A gente conhece tão bem o nosso projeto, sabe falar sobre ele, mas quando temos que colocar no papel temos um pouco de dificuldade. Com esse workshop, a gente conseguiu, e vimos como o nosso projeto é bonito, causa mesmo impacto. Isso nos dá uma visão ampliada do nosso negócio e está abrindo a minha mente para muitas coisas”, diz Adriano Lima, da Prátika Engenharia, negócio que leva energia solar a comunidades indígenas e quilombolas isoladas da Calha Norte do estado do Pará.

Maria Eugênia Tezza, da Academia Amazônia Ensina – empreendimento que promove viagens de imersão na Amazônia para debater sustentabilidade, tecnologia, conservação, desenvolvimento econômico e outros temas do século XXI junto a jovens, estudantes e empreendedores – avalia que a participação no Programa de Aceleração da PPA vai ajudar a definir indicadores que proporcionarão um melhor entendimento do impacto que o negócio gera na vida das pessoas, tanto daquelas que vivem nas comunidades visitadas durante as expedições como na das pessoas que participam do processo, vindas de outras regiões do país. “Estou descobrindo coisas importantes sobre mim também durante esse processo, como empreendedora, como mulher, como uma pessoa jovem que está inserida nesse universo de empreendimento de impacto. Estar nesse grupo de negócios, que olham todos para a Amazônia, faz toda a diferença. ”

Dos 15 negócios participantes, seis estão localizados no estado do Amazonas, quatro no Pará, dois em Mato Grosso, dois no Rio de Janeiro e um em Santa Catarina. Pela primeira vez, durante o processo de seleção dos negócios, o Programa de Aceleração abriu a possibilidade de inscrição para empresas sediadas em outras regiões do país, desde que estivessem dispostas a abrir endereço na região Norte em até seis meses após o início do Programa.

O Programa de Aceleração da PPA se destaca por ser 100% dedicado ao empreendedor que atua na floresta Amazônica, às suas demandas e realidades regionais. Além do processo de incubação e aceleração dos negócios, o Programa oferece oportunidades de investimento, cooperação, networking e a criação de uma comunidade de negócios sustentáveis interconectados.

É liderado por um grupo de empresas da PPA, coordenado pelo Idesam e conta com apoio estratégico e financeiro da USAID, CIAT, Instituto Humanize e Fundo Vale.

A PPA (Plataforma Parceiros pela Amazônia) é uma plataforma de ação coletiva, liderada pelo setor privado, que busca a construção de soluções inovadoras, tangíveis e práticas para o desenvolvimento sustentável, conservação da biodiversidade, florestas e recursos naturais da Amazônia. Atua por meio de quatro grupos temáticos (GTs): (1) Empreendedorismo, investimento de impacto e aceleração de negócios sustentáveis; (2) Oportunidades estratégicas de investimento, com base em incentivos fiscais e bioeconomia; (3) Fortalecimento de cadeias de valor Amazônicas e compras locais; (4) Fortalecimento de relações entre comunidades e empresas com base em gestão territorial integrada e Usos Socioambientais de Reservas Privadas. O Programa de Aceleração integra o GT1.