GIFE realiza encontro da Rede Temática de Negócios de Impacto na periferia

O Jardim Ângela, distrito da Zona Sul paulistana, foi considerado pela ONU, em 1996, o bairro mais perigoso do mundo. Hoje é conhecido pela diversidade cultural. Com essas palavras, Marcelo Rocha, mais conhecido como DJ Bola, recebeu os representantes de institutos e fundações que fazem parte do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) e que atenderam ao convite para o encontro da Rede Temática de Negócios de Impacto da Periferia.

O encontro aconteceu no dia 10 de agosto, na Associação Arco, localizada na Chácara Bandeirantes, um dos 82 bairros do Jardim Ângela, que acolhe cerca de 600 crianças por dia. Desse “oásis”, para se chegar ao ponto de ônibus mais próximo, é preciso caminhar 25 minutos.

Ser indutor de negócios de impacto social, explorando e fortalecendo as diversas formas de destinação de recursos privados para a geração de impacto social – em iniciativas com ou sem fins lucrativos – é uma das agendas estratégicas selecionadas para guiar a atuação do GIFE. Dessa forma, o objetivo do encontro foi proporcionar um contato direto com a periferia e com o empreendedorismo que dia a dia ganha espaço na quebrada.

Líder da produtora cultural A Banca e fundador da Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia (ANIP), Bola apresentou aos visitantes um balanço das ações que vêm sendo promovidas na região e seus resultados práticos. “Utilizamos a música, a cultura hip hop, educação popular e a tecnologia para promover a inclusão e fortalecer o empreendedorismo na periferia. Nossa missão é conectar pessoas de diferentes realidades para desconstruir mitos e enfrentar as barreiras sociais que nos cercam”, destacou Bola.

A Banca existe desde a década de 1990, mas foi com a Artemisia que o conceito de negócios sociais ganhou força. “Ser um dos protagonistas desse ecossistema foi uma das motivações. Se existe um abismo, vamos construir uma ponte. A quebrada pode ser muito mais que cliente, usuária ou beneficiária desses modelos de negócios sociais. Precisamos quebrar barreiras tendo a inovação como fio condutor. Na primeira edição da ANIP, recebemos 51 inscrições de negócios que já existiam na periferia. Selecionamos cinco NIPs para receber apoio financeiro e mentoria e, para isso, contamos com parceiros que acreditaram no pioneirismo dessa ideia”, afirmou Bola.

Os participantes da Rede Temática tiveram a oportunidade de ouvir os relatos dos empreendedores que a ANIP apoiou na primeira edição e de obterem mais informações.

Empreende Aí

Luís Coelho e Jennifer Rodrigues, fundaram o Empreende Aí, um negócio de impacto social que começou em 2015 com o objetivo de capacitar pequenos e futuros empreendedores para que pudessem criar seus negócios de forma estruturada, planejada e com menos riscos. Com uma metodologia própria e linguagem adaptada, eles já capacitaram 450 empreendedores populares. “Além disso, antes de qualquer teoria e ferramenta, o curso trabalha a questão do autoconhecimento, propósito e habilidades do empreendedor, pois desta forma o aluno poderá empreender em algo que tenha habilidade e prazer em executar”, explica Luís.

Jovens Hackers

É a primeira escola de programação, robótica e cultura maker criada para crianças da periferia. Seu fundador, Arthur Gandra, utiliza o conceito de aprendizagem criativa para incentivar os alunos a serem criadores em vez de meros consumidores da tecnologia digital. “Estamos na periferia e cobramos uma mensalidade acessível para a nossa realidade. Em 2017, formamos 500 jovens que receberam uma ferramenta para transformar habilidades em algo concreto”, comenta Arthur.

Macambira

Alânia Cerqueira falou sobre a Macambira, empreendimento sociocultural de impacto periférico no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, que presta serviços de consultoria. Compõe a equipe de educação empreendedora da Rede São Luís, formada por organizações, coletivos e associações, que promovem o empreendedorismo periférico com base na economia criativa e solidária. Alânia é a idealizadora da Noite dos Tambores, considerado um dos grandes eventos de percussão da cidade.

Boutique de Krioula

Moradora do Capão Redondo, no extremo sul de São Paulo, Michelle Fernandes é a criadora da Boutique de Krioula. Com apenas R$ 150, começou a criar acessórios e turbantes com a missão de resgatar a autoestima dos negros e valorizar a cultura afro. Além de ser acelerado pela ANIP, o negócio recebeu apoio financeiro da Fundação Via Varejo e contou com a mentoria do diretor de marketplace da instituição. “Após seis meses, conseguimos reestruturar as revendas, que aumentaram o faturamento de 20% a 30%”, diz Michelle.

Investimento social privado

Em sua apresentação, Cristine Naum, gerente de sustentabilidade da Via Varejo e diretora da Fundação Via Varejo, fez um balanço dos projetos desenvolvidos pela organização com o propósito de fortalecer os laços com as comunidades. “O empreendedorismo social é um pilar novo das nossas ações. Estamos direcionando recursos para apoiar algumas iniciativas como o Empreende Aí, Macambira, além da ANIP. O interesse dos diretores e líderes da organização é crescente e muitos já estão engajados para prestar serviços de mentoria qualificada”, afirmou Cristine.

O Instituto Lojas Renner é a organização que gera os recursos de investimento social privado das Lojas Renner S.A. Foi criado em 2008 para apoiar ações sociais empreendedoras que contribuam para a qualificação e a inclusão da mulher e o desenvolvimento das comunidades. Arno Duarte, coordenador de Responsabilidade Social, analisou os investimentos do Instituto que evoluíram de doação e destinação de recursos de incentivo fiscal para projetos de empoderamento de mulheres nas comunidades em que a companhia está presente ou em localidades envolvidas com etapas da cadeia da moda, ou seja, com a matéria-prima, a produção, o varejo ou o pós-consumo. “Estamos identificando grupos locais, buscando parcerias e, além de capacitação em gestão, trabalhamos o desenvolvimento comportamental. O projeto Empreendedoras da Moda envolve 520 mulheres em três localidades. Representa um grande aprendizado para o Instituto, mas o mais importante é que estamos aprofundando a relação”, explicou Arno.

Arno Duarte, do Instituto Lojas Renner: apoio a ações sociais empreendedoras que contribuam para a qualificação e a inclusão da mulher e o desenvolvimento das comunidades

 

 FIIMP2

“Esse encontro é muito relevante porque abre caminho para os institutos e fundações participarem cada vez mais da agenda de negócios de impacto e finanças sociais. O papel do ISP frente aos desafios e demandas socioambientais é muito significativo e tem evoluído nessa direção”, analisou Célia Cruz, coordenadora da Rede Temática do GIFE e diretora do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE).

Na ocasião, Célia Cruz chamou atenção dos participantes do encontro para o conteúdo de duas publicações (Temas do investimento social privado/GIFE e FIIMP), que trazem a trajetória do investimento de impacto e reflexões sobre a participação das fundações e institutos.

Formado por 22 fundações e institutos, o grupo Fundações e Institutos de Impacto (FIIMP) foi criado para experimentar diferentes instrumentos financeiros, conhecer organizações intermediárias e acompanhar resultados de investimentos em negócios de impacto socioambiental. “Aproveito a ocasião para fazer um convite. Estamos lançando o FIIMP2, para outras fundações que queiram participar dessa trajetória de aprendizado”, concluiu Célia Cruz.