Ações socioculturais e empreendedorismo periférico, as frentes da Macambira nas quebradas da zona sul

Grupo que participou de formação socioeducativa na Macambira. Fotos: Divulgação

Educadora popular e produtora cultural, Alânia Cerqueira atua há 20 anos nas quebradas da zona sul de São Paulo. Há seis anos, criou a Macambira Sociocultural e vem consolidando sua atuação mobilizadora entre os microempreendedores que orbitam em torno das potentes ações socioculturais no território e na articulação da Rede São Luís.

A mobilização para a Noite dos Tambores, que acontece em novembro, já está a mil. Por trás desse evento, considerado o maior encontro percussivo de São Paulo, está Alânia Cerqueira, sua produtora-executiva, percussionista e dançarina do grupo Umoja. Formada em Gestão Empresarial pela Fatec Zona Sul e graduada em Gestão Pública na Etec/Cepam – Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal, Alânia
é sócia-fundadora da Macambira Sociocultural e, desde 2016, se encarrega da gestão dos processos, diálogos e articulação dos recursos compartilhados na Rede São Luís.

Alânia Cerqueira e grupo de Educação Empreendedora, um dos eixos de atuação da Macambira

“A Macambira é uma produtora cultural que realiza ações socioeducativas. Em 2016, foi convidada para participar da estruturação da Rede São Luís, movimento que promove o empreendedorismo periférico, com base na economia criativa e solidária. As histórias se entrelaçam a partir de 2016”, conta Alânia.

Formada por diferentes grupos, coletivos, instituições e grupos produtivos que agregam empreendimentos do território, a Rede São Luís conta com o patrocínio da Via Varejo (Investimento Social Privado) e se divide nos eixos: Artesanato, Comunicação, Comercialização, Estamparia, Produtos e Serviços Socioculturais, Formação e Educação Empreendedora e Sustentabilidade.

Como parte da equipe de Formação e Educação Empreendedora, a Macambira realizou em 2017 um mapeamento das ações socioculturais do território, algumas já consolidadas como o Sarau da Cooperifa, Festival Percurso e Noite dos Tambores, que mobilizam mais de 350 nano e microempreendedores. “Agora, em 2019, com o apoio da Via Varejo e em parceria com a Escola de Negócios Empreende Aí, o Grupo de Formação e Educação Empreendedora pesquisa o panorama de advocacy das iniciativas de fomento ao nano, micro e pequeno empreendedor nas esferas pública e privada. Outro ponto é levantar os institutos e fundações que disponibilizam recursos financeiros e de capacitação por meio de editais”, explica Alânia.

Noite dos Tambores

Liderada pelo Umoja, grupo que pesquisa as manifestações da cultura afro-brasileira e atua há 10 anos no território, a Noite dos Tambores é uma produção da Macambira, que mobiliza cerca de 3 mil pessoas. Apesar do nome, envolve diversas ações como as vivências “Tambor e Educação” nas escolas públicas; os cortejos que circulam pelos espaços culturais; as oficinas de percussão, de tambor de crioula, de percussão corporal e de construção de tambores; e o Fórum Tambor e Educação, que reúne grupos convidados para debater ações conjuntas, desafios e avanços na difusão, valorização da música percussiva e formação de público.

“O impacto social, infelizmente, não é medido de forma sistematizada. Mas só a ação Tambor e Educação consiste em uma palestra do músico Salloma Salomão, que fala sobre a função social, cultural e econômica do tambor na África e na diáspora. Nesse mesmo encontro, montamos uma exposição de banners de instrumentos percussivos e suas origens e um pocket show de um grupo artístico que pode ser do Umoja, do Bate Atitude ou do Sarau dos Pretos. Essa ação dentro de uma escola impacta mais de 300 pessoas, entre alunos, professores e diretores”, afirma Alânia.

Em parceria com o Empreende Aí, a Noite dos Tambores envolve também a realização de uma feira de empreendedores e a implantação da moeda solidária Tambor.

Outras ações

Além dos empreendimentos que receberam investimentos para desenvolverem seus negócios, a Rede São Luís integra outras organizações que não têm necessariamente o objetivo de empreender. “Da rede São Luís Ampliada, fazem parte a Fundação Julita, a Anacref, o Cendira e outras instituições que também recebem investimento social privado e doações para suas ações sociais”, explica Alânia.

O diálogo entre os diferentes grupos e a gestão dos recursos é “costurado” pela Macambira. Outras frentes socioculturais estão no portfólio da Macambira como as oficinas sobre Empreendedorismo para Mulheres, realizadas no SESC Santo Amaro, que ajudam as participantes na identificação de produtos e serviços, análise da concorrência, fornecedores, parceiros e rede de apoio nos territórios.

A Macambira atua também como mediadora nas oficinas do Projeto Pense Grande, da Fundação Telefônica. O tema “atitude empreendedora” é trabalhado por meio do jogo “Se Vira” entre jovens e adultos em escolas e instituições.

O Kintal Cultural é um espaço de encontro e troca por meio de filmes e textos que trazem discussões pertinentes nas periferias. E o projeto Bicha Preta de Fé promove periodicamente rodas de conversa com convidados, abordando temáticas da homossexualidade e transexualidade negra. Com a organização A Banca, também da região sul de São Paulo, a Macambira realiza vivências e troca de experiências do repertório social, cultural e empreendedor com instituições, empreendimentos sociais e escolas. “Marcelo Rocha, o DJ Bola, é uma referência para a Macambira. Ele está abrindo um caminho importante, representando os ´fazeres´ da quebrada, de muita responsabilidade”, comenta Alânia.

O Jardim São Luís é um distrito da zona sul do município brasileiro de São Paulo. Pertence administrativamente à subprefeitura do M’Boi Mirim, juntamente com o distrito de Jardim Ângela. Os distritos de Jardim São Luís e Jardim Ângela faziam parte anteriormente do Capão Redondo. Tem uma população de 267 mil habitantes de acordo com o Censo de 2010, distribuída por uma área de 24 km², e o IDH de 0,798.