A governança corporativa na gestão de startups

Por Marcel Fukayama*

Um dos maiores equívocos de empreendedores de startups é pensar em governança corporativa como algo extremamente sofisticado; algo acessível apenas a grandes corporações e, em particular, às de capital aberto. Um dos motivos da baixa percepção de valor dessa importante dimensão da empresa se deve à desinformação. Governança é um termo bem amplo e engloba diversos aspectos, que passam pela relação societária, definição de fóruns de gestão e acompanhamento, desenvolvimento e cultura organizacional. A pesquisa Investidores de Impacto – conduzida pela Din4mo, envolvendo cadastrados na plataforma equity crowdfunding Broota – revela que para o investidor, um ponto crítico é a governança. Nessa pesquisa, a questão fica clara na afirmativa, por parte dos investidores: “a governança das startups é a minha maior preocupação”.

Para inspirar de forma mais concreta os empreendedores nesta reflexão, enumero os cinco passos básicos que podem auxiliar o gestor de startups a incluir a questão da governança. Recomendo que o empreendedor avalie, refine, ajuste e desenvolva outros instrumentos. Vale ressaltar que a governança, em muitos casos, chega a ser 50% da chance de êxito de um empreendimento bem-sucedido. Além disso, é um dos principais elementos demandados por investidores, que buscam mitigar o risco de seus investimentos. A governança é uma importante perspectiva trabalhada, inclusive, no programa Inovadores de Impacto, desenvolvido pela equipe da Din4mo.

O primeiro passo é estabelecer acordos. O empreendedor deve constituir, mesmo que em uma página, alguns acordos entre os sócios, que no futuro poderão evoluir para um acordo de acionistas/cotistas. Declarar a missão e os valores constituem o segundo passo. Nesta declaração, mesmo que de forma bem rudimentar, deve constar quais são os valores, princípios e crenças que conectam o time. Deve ficar claro também, a serviço de que a empresa está (declaração de missão). Não é incomum empresas acabarem nesse estágio, porque finalmente os fundadores/empreendedores começam a alinhar as próprias crenças e percebem que, com visões de mundo  e biografias tão distintas, podem ampliar mais a diferença entre eles do que exercer a complementaridade.

O terceiro passo está baseado na definição de papéis e responsabilidades.  É muito importante separar o papel que o empreendedor desempenha como sócio, do papel de executivo. São duas posições distintas, que podem até mesmo gerar conflito de interesse. O quarto passo é a constituição de um conselho consultivo. O empreendedor deve definir de três a cinco nomes que poderão ajudar o próprio empreendimento a cumprir a missão; profissionais que possam acelerar o desenvolvimento do negócio. A dica é escrever o perfil que busca, determinar papéis e criar esse importante fórum de gestão e acompanhamento estratégico. Que indicadores esse grupo acompanhará? Qual periodicidade? Que instrumentos de gestão terá?

Chegamos ao quinto passo: definir indicadores. É importante definir quais indicadores e como os reportará aos múltiplos stakeholders com os quais a empresa se relaciona. Esse é o início de um pensamento sobre avaliação de impacto do empreendimento e transparência.

Um bom sistema de governança cria as regras do jogo entre os atores diretamente envolvidos no empreendimento – sócios, investidores, conselheiros e time executivo – e permite que a empresa atinja o máximo da performance; com a governança, a startup preserva a missão e considera prioritariamente os princípios e valores na tomada de decisão e na criação de cultura do dia a dia.
 

(*) Marcel Fukayama

Cofundador da Din4mo, Administrador de Empresas, com MBA Executivo e Mestrando em Administração Pública. Aos 17 anos decidiu empreender: criou uma das primeiras lan houses de São Paulo e o Aula Digital – programa pioneiro de inclusão digital com crianças de creches e escolas municipais em São Paulo. Fundou três associações de mercado para influenciar políticas públicas, estruturar o campo e regulamentar o setor em São Paulo e no Rio de Janeiro. Juntou-se ao movimento global de Empresas B e cofundou o Sistema B Brasil. É coautor de Negócios com Impacto Social no Brasil, primeiro livro sobre negócios sociais no país; e da obra Economia Criativa: um conjunto de visões. Pela atuação como empreendedor social foi reconhecido como “um dos 30 jovens de até 30 anos que estão transformando o país” (Forbes Brasil); “um dos 10 CEOs mais inspiradores” (GQ Magazine); e “um dos jovens líderes empreendedores globais” (Skoll Foundation e MasterCard Foundation).