O poder da comunidade e o mundo que quero ajudar a construir

“Se quisermos ajudar a construir comunidades de impacto, devemos praticar o bem e aceitar as diferenças para que as contradições da condição humana sejam aceitas com humor e tolerância.”

Por Maria Andrea Duque Guevara*

Quando me ofereceram este espaço para escrever um artigo, senti uma grande honra e um senso de responsabilidade por compartilhar minha história sobre como comunidades transformam vidas, sobre a importância de trabalhar em rede e participar de ambientes colaborativos e sobre a urgência de praticar valores que nos façam melhores em comunidade.

Colombiana, formada em Ciência Política e Relações Internacionais, eu moro em Curitiba há 11 anos como refugiada política. Sou empreendedora social, construtora de comunidades e faço parte de um movimento transformador massivo. Acredito no poder exponencial da inovação e entendo que pessoas empoderadas têm poder de mudança e que o trabalho em conjunto produz mais e melhores resultados.

No dia 8 de abril de 2008 sofri um atentado ao qual sobrevivi a três tiros de bala calibre 38 em cabeça e pescoço. Como muitos outros refugiados de diferentes países fui vítima da violência guerrilheira e política do meu país. Vivenciei o sequestro e liberação do meu pai por parte da guerrilha do Exército de Libertação Nacional. Vi comunidades despejadas pela violência e enfrentei o desafio de pedir refúgio político no Brasil para zelar pela minha vida e sobrevivência.

Longe de casa, longe da família, sem falar a língua e com graves sequelas que as feridas deixaram, começava meu processo de inserção numa comunidade nova e desconhecida. Embora minha condição física estivesse debilitada, uma certeza eu tinha pela frente: reconhecia este ponto de inflexão como uma segunda oportunidade e daria um propósito à minha vida no Brasil. Depois de muitas experiências, diversos empregos e convivência com diferentes comunidades entendi que, se realmente queria criar um propósito, esse era o primeiro passo para praticar a inovação dentro do meu processo de aprendizado e dentro de uma nova comunidade. Aprenderia as ferramentas e metodologias para melhorar meus conhecimentos. Seria eu quem iria construir meu destino e me colocaria nos lugares certos, próxima das pessoas certas.


Criatividade e inovação precisam de um espaço físico e o processo de construção de uma comunidade passa indiscutivelmente pelo exercício da colaboração.


 

Queremos espaços onde possamos nos sentir livres para sonhar com o futuro e ter oportunidade de conectar nossas paixões com opções de carreiras. Tive a coragem de bater na porta do lugar em que queria trabalhar e a sorte de aprender ao lado de um visionário e ser parte de uma das comunidades de coworking mais antigas do Brasil e a primeira de Curitiba. Entendi nesse momento que criatividade e inovação precisavam de um espaço físico e que o processo de construção de uma comunidade passa indiscutivelmente pelo exercício da colaboração.

Minha vida mudou. Descobri que sentia imensa satisfação escutando pessoas, ajudando a achar soluções aos seus problemas e cuidando de espaços físicos que favorecem a troca de experiências. Aprendi que para a inovação funcionar, a experiência precisava ser suficientemente inclusiva para assegurar que todos os atores se enxergassem no processo. E era exatamente isso o que os coworkings – os espaços de trabalho colaborativo –, as aceleradoras e incubadoras de startups e os programas de aceleração de empreendedores estavam buscando; os ingredientes ideais para a construção de uma comunidade forte, sustentável e de impacto.


Participação, relacionamentos e empatia são fatores determinantes para construir uma comunidade que queira causar um impacto positivo.


 

Onze anos se passaram e meu objetivo hoje como empreendedora social e construtora de comunidades é ajudar a criar ambientes mais diversos e inclusivos que ajudem os profissionais a serem donos do seu próprio sucesso. Ao longo da minha carreira identifiquei três fatores que separam uma comunidade bem-sucedida, sustentável e exponencial de uma comunidade estagnada, vulnerável e estática. Esses três fatores são: 1) Participação, 2) Relacionamentos e 3) Empatia.

Escolhi esses fatores com base em minhas próprias observações e interações com as comunidades e sua cultura, mas também porque sua presença é mensurável e suas práticas são determinantes para construir uma comunidade que queira causar um impacto positivo.

Fator #1: A participação cria significado – Sem participação, o apego de uma pessoa à comunidade é fraco, se é que existe. A participação cria oportunidades para outros fatores. Sem participação, conexões e empatia não se cristalizam. Participação fornece direção. Sem participação, toda decisão se torna um risco de perder pessoas para interesses conflitantes. Quando as pessoas participam, mesmo que o resultado não seja 100% o que elas queriam, elas desempenharam um papel no processo.

Fator #2: Relacionamentos com a comunidade – As relações, como a participação, são mensuráveis ​​apenas quando estão ativas. É por isso que muitas grandes comunidades se sentem “vivas”. Relacionamentos verdadeiros tecem redes mais amplas. Relacionamentos reforçam o apego e criam um sentimento de pertencimento. Combinando participação + relacionamentos, as pessoas sentem que “pertencem” à comunidade. Relacionamentos criam coordenação e colaboração. À medida em que a confiança é estabelecida, os indivíduos da comunidade começam a coordenar seus esforços e energias com mais fluidez. Divergência se transforma em convergência. Todo esforço individual torna-se maior que as somas de suas partes quando há conexão.

Fator #3: Empatia Comunitária – A empatia da comunidade ocorre quando os membros se esforçam para pensar e considerar a comunidade e seus membros. Quando alguém se coloca no lugar de outro para tomar uma decisão, coloca a empatia em ação. A empatia é o fator mais difícil de “medir”, especialmente ao longo do tempo, já que muito disso parece acontecer silenciosamente. Para observar e medir a empatia você precisa aprender a reconhecer os sinais da empatia da comunidade em ação – e como incentivá-los. A empatia amplia a visão de mundo e cria espaço para a autorrealização.

Só praticando viramos especialistas. Se quisermos ajudar a construir comunidades de impacto, devemos praticar o bem e aceitar as diferenças para que as contradições da condição humana sejam aceitas com humor e tolerância.

Acredito que as pessoas são responsáveis por traçar o seu destino. Acredito na força de um mantra, no poder da comunidade. Acredito que fazer o bem é contagioso. Acredito na cura propiciada pelo perdão, na resiliência do amor. Acredito em ter um propósito transformador. Acredito em aprender com significado. E pratico a mudança que quero ver no mundo. Pratico felicidade, sorrisos, paciência, perdão, carinho. Pratico inovação. Pratico colaboração. Pratico comunidade.


A prática da colaboração começa com a base de um relacionamento significativo


 

Meu legado é levar carinho aos espaços e contagiar pessoas com sorrisos. Pratico inovação através da empatia e da atenção. Quero ajudar a construir um mundo mais bonito com pessoas mais felizes e com colaboradores verdadeiramente excelentes para que possamos todos trabalhar juntos, melhor! Hoje, mais claro do que nunca, sei a resposta à pergunta que sempre busquei responder: o que eu quero ser quando for grande? Quero ser eu mesma, mas sempre a versão melhorada. Quanto ao futuro, sempre me pergunto: se não você, quem? E, se não agora, quando?

Minhas três regras para praticar a colaboração:

  • Comunidades verdadeiras e grandes colaborações começam com a base de um relacionamento significativo, não uma transação.
  • Aprendizagem é uma parte da vida cotidiana e aprendemos melhor uns com os outros.
  • Faça ou não faça. Não fique na tentativa.

 

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Maria Andrea Duque Guevara 

* Conhecida como Maria Guevara, sou colombiana, mãe do Martin, de signo capricórnio, formada em Ciência Política & Relações Internacionais. Empreendedora Social com treinamento em antropologia do consumo e pesquisa etnográfica. Coordenadora do Legado SocialWorking, espaço de coworking do Instituto Legado de Empreendedorismo Social. Fundadora da MANICUBO, startup de beleza e bem-estar focada na saúde de mãos e pés de homens e mulheres, e na profissionalização de manicures.