Formação de professores fortalece a cultura empreendedora

A melhor maneira de entender a cultura empreendedora é colocar a mão na massa, como descobriu um grupo de professores de 20 ETECs do estado de São Paulo

Cerca de 95 professores das instituições do Centro Paula Souza participaram da formação de Multiplicação Pense Grande de Professores no primeiro semestre. Além de aprender toda a metodologia do programa, os professores ensinaram seus alunos a pensar “fora da caixa” e a desenvolver projetos de empreendedorismo social.

O resultado dessa jornada inspiradora foi apresentado no Demoday, que aconteceu no dia 27 de setembro no auditório do Centro Paula Souza. Os alunos que desenvolveram projetos focados em solucionar um dos 17 Objetivos Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU com a orientação dos professores multiplicadores, participaram de um edital de seleção para apresentarem suas propostas no palco do Demoday. Cerca de 130 projetos foram inscritos e dez foram selecionados como finalistas.

Três projetos chamaram atenção dos jurados especialistas em empreendedorismo no Demoday. O primeiro lugar foi conquistado pelo Girl Power, desenvolvido pelas alunas da ETEC Hortolândia com a orientação da professora Priscila Martins. O Girl Power consiste na criação de um dispositivo inserido na alça do sutiã que alerta atos de violência e assédio por meio de um aplicativo.

O segundo lugar foi para o aplicativo MedOi, que armazena dados médicos do paciente assim como lembretes de consulta e medicamentos. Foi criado pelos alunos da ETEC Professora Maria Cristina Medeiros, de Ribeirão Pires, sob o acompanhamento da professora Cintia Pinho. Em terceiro lugar ficou o aplicativo Refuge Safe, criado pela ETEC Irmã Agostina com o auxílio da professora Gleiciane Oliveira. As alunas desenvolveram um sistema de doações e voluntariado para as pessoas interessadas em ajudar os refugiados.

Como premiação, as alunas de Hortolândia assim como a professora Priscila ganharam um ingresso para participar do Wired Festival Brasil no Rio de Janeiro. A escola foi contemplada com um carrinho empreendedor com livros, tablet e projetor. O segundo lugar foi premiado com uma mentoria online com um membro do Impact Hub e o terceiro lugar com um curso online sobre empreendedorismo. As professoras Cintia e Gleiciane também foram contempladas com um curso online da + Acumen.

 O aluno no centro do aprendizado

A capacitação explorou a metodologia do Pense Grande, projeto da Fundação Telefônica Vivo em parceria com o Impact Hub e o Centro Paula Souza, que apoia jovens no desenvolvimento de competências empreendedoras e na criação de empreendimentos sociais que transformem suas vidas e comunidade.

A ideia é que os educadores se apropriem de ferramentas que possibilitem ações inovadoras nas disciplinas de projetos das instituições onde trabalham. A formação vem para fortalecer a cultura do empreendedorismo social com os jovens e estruturar um projeto em rede com engajamento de diversos atores.

“Nosso trabalho indireto com os professores das escolas técnicas existe há muitos anos, mas a formação específica para que possam ser multiplicadores da metodologia abre a possibilidade para que muitos mais jovens participem e até outros professores. Nossa expectativa é ampliar cada vez mais essa rede e também aprender com quem lida com os jovens no dia a dia”, explica Mila Gonçalves, gerente de programas sociais da Fundação Telefônica Vivo.

Ao todo, 95 professores e coordenadores se inscreveram para a capacitação, dividida em cinco encontros que aconteceram no primeiro semestre. A cada reunião, foram apresentadas novas ferramentas da metodologia do Pense Grande e vivenciado na prática tudo o que muitos alunos das ETECs vinculadas ao programa conhecem bem.

“Minha escola participa do projeto há três anos e sempre acompanhei de perto. O que percebo é que os alunos são mais receptivos e é muito interessante quando o professor está engajado, porque busca um melhor resultado com a classe. Todo mundo saí ganhando”,” relata a orientadora educacional Tania Maria Bernardes de Almeida, da ETEC Benedito Storani, de Jundiaí (SP).

Os professores são acompanhados de perto pela equipe da Impact Hub e da Fundação Telefônica Vivo. Além das capacitações, tutorias online e presenciais procuram tirar dúvidas e discutir o andamento das atividades realizadas com os alunos.

A primeira etapa de formação durou o dia inteiro e os participantes puderam aprender seis ferramentas diferentes. Entre elas o World Cafe – que fomenta o diálogo entre os indivíduos e o respeito entre diferentes pontos de vista para construir uma inteligência coletiva – e o Ikigai. Traduzido como ‘razão de ser’, o Ikigai é uma forma de trabalhar temas como autoconhecimento, missão, vocação, profissão e paixões.

Como de praxe, a formação do Pense Grande começou com dinâmicas quebra-gelo, na qual os participantes falaram sobre expectativas e discutiram a importância da cultura empreendedora para os jovens do século XXI. Depois, reunidos em grupos, levantaram alguns problemas enfrentados no dia a dia, como dificuldade de captar a atenção do aluno, falta de infraestrutura, distanciamento das famílias e dúvidas sobre como agregar tecnologia às aulas.

A partir do levantamento, os grupos receberam a missão de criar uma solução para os problemas elencados e prototipá-la com materiais lúdicos, como palitos, bexiga, barbante, massinha e caneta colorida. Em seguida, os grupos defenderam o projeto em um pitch de 30 segundos.

Surgiram as mais diferentes ideias: captação de parcerias para a criação de laboratórios mão na massa; projeto interdisciplinar para apoio dos pais; mandala com novas ferramentas de trabalho para o professor; indicadores que ajudam a desenvolver empatia e acolhimento e a criação de empresas juniores para demandas internas e externas.

Por fim, os grupos foram estimulados a contextualizar os projetos com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentávl (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). “Nós percebemos que boa parte dos ODS podem ser resolvidos com a mudança da educação. Por isso a importância de trabalhar com metodologias ativas, sala de aula invertida e novos jeitos de pensar. O que não dá é para a gente continuar com a receita do século XVIII, com a sala de aula antiquada. Por isso foi muito importante participar dessa capacitação, que permite a mudança de visão e ajuda a ir além das limitações estruturais”, disse Jefferson Jeansmonodo, professor da ETEC Sapopemba.

Desde o início de 2018, a metodologia Pense Grande faz parte da grade curricular como disciplina de apoio de algumas ETECs e Fatecs. Além de desenvolver competências importantes para o mercado de trabalho, a cultura empreendedora amplia o protagonismo, a capacidade de mobilização do aluno, além de incrementar as habilidades socioemocionais e a criatividade.

Números do Pense Grande

  • Em 2016, o programa aconteceu em 5 instituições, impactando 103 alunos;
  • Em 2017, foram 18 instituições, com mais de 600 alunos beneficiados;
  • Em 2018, o programa chegou a 48 instituições, impactando 2.088 jovens.