O setor público como caminho para empreendedores

Erez Yerushalmi, Lívia Cunha e Thiago Toscano (foto Renato Zorn).

BrazilLAB realiza encontro em São Paulo e abre inscrições para a 3ª edição do seu Programa de Aceleração. O encontro teve relatos inspiradores como o de Erez Yerushalmi, empreendedor israelense diretor de várias startups e fundador da Sling; Thiago Toscano, diretor da SP Parcerias; e Lívia Cunha, fundadora do Cuco Health. 

Primeiro hub especializado em aproximar startups e governos, o BrazilLAB realizou no dia 24 de setembro no Google Campus, em São Paulo, o evento “O setor público como caminho para empreendedores”, reunindo representantes da academia, do governo e de startups para discutir como o empreendedorismo focado em tecnologia e inovação pode ajudar o setor público a ser mais eficiente.

Na abertura do encontro, Cristina Gonçalves, diretora de Inovação e Parcerias do BrazilLAB, apresentou um balanço do programa de aceleração de startups da organização, que está com inscrições abertas para sua terceira edição, até o dia 8 de outubro. As inscrições podem ser realizadas pelo site

https://inscricao.brazillab.org.br/.

O programa busca empresas que desenvolvam soluções inovadoras com potencial para ajudar governos a vencer desafios nas áreas de meio ambiente, gestão de pessoas, segurança pública e cybersecurity, saúde, inclusão social e educação empreendedora. Serão selecionadas 30 startups que passarão por três meses de mentoria e apoio para validação de modelo de negócio, e as vencedoras do pitch final receberão um contrato de investimento que pode variar de R$ 50 mil até R$ 200 mil, além de apoio para a implementação das soluções em governos.

O BrazilLAB é o primeiro hub de inovação que conecta empreendedores com o poder público, com o objetivo de estimular uma cultura GovTech no Brasil, voltada para a inovação no setor público. O objetivo da organização é apoiar empreendedores que estão engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade atual.

Relatos inspiradores

Erez Yerushalmi foi o primeiro palestrante do evento. Além de diretor de várias startups, o empreendedor israelense foi o fundador da Sling, marca adquirida pela Avante, empresa brasileira da área de microfinanças, da qual é atualmente o CIO, gerenciando a unidade de Tel-Aviv, Israel.

Em sua apresentação, demonstrou como alavancar a tecnologia para impactar as populações mais carentes. Fez um paralelo com a Expedição Transantártica Imperial (1914–17), também conhecida como Expedição Endurance, considerada como a última grande expedição da Idade Heroica da Exploração da Antártida. Concebida por Ernest Henry Shackleton, o objetivo da expedição era efetuar a primeira travessia terrestre do continente antártico. A expedição não conseguiu alcançar o objetivo proposto, tendo ficado conhecida pela história de resistência dos seus membros. “De nada adianta a tecnologia sem um propósito. Mas líderes e empreendedores podem mudar a realidade quando têm um propósito. Depois de ficar preso nas placas de gelo do mar de Weddell, os homens ficaram à deriva por quase dois anos, vivendo sobre o gelo flutuante e se alimentando de focas que abatiam com remos partidos. Estavam além de qualquer resgate possível. Não tinham comunicação com o resto do mundo. Os equipamentos e as roupas eram tão precários quanto se poderia esperar de uma aventura do início do século passado. Ainda assim, Shackleton traria o grupo de volta em 30 de agosto de 1916 – com todos os 28 homens vivos. Esse foi o legado de Shackleton: um novo mundo com mais humanidade”, afirmou Erez.

O empreendedor mostrou como empreendedores com propósito e paixão podem resolver problemas como é o caso de empresas como a Avante, no Brasil, a M-Pesa, no Quênia, a Umati, na Tanzânia, e outras. “Em um mundo de bancos e empresas gigantescas, as pequenas empresas podem superar com tecnologia acessível a enorme lacuna criada entre a realidade e os pobres”, afirmou Erez.

Tecnologia

A palestra de Thiago Toscano, diretor da SP Parcerias, companhia vinculada à Secretaria Municipal de Desestatização e Parcerias de São Paulo, foi concentrada na inovação para solucionar problemas urbanos e de gestão das cidades, sem uso de tecnologia ou com uso intensivo de tecnologia.

“Um dos projetos que estamos implementando refere-se à gestão dos serviços não pedagógicos de Educação. Atualmente, um diretor de escola gasta 80% do seu tempo administrando fornecedores licitados que cuidam da manutenção dos banheiros, que cortam a grama do jardim, que trocam as lâmpadas queimadas. Por que não unificar os contratos para um grupo de escolas e eliminar a burocracia? O mesmo princípio serve para os mercados municipais que são deficitários, para os parques e terminais de ônibus. A inovação nesses casos não depende de tecnologia. Outras questões vão exigir uso intensivo da tecnologia e de novas tecnologias para serem solucionadas”, explicou Thiago.

Apesar das dificuldades que os empreendedores enfrentam ao lidar com as esferas governamentais, Thiago apontou caminhos e soluções como a análise do Decreto 62817/17 que aponta facilidades na lei de licitação; apresentação de estudos de casos; parcerias com grandes empresas e a implementação de projetos em cidades de porte menor.

Essa foi a decisão de Lívia Cunha, fundadora do Cuco Health, startup acelerada pelo BrazilLAB. Por meio de um aplicativo que atua como uma enfermeira digital, ela optou pela cidade de Juiz de Fora (MG) e está ajudando a reduzir filas nas Unidades Básicas de Saúde. Em sua apresentação, Lívia contou que a sua preocupação em garantir a adesão dos pacientes crônicos foi possível ao vivenciar a vida dos pacientes, fazendo um estudo de campo. “A educação no cuidado faz toda a diferença. O que desenvolvemos para o cliente privado, replicamos no setor público e estamos causando impacto social”, afirma Lívia.

A startup CUCO Health que já recebeu mais de 10 reconhecimentos e prêmios no mercado LATAM de Digital Health, e foi eleita por dois anos seguidos uma das 10 startups de saúde mais atraentes para o mercado sob o ponto de vista de investidores e clientes no movimento 100 Open Startups.