Guia GIFE sobre equidade racial incentiva ampliação do investimento social privado

Com o lançamento do guia “O que o ISP pode fazer por Equidade Racial?”, o GIFE contribui de forma relevante para a ampliação do investimento social privado (ISP) e de investidores em geral para diversificar e expandir o seu engajamento em temáticas relevantes da sociedade brasileira. O guia é o segundo da série “O que o Investimento Social Privado pode fazer por…?”

Lançado no dia 15 de maio, o guia O que o ISP pode fazer por Equidade Racial? é o segundo da série O que o ISP pode fazer por…?, concebida pelo GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas) com o objetivo de chamar a atenção do Investimento Social Privado (ISP) para os desafios sobre os quais a atuação do setor ainda é tímida e de apoiar investidores interessados em iniciar ou fortalecer a sua ação nos temas propostos.

O guia, disponível para download, aponta que a questão racial é um dos desafios fundamentais a serem superados para o enfrentamento das profundas desigualdades que marcam o Brasil. Há também vídeos , com depoimentos importantes. Portanto, refletir e, sobretudo, atuar para enfrentar essa realidade é urgente e obrigatório. Atualmente, analisa a publicação, mais da metade (50,7%) da população brasileira é negra. Mais de 70% dessa parcela vive em situação de extrema pobreza. As pessoas negras representam 71% das vítimas de homicídio e 61,6% da população carcerária. Um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos no país. 65,3% das mulheres assassinadas no Brasil vítimas de agressão são negras. Esse cenário revela um racismo estrutural que se manifesta nos âmbitos econômico, político, educacional, jurídico e em muitos outros.

O guia oferece um panorama sobre a questão racial com conceitos e informações sobre contexto e tendências, bem como desafios e caminhos para atuação do ISP. Os conteúdos foram produzidos a partir de entrevistas, pesquisa bibliográfica e contribuições de especialistas no assunto. O segundo tema da série é uma realização do GIFE copromovida por Instituto Unibanco, Fundo Baobá e Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). A Move é parceira técnica do GIFE no projeto, responsável pela facilitação e sistematização de workshops com especialistas, realização de pesquisa e elaboração dos guias que sintetizam os aportes e inspiram a atuação do ISP nas agendas abordadas.

O tema foi abordado no 9º encontro da Rede Temática de Negócios de Impacto do GIFE, realizado dia 23 de maio, a partir da metodologia “Conversando a gente se aprende”, desenvolvida pela Feira Preta e Mandacaru. Lançada em 2016, a RT é coordenada por Fábio Deboni (Instituto Sabin), Célia Cruz (Instituto de Cidadania Empresarial-ICE) e Fernando Campos (Fundação Grupo Boticário). Na ocasião, representantes de fundações e institutos privados discutiram alternativas de promover a cultura da diversidade racial, tanto dentro das organizações, quanto em negócios de impacto nos quais investem e atuam.

José Marcelo Zacchi, secretário-geral do GIFE, observa que o projeto da série O que o ISP pode fazer por…? se relaciona com uma das missões da instituição, que é fomentar a expansão e a diversificação do campo. “Isso inclui uma série de tarefas relacionadas a boas práticas no setor nas áreas de governança, grantmaking, avaliação e outras, e também à máxima interação com a agenda pública contemporânea. A série nos ajuda a aprofundar esta última no sentido de apontar caminhos para alargar essa interface, algo que é central e sensível no atual momento do país.”


Dificuldade da sociedade brasileira em reconhecer que há desigualdade racial no país e adensamento do ultraconservadorismo, com reforço de pautas e discursos racistas, são alguns dos desafios identificados pelo guia do GIFE.


 

Racismo estrutural

Dificuldade da sociedade brasileira em reconhecer que há desigualdade racial no país; baixa representatividade de negros nos espaços de poder; menores expectativas e estímulos para alunos negros ao longo do percurso educacional; falta de recursos destinados a iniciativas de jovens negros nas periferias, onde é mais alta a parcela da população negra; encarceramento em massa da população negra; dificuldades de acesso e desenvolvimento no mercado de trabalho; e adensamento do ultraconservadorismo, com reforço de pautas e discursos racistas, são alguns dos desafios identificados pela publicação.

O guia categoriza os principais desafios no que se refere ao combate e enfrentamento do racismo no Brasil em sete frentes: compreensão conceitual e questões simbólicas e identitárias, dinâmicas institucionais, sistema educacional, juventude periférica e negra, violência, mundo do trabalho e cenário político.

“Vivemos em uma sociedade onde o racismo é estrutural e, por isso, dita todos os relacionamentos entre as pessoas. E instituições são feitas de pessoas. É preciso contar com todos os atores da sociedade para que de fato a gente trabalhe para essa agenda. Acho que o ISP já fez muita coisa, mas tem muito mais a contribuir para a mudança dessa situação. Precisamos engajar novos atores para olhar para o seu investimento com outras lentes”, defende Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá.

Erika Sanchez, gerente de programas do GIFE, observa que a importância da agenda da diversidade em qualquer que seja o tema de atuação do investidor foi bastante evidenciada pelos especialistas durante o processo de produção de conhecimento.

“Independente do foco de atuação, a equidade racial precisa estar presente. É nossa obrigação ter o tema como premissa do que quer que seja que a gente decida fazer e onde investir nosso recurso. Educação é um exemplo clássico. Sabemos que mais de 80% dos investidores sociais brasileiros atuam em educação. Se você atua em educação e não trabalha com equidade racial, talvez deva se perguntar se tem algo errado”, pontuou.

A série O que o ISP pode fazer por…? 

A série O que o ISP pode fazer por…? contempla ainda outros sete temas urgentes e relevantes da agenda pública nos quais a atuação do ISP se dá de forma ainda tímida: cidades sustentáveis, água, mudanças climáticas, direitos das mulheres, migrações e refugiados, segurança pública e gestão pública.

A estreia da iniciativa no X Congresso GIFE, realizado em 2018, foi seguida de um intenso trabalho de pesquisa de conteúdo, escuta de atores de referência nos temas e debates com interlocutores das mais diversas esferas (poder público, academia, organizações da sociedade civil, investimento social privado, entre outras) a partir da realização de workshops.

Esse trabalho resultou na produção de um vídeos e cartilhas por tema. Todo o conhecimento e materiais produzidos são disponibilizados site da iniciativa .

Lançado em abril, o tema cidades sustentáveis inaugurou a série. Estão previstos para este ano o lançamento dos materiais dos demais temas da primeira rodada: água e mudanças climáticas. A segunda rodada – composta pelos temas direitos das mulheres, migrações e refugiados, segurança pública e gestão pública – também será produzida em 2019.