SITAWI lança Plataforma de Empréstimo Coletivo durante Seminário Finanças do Bem

Plataforma para atrair investidores que se interessam por projetos de impacto foi lançada no 2º Seminário Finanças do Bem – O Estado da Arte, promovido pela SITAWI, que debateu a oferta de capital mais barato e abundante para organizações e negócios com impacto socioambiental positivo

Blended finance, contratos de impacto social, títulos verdes, avaliação de risco socioambiental, mecanismos financeiros inovadores, fundos filantrópicos, integração ASG, mudanças climáticas e investimento na Amazônia foram os temas abordados por especialistas nacionais e internacionais no 2° Seminário Finanças do Bem – O Estado da Arte, promovido pela SITAWI em São Paulo, no dia 12 de junho.

Na abertura do evento, Leonardo Letelier, fundador e CEO da SITAWI Finanças do Bem, destacou as áreas de atuação da organização e os resultados registrados em 2018. “A SITAWI acredita que as finanças são mais do que zeros e números, porcentagens ou retornos. Trabalhar com finanças significa tomar decisões, julgamentos que pressupõem valores integrados nas decisões financeiras. Esses valores ficam entrelaçados no dinheiro e se movem na sociedade para construir o mundo. Dessa forma, o capital sempre se move com valores e cabe a nós decidir que valores são esses e o que colocamos na frente do dinheiro”, disse Letelier.

O Programa de Finanças Sociais da SITAWI – que inclui as áreas de investimento de impacto, programas e fundos filantrópicos e contratos de impacto social – mobilizou, em 2018, R$ 11,9 milhões, um crescimento de 140% em relação ao ano anterior. Em 10 anos, foram investidos R$ 26 milhões em 111 organizações, que beneficiaram mais de 660 mil pessoas. “Somos os investidores de impacto mais ativos do Brasil, em volume de transações. Foram realizados 39 investimentos em 28 organizações até o fim de 2018”, afirmou. Recursos de programas e fundos filantrópicos apoiam projetos e causas nas áreas de educação, saúde e territórios.


“O capital sempre se move com valores e cabe a nós decidir que valores são esses e o que colocamos na frente do dinheiro.”

Leonardo Letelier, fundador e CEO da SITAWI

 


 

Já o Programa Finanças Sustentáveis, que tem como missão aconselhar investidores, financiadores, empresas e governos a incorporarem questões ambientais, sociais e de governança (ASG) no processo decisório de alocação de capital, apoiou 67 projetos ativos em 2018, um aumento de 81% em relação a 2017. “Apoiamos a implementação do Sistema de Administração de Riscos Ambientais e Sociais (SARAS) no Brasil e em outros 14 países da América Latina”, destacou Letelier.

Combinando diversos tipos de capital

A primeira plenária do seminário, Is Blended the New Finance? Combinando diversos tipos de capital para atingir os ODS, teve a participação de Fábio Deboni, gerente-executivo do Instituto Sabin; Rodrigo Ordenes, senior investment officer da ResponsAbility; Eliane Lustosa de Andrade, diretora de Investimento do BNDES; e de Leonardo Letelier, como moderador.


 

“Administramos R$ 1 trilhão de investidores institucionais que deveriam, no seu melhor interesse, buscar investimentos sustentáveis e incorporar essas preocupações.”

Eliane Lustosa de Andrade, diretora de Investimento do BNDES



O primeiro tema colocado em debate foi a pergunta sobre o que blended finance significa para as organizações representadas no painel. “Para o BNDES, é a razão de existir. Um banco de desenvolvimento tem que tentar trazer as externalidades de forma sustentável para dentro dos projetos, identificar as falhas de mercado, identificar meios de fazer a coordenação e incentivar que essa consciência exista nas empresas, seja via empréstimos, seja via equity. O banco é um dos grandes investidores juntamente com os fundos de pensão. Administramos R$ 1 trilhão de investidores institucionais que deveriam, no seu melhor interesse, buscar investimentos sustentáveis e incorporar essas preocupações”, explicou Eliane Lustosa de Andrade, diretora de Investimento do BNDES.

Rodrigo Ordenes, senior investment officer da ResponsAbility, afirmou que a organização está alinhada com a definição utilizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que tem a ver com a utilização estratégica dos recursos de financiamento combinada com a mobilização de financiamentos privados com o fim de promover o desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento. “Em nossa organização, trabalhamos o conceito de blended finance como responsibility”, afirmou Ordenes.

Leonardo Letelier (SITAWI), Fabio Deboni (Instituto Sabin), Eliane Lustosa de Andrade (BNDES) e Rodrigo Ordenes (ResponsAbility)

Fabio Deboni, do Instituto Sabin, explicou que o conceito de blended finance para o setor filantrópico, de institutos e fundações, significa ao mesmo tempo um risco e uma oportunidade. “Oportunidade no sentido de você render recursos, de fazer com que esse recurso vá e volte, para gerar mais impacto. Isso é algo que fazemos há bastante tempo, mas não com essa abordagem. Ao experimentar essa movimentação, corre-se o risco de esvaziar o bolso da doação, considerando que esses recursos-chave não são reembolsáveis em muitas coisas que precisamos alavancar em termos de ODS, que é a nossa abordagem aqui. São lados da mesma moeda” disse Deboni.

Rede colaborativa

Do painel Contratos de Impacto Social na América Latina: eles existem!, participaram Maria Laura Tinelli, da Acrux Partners; Adolfo Diaz, do Ministério de Desenvolvimento Urbano e Transporte/Argentina; Daniel Uribe Parra, da Fundación Corona; e Marta Garcia, da Social Finance UK, como moderadora.


 

As organizações intermediárias da Rede Latino-americana de Contratos de Impacto Social (Red Latinoamericana de Pago por Resultados) têm a visão de colocar para funcionar o contrato de impacto social.


Anunciada após o debate, a Rede Latino-americana de Contratos de Impacto Social (Red Latinoamericana de Pago por Resultados) é formada por 11 organizações intermediárias de países da América Latina. “Todas têm a visão de colocar para funcionar essa nova ferramenta que é o contrato de impacto social e acreditam que a prática de pagamento por resultado só pode se desenvolver na América Latina de forma colaborativa, com vontade de inovar a partir de quem faz e não de quem está estudando o tema. É importante implementar essas práticas com foco em resultados positivos na vida das pessoas, por meio do desenho e gestão de programas que abordam programas sociais complexos. Eventualmente, para casos mais simples, o contrato de prática social não é a melhor ferramenta”, argumentou Letelier.

Para Marta Garcia, do Social Finance UK, a decisão sobre os contratos de impacto social tem que ter como base as evidências, dados e fatos para poder avançar e corrigir a política pública como um todo. “Tem que fazer e medir continuamente para corrigir a execução do contrato. Assim é possível fazer a avaliação e pagar pelo resultado”, apontou Garcia.

Para Letelier, a rede conta com muita experiência e práticas que podem ser compartilhadas internamente na América Latina. “Nossas realidades são similares, temos uma proximidade com os gestores públicos, e isso é uma validação do que funciona para nós. O grupo tem uma cobertura regional ampla e conhecimento em profundidade dos problemas e das necessidades da região”, concluiu.

Plataforma de Empréstimo Coletivo

Ao final de cada painel ou plenária, foi reservado um espaço para lançamentos de iniciativas e publicações. Além da Rede Latino-americana de Contratos de Impacto Social (Red Latinoamericana de Pago por Resultados), foi lançada a Plataforma de Empréstimo Coletivo SITAWI, o Programa de fomento à estruturação e avaliação externa de títulos verdes (PEAX), a iniciativa Investidores pelo clima e a 2ª Chamada de Negócios Sustentáveis PPA.

A Plataforma de Empréstimo Coletivo SITAWI (www.emprestimocoletivo.net), tem o objetivo de conectar empreendedores sociais em busca de recursos com investidores interessados em promover impacto positivo na sociedade e uma economia mais justa e sustentável. Os empreendimentos selecionados pela SITAWI se dedicam a construir um mundo melhor e têm poucas opções de financiamento adequado. A iniciativa conta com a parceria estratégica do Instituto Sabin e de parceiros de desenvolvimento Cap.rate, Banco Topázio, Oficina de Impacto e apoio jurídico de TozziniFreire.

O investimento pode ser feito a partir de R$ 1.000,00 e a aplicação oferece rentabilidade maior que CDI e poupança. Em até 24 meses, todo o capital que foi emprestado, acrescido de juros, já terá voltado para a mão dos investidores. As operações são intermediadas pelo Banco Topázio.

Para os empreendedores, a plataforma oferece empréstimos entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão, juros simples de 1% ao mês e carência do principal de quatro meses, acesso a mentores voluntários e workshops temáticos, além de acompanhamento personalizado e conexões com rede da SITAWI.

Para essa primeira fase, foram selecionados cinco projetos:

Inteceleri (Belém, PA)

Empresa de tecnologia educacional com foco na aprendizagem de matemática

Stattus4 (Sorocaba, SP)

Empresa de inteligência artificial para sensores de medição e detecção de vazamentos de água.

CoopSertão (Pintadas, BA)

Cooperativa de hortifruti, leite e processamento de polpa de frutas.

UPSaúde (Currais Novos, RN)

Aplicativo de integração e inteligência de dados do SUS.

Orgânicos in Box (Rio de Janeiro RJ)

Vende cestas de alimentos orgânicos.