Encontro traz inspiração para negócios voltados ao ODS 11

Paula Faria, da Sator, e o vereador de São Paulo Caio Miranda. Fotos: Impact Hub

Com a participação de Paula Faria, da Sator, e de Caio Miranda, vereador de São Paulo, o encontro Impact Morning, promovido pelo Impact Hub SP, debateu o ODS 11, com o objetivo de entender melhor os desafios das cidades e comunidades e de promover a conexão com quem está na linha de frente desta causa.

Mobilidade, segurança, qualidade de vida, ocupação do centro por moradias e até o “Minhocão”, via elevada que está prestes a ser transformada em parque, entraram na roda de conversa do Impact Morning, evento mensal realizado pelo Impact Hub São Paulo, alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU.

O Impact Morning traz, a cada edição, empreendedores e especialistas que compartilham suas histórias e pontos de vista com a comunidade. No dia 26 de junho, foi a vez do ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, que tem como principais indicadores aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, proteger patrimônios culturais e naturais e proporcionar habitações e sistemas de transporte seguros e acessíveis.

O painel reuniu Paula Faria, da Sator, e Caio Miranda, vereador de São Paulo, e foi mediado por Luciana Brasil, diretora de Marketing do Impact Hub SP. “Esse é um evento democrático, no qual cada um pode se sentir à vontade para dar sua opinião. É a oportunidade de tirar um pouquinho dessa sensação do empreendedorismo solitário. O mais importante é entender melhor os desafios de cidades e comunidades e se conectar com quem está na linha de frente desta causa”, destacou Luciana.


“O mais importante é entender melhor os desafios de cidades e comunidades e se conectar com quem está na linha de frente desta causa.”

Luciana Brasil, do Impact Hub SP


 

E não faltaram questionamentos: a falta de sincronia dos semáforos é um dos fatores que impactam a mobilidade em São Paulo; o centro da cidade possui 200 mil moradias desabitadas; por que não facilitar o acesso a iniciativas que já existem e a startups que oferecem soluções específicas?; é necessário investir mais nas periferias, que continuam crescendo; e melhorar a qualidade de vida das pessoas por meio do desenvolvimento em diversos níveis. “O fato é que temos muitos storytellings. Precisamos mais de storydoings”, afirmou Luciana.

Cidades Inteligentes, Humanas e Sustentáveis

O estudo Connected Smart Cities, desenvolvido pela Sator, é muito mais amplo do que simplesmente contemplar a tecnologia. Surgiu de uma proposta de colaboração da empresa que a levou a fazer contato com organizações internacionais que já trabalhavam com smart cities.

Com 11 eixos temáticos, incorpora os conceitos de humano e sustentável para cidades inteligentes para fazer com que os gestores públicos entendam que o conceito é muito mais amplo, mais do que implantar WiFi na praça ou um centro de comando e controle. “Um dos eixos é cidades resilientes e urbanismo, que trata de questões relacionadas a meio ambiente, energia e gestão de resíduos, entre outros temas, e que atende em 100% o ODS 11. Quando começamos a trabalhar esse tema dentro do nosso projeto, percebemos que essas questões não eram claras para os gestores. Na última edição, reunimos prefeitos, secretários e organizações. Promovemos uma discussão sobre cidades resilientes, sobre como incluir a periferia no urbanismo sustentável. O nosso papel é promover a discussão entre diversos atores com uma visão colaborativa e uma agenda positiva. Como o gestor público consegue fazer um diagnóstico da sua cidade, enxergar os seus problemas complexos e tentar resolvê-los em colaboração com a sociedade. Esse é um desafio muito grande e não adianta debater tecnologia que não atende as pessoas”, explica Paula Faria, diretora da Sator.


“O gestor público deve conseguir fazer um diagnóstico da sua cidade, enxergar os seus problemas complexos e tentar resolvê-los em colaboração com a sociedade. Esse é um desafio muito grande e não adianta debater tecnologia que não atende as pessoas.”

Paula Faria, da Sator


 

Fundada em 2005, a Sator tem como objetivo desenvolver eventos que inspirem os participantes, conectem as pessoas, facilitem negócios e criem comunidades. A empresa atua com foco nos setores de aeroportos, aviação, PPP’s, infraestrutura, cidades, mobilidade, segurança pública e inovação social e, nos últimos doze anos, desenvolveu mais de 22 projetos com a participação de mais de 720 organizações. “A nossa visão é que as cidades brasileiras subam um ou mais degraus na escala de desenvolvimento nos próximos 10 anos”, afirma Paula.

Política pública baseada em evidências

Para o vereador Caio Miranda, São Paulo está longe de todas as metas do ODS 11: habitação segura, urbanização de favelas e transporte público acessível. “É indiscutível que a tecnologia acelerou muito as coisas, que as transformações estão rápidas demais, e o poder público e a política não dão conta mais das demandas. O que faz um vereador em São Paulo? Eu faço essa pergunta para mim mesmo todos os dias”, afirma Miranda.

Na opinião dele, a democracia representativa como é no Brasil hoje não funciona e não responde mais aos anseios da população de participação. São Paulo tem 12 milhões de habitantes e 8 milhões de eleitores, de acordo com o último censo. Desse total, 6 milhões comparecem nas urnas e apenas 1,5 milhão elegem um vereador. “Todo o resto vota em alguém que não ganhou. Como responder aos anseios de pessoas que nem me conhecem, buscar prioridades no mandato e representar a cidade? Não importa religião ou o partido, todo cidadão tem que ser atendido”, comenta Caio Miranda.

Para o vereador, o Estado tem que dar o exemplo e induzir as transformações. “Existem várias iniciativas legislativas, mas o vereador não consegue fazer nada sozinho. Tem que convencer um colegiado, tem que ter sanção do prefeito e, por fim, os agentes públicos têm que fazer cumprir a lei. Mesmo sendo uma demanda da população, não adianta aprovar leis sem gerar um debate em torno da questão. O que sempre me incomodou na Câmara foi a quantidade de copos de plástico que são utilizados para servir cafezinho e água. São 40 mil copos por dia copos e o custo não contempla o descarte. Essa discussão já começou. O ODS fala em comunidades e, se conseguirmos mudar uma comunidade como a Câmara Legislativa de São Paulo, incorporar o resíduo zero, criaremos um ecossistema que vai ser amplificado. A Câmara tem 3.500 funcionários que têm que dar o exemplo”, comenta Caio Miranda.


 

“A cidade de São Paulo tem 50 CEUs. Se conseguirmos aplicar um projeto piloto que envolva nutrição infantil, integração esporte e cultura no currículo escolar ou integração da família, teremos uma política pública com alto impacto e pequeno investimento”.

Vereador Caio Miranda


 

Questões culturais e crenças envolvem as políticas públicas e inflam os debates. O trânsito caótico da cidade, refém da falta de sincronização dos semáforos, as ciclovias e o Parque do Minhocão são bons exemplos.

Os semáforos não são sincronizados e deixam de funcionar porque os fios de cobre são roubados. A solução seria investir numa central de controle por fibra ótica. As ciclovias tão combatidas no início da gestão Haddad hoje já foram incorporadas na cidade. Com os aplicativos de bicicletas compartilhadas, essa opção é uma opção preferencial para muita gente. “Hoje é uma política pública estabelecida depois de muito debate”, aponta Caio.

Para o vereador, o Minhocão é um exemplo de sustentabilidade e de que política pública tem que ser baseada em evidência. “Eu defendo o desmanche do viaduto, mas tem quem quer transformar o elevado em um parque. Vivemos em uma cidade que tem 180 pontes e viadutos sem manutenção ou vistoria. Dois que foram interditados no início do ano. Não há um estudo que mostra a segurança dessas estruturas que se mostram enferrujadas visualmente. O Minhocão vai completar 50 anos em 2020 e, para receber um parque, a estrutura tem que ser recuperada. Será necessário investir em uma série de adaptações, que por melhor que sejam, não vai resultar em biomassa e verde na proporção que teria se fosse no chão. E vai continuar o efeito tampão que todo viaduto provoca. Quem mora ali respira um ar mais poluído que qualquer outro lugar da cidade. Também não é uma grande solução viária, porque no final, o trânsito não flui. Explicar tudo isso é uma luta inglória porque passa aquela falsa impressão que tem que priorizar o carro. São 30 mil carros que passam pelo elevado por dia, o que é bem menos do que o número que passa pela ponte da Dutra, que ficou interditada seis meses. Nessa ponte passam mais de 200 mil carros por dia e a cidade não parou. O debate fica no “Fla-Flu”, dos que são contra ou a favor”, pondera Caio.

Aprendizados

  • Novos formatos de participação / qualificar o debate
  • Perder o medo da democracia
  • Urbanistas e especialistas de tecnologia não sabem o que a população da periferia deseja
  • Temos que mensurar o impacto que cada pessoa causa
  • Desenvolver laboratórios que gerem protótipos e possam ser replicados
  • Garantir acesso a soluções de tecnologia
  • Lidar com os erros e evoluir
  • Conscientização do nosso papel
  • Ser mais simples e acessível
  • Aproveitar a força do coletivo e “costurar” uma causa

No final do debate, o vereador Caio Miranda fez uma proposta aceita com entusiasmo pelos participantes: selecionar um CEU (Centro Educacional Unificado) e desenvolver um projeto piloto. “A cidade de São Paulo tem 50 CEUs com creche, ensino fundamental, ensino médio e todas as comunidades no entorno. Se conseguirmos aplicar uma solução que envolva nutrição infantil ou de condição de trabalho dos professores, de integração esporte e cultura no currículo escolar ou integração da família, teremos uma política pública a partir de um piloto, com alto impacto e pequeno investimento”, afirmou Caio.

Adesões ao projeto CEU: luciana.brasil@impacthub.com.br