No último ano, tem sido massivo o volume de notícias sobre ESG, sigla em inglês para os fatores ambientais, sociais e de governança. Engana-se quem imagina que se trata de um tema novo ou de um modismo qualquer. Na verdade, o conceito ESG (Environmental, Social and Governance) está cada dia mais no centro das decisões de investimentos sustentáveis e da construção de portfólios.

A preocupação crescente no mundo com a sustentabilidade faz com que informações sobre práticas ambientais, sociais e de governança – expressas na sigla ESG, Environmental, Social and Governance – sejam cada vez mais levadas em conta no mundo dos investimentos. O Fórum Econômico Mundial lançou em setembro um relatório que reúne um conjunto universal de métricas ambientais, sociais e de governança, com o objetivo de alinhar os principais relatórios de desempenho das empresas conforme critérios ESG. As Nações Unidas, por sua vez, lançaram o The Global Goals for Sustainable Development, com foco nas soluções e ações necessárias para atacar a pobreza, a desigualdade, a injustiça e a mudança climática.

Para abordar este tema, o Climate Smart Institute realizou no final de julho, em parceria com o Insper, o webinar Mainstreaming o Investimento Sustentável no Brasil, que destacou o ESG como diretriz para investimentos sustentáveis e o alinhamento das decisões de investimento e de construção de portfólios. O webinar discutiu, principalmente, o que é preciso para ir além do discurso e a mudança necessária para uma real conversão para o investimento sustentável no Brasil.

O webinar reuniu quatro mulheres, lideranças nas áreas de investimentos: Andrea Minardi, professora de Private Equity e Venture Capital do Insper; Lina Lisbona, responsável por investimentos em sustentabilidade e avaliação de impacto do portfólio da Barn Investimentos; Luciana Ribeiro, sócia-fundadora da EB Capital; e Marina Cançado, head de Sustainable Wealth da XP Private. O evento foi mediado por Angélica Rotondaro, co-fundadora da Alimi Impact Ventures (consultoria focada na escalabilidade do investimento sustentável no Brasil) e diretora-executiva do Climate-Smart Institute (centro de pesquisa de apoio ao desenvolvimento de negócios pró-clima, com base em tecnologia e inclusão de gênero).

Angélica Rotondaro

Durante o encontro, as palestrantes trouxeram insights e casos sobre a relação entre o investimento sustentável e as empresas de porte médio – o que é necessário para escalar o volume de investimento de forma a resolver falhas estruturais.

Entre outras questões, o webinar debateu se existe espaço para implementar e escalar o investimento sustentável no Brasil. E o que significa dizer que um determinado investimento é alinhado com ESG? Como de fato implementar o investimento sustentável na prática?

 A origem

Os primeiros fundos de investimentos que começaram a trazer uma perspectiva socioambiental e de governança surgiram na década de 1960 na Europa e, nos Estados Unidos, na década de 1970. Na década de 1990, as primeiras bolsas criaram seus índices de sustentabilidade. O nome ESG, contudo, foi cunhado em 2004 pela UNEP, que é o braço de finanças da ONU. Logo em seguida teve a criação do PRI (Principals Responsable Investing), que é a principal organização que zela pelo investimento responsável e que começou a fomentar que o mercado financeiro aderisse aos princípios de responsabilidade socioambiental e de governança.


Marina Cançado

Qualquer investimento tem impacto. Então precisamos entender os vários impactos que o investimento gera para tomar uma decisão mais consciente e responsável.” | Marina Cançado, XP Private


 

“Hoje, os investimentos sustentáveis, ou seja, os investimentos que contemplam na análise e na tomada de decisão os fatores ambientais, sociais e de governança já representam mais de um terço do mercado financeiro global aí tendo como liderança Europa, Estados Unidos, Japão e depois Nova Zelandia, Austrália e Canadá. Nos próximos dez anos, provavelmente, não teremos um mercado financeiro tradicional e um mercado de investimentos sustentáveis. Será uma coisa só. Tem que analisar a origem do ESG, e ter como base a compreensão de que todo investimento está inserido dentro de um contexto, e o contexto está inserido na sociedade, no planeta. Então não faz o menor sentido só analisar o investimento ou uma empresa sem considerar o ecossistema no qual ele está inserido. O ESG surge dessa compreensão que é necessário para uma análise boa, para uma boa tomada de decisão financeira, que você insira essas variáveis de governança, sociais, ambientais na tomada de decisão”, explica Marina Cançado.

A head da XP Private comenta ainda que o ESG é utilizado por vezes como uma ferramenta de gerenciamento de riscos, mas aos poucos vem se percebendo que as empresas, ou os ativos, que têm esse olhar ambiental, social e de governança performam melhor, são mais resilientes e, no geral, são empresas mais ágeis, mais preparadas para lidar com as crises, mais orientadas para um futuro sustentável. “Eu diria que vivemos um momento de migração – do gerenciamento de risco para um ESG mais proativo, um ESG que seja uma ferramenta para redirecionarmos capital para a agenda climática. Tomar as melhores decisões para estarmos alinhados com um futuro sustentável e, acima de tudo, um mindset que entende que qualquer investimento tem impacto. Então precisamos entender os vários impactos que o investimento gera para tomar uma decisão mais consciente e responsável. Diria também que não basta mais só olhar as práticas internas da companhia, dizer que ela é boa de governança, que ela usa bem os recursos, que ela cuida dos seus funcionários. Cada vez mais ESG passa por uma avaliação do modelo de negócio, se esse modelo de negócio faz sentido para um futuro sustentável, se está alinhado com o modelo de preferência dos consumidores. E o modelo de negócio é fruto de uma cadeia de valor, ou cadeia produtiva. São duas coisas que precisamos olhar e o Brasil ainda está longe disso”, afirma Marina.

Levando em conta a abrangência do que é um investimento ESG ou como um investidor pode influenciar para que outros negócios investidos também ajudem a resolver os problemas do mundo, Angélica Rotondaro pediu a Andrea Minardi, do Insper, que comentasse quais seriam então os limites dos investimentos ESG.


Andrea Minardi

Precisamos evitar uma visão muito simplista. Acho que é onde o perigo mora e pode até trazer efeitos colaterais negativos.” | Andrea Minardi, Insper


 

Na visão de Andrea Minardi, a direção está certa, mas o problema está na implementação. “Posso escolher montar fundos só com empresas que tenham alto capital e ativos temáticos focados em teses, ou empresas que integrem isso na decisão de investimentos, monitorá-las, ajudá-las na implementação das teses, até chegar aos fundos de impacto que têm propósitos específicos e medições de indicadores. Acho que isso é bem poderoso, mas obviamente não vai resolver tudo porque eu sempre vou precisar de filantropia e instrumentos blended, mas juntando isso é bem poderoso. É um mindset e uma tendência que vamos adotar e agir para evitar uma visão muito simplista. Acho que é onde o perigo mora e pode até trazer efeitos colaterais negativos”, afirma Andrea.

Andrea trouxe o exemplo da Vale do Rio Doce. “A Vale tem um fundo soberano da Noruega de quase um trilhão de dólares sob sua gestão. Em função de dois acidentes horrorosos, Mariana e depois Brumadinho, colocaram a Vale do Rio Doce na black list, no entendimento de que `não quero que esse tipo de acidente aconteça de novo`. Eu vou provocar aqui uma reflexão. Será que com isso, ninguém mais empresta dinheiro para a Vale, ninguém a financia mais… Será que isso não pode criar consequências negativas? A Vale tem a Fundação Vale que desenvolve projetos de negócios sociais super bacanas de educação e saúde nas comunidades onde ela atua e que são distantes que acaba fomentando vários negócios que até podem ajudar a dar renda para essas populações sem desmatar a floresta. Ela tem outros projetos que financiam recuperação de terras degradadas. Financiou também muita coisa do Instituto Terra, que recuperou área da Mata Atlântica. Se eu acabo com todos esses projetos, começo a ter problemas, vai faltar dinheiro para outros objetivos como reflorestamento e todos os problemas sociais que a Vale está resolvendo. Ou seja, temos que olhar com a visão do todo e não só de um maneira simplista. Esse é um ponto, outro é que posso só investir em empresas, que evitam problemas como Brumadinho? Acho que não podemos esperar isso. Podemos sim forçar as empresas a irem nessa direção, mas eu não posso ser simplista achando que estaremos eliminando todos os problemas totalmente. Por todas essas ações que a Vale desenvolvia ela detinha um índice de sustentabilidade B3. De repente, sofreu um risco operacional dessa magnitude que as agências todas não conseguiram capturar. Será que também não seria o ponto de olhar para a frente e ver como é que podemos diminuir esses riscos operacionais com as barragens? Eu estou pegando o exemplo da Vale, mas isso se aplica a vários outros casos. Como é que eu posso evitar isso, ou seja, o que a Vale está fazendo para isso? O que a Vale pode fazer por mineradoras muito menores que têm esse risco e que não têm a mesma sofisticação? Queria fazer essa provocação com essa reflexão.”

Outra questão levantada por Angélica foi a perspectiva dos fundos private equity e venture capital apoiando negócios com potencial de inovação. Como acontece essa análise dos fundos com relação ao risco e à associação do ESG com a inovação? Quais classes de ativos estão mais avançadas para enxergar o que vai além do risco e como o investidor pode ser influenciador dos modelos de negócios?


Lina Lisbona

“Uma companhia criou uma plataforma de compra e venda de celulares usados. Cresceu 50% no último ano, falando de inclusão digital, reciclagem, temas que de fato agregam valor.” | Lina Lisbona, Barn Investimentos


 

Para Lina Lisbona, da Barn Investimentos, “o venture capital tem o papel de financiar a inovação, de financiar a solução via tecnologia dos grandes problemas. A questão de como você faz o mainstream dos investimentos e de ativos está muito associada ao mainstream dos problemas que estão acontecendo associados à sustentabilidade. O venture capital tem esse papel, de levar capital para a inovação e resolver os problemas atuais, que são muito associados com a questão dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável). Neste cenário em que temos crescimento populacional, mudança climática, migração campo-cidade, aumento da desigualdade de distribuição de renda… como encontrar soluções para resolver todos esses problemas?”

Sobre o venture capital e classe de ativos, Lina acredita que o venture capital já sai nessa ponta, trabalhando a inovação voltada especificamente para os ODS que são relacionados aos problemas atuais. “Como eu produzo mais alimento, como a agricultura pode ser mais sustentável no Brasil, como usar menos água, como não degradar terra e não desmatar, quais são as soluções para essas questões? O venture capital olha essas necessidades de inovação como oportunidades de investimentos e menos como um rótulo. Realmente essa é uma estratégia que agrega valor. Temos casos reais de empresas do nosso portfólio que fizeram ou fazem isso muito bem. Uma delas, por exemplo, desenvolveu uma tecnologia que reduz a quantidade de defensivo agrícola no campo. Então se temos uma solução tecnológica que vai permitir essa redução e, ao mesmo tempo, vai aumentar a margem do produtor, essa é uma tecnologia que funciona economicamente e está resolvendo um problema ambiental relevante de contaminação de solo e do lençol freático. Essa empresa mostra que, de fato, isso é uma entrega de valor. Em 2018, foi vendida para a Singenta muito pelas características de sustentabilidade. Esses problemas são mais mainstream hoje e as grandes corporações sentem isso, de fato, como uma estratégia de agregar valor. Uma outra companhia criou uma plataforma de compra e venda de celulares usados. Ela vendeu mais de um milhão e quatrocentos celulares nos últimos quatro anos. Cresceu 50% no último ano, falando de inclusão digital, reciclagem, temas que de fato agregam valor”, analisa Lina.


Luciana Ribeiro

“A visão do capitalismo de lucro a qualquer preço com o acionista como principal beneficiário é coisa do passado, precisamos ter uma visão mais inclusiva.” | Luciana Ribeiro, da EB Capital


 

Luciana Ribeiro, da EB Capital lembra que quando criou a sua empresa, identificou um problema: “como vamos nos posicionar como parte da sociedade civil”? Diante desta questão, deu um passo atrás para refletir que o Brasil é um país com muitos problemas graves, instabilidade de ciclos econômicos e esperar que apenas governos e entidades filantrópicas resolvessem os problemas não seria suficiente. “Nós queremos honestamente ajudar a construir, a escolher nosso futuro e não vamos passivamente ficar esperando que isso aconteça. Acreditamos que o capital privado tem uma relevância fundamental em fazer isso acontecer. Eu gosto muito da fala do Fórum Econômico Mundial sobre o reset do capitalismo, ao afirmar que a visão do capitalismo de lucro a qualquer preço com o acionista como principal beneficiário, é coisa do passado, precisamos ter uma visão mais inclusiva. Nós nos posicionamos como private equity exatamente a partir dessa visão transformadora”.

Como empresa de private equity, a EB começou a olhar as várias classificações de portfólios, o famoso A, B, C. A significa avoid, está relacionado a áreas que claramente causam risco ou prejuízo (cigarro, por hipótese). O B é de benefice (benefício), empresas mais envolvidas com ESG, que realizam suas atividades no contexto em que estão inseridas, considerando o acionista, o planeta, os empregados. Já a categoria C, signifca construction solution – construção de soluções.

“Nós nos enquadramos na categoria C. ou seja, investimentos em private equity que visam construir soluções para o planeta e sociedade. Por exemplo, um tema que gera enorme discussão hoje é a fibra ótica. infelizmente o Brasil é um país que registra um celular por habitante. Na verdade era 1,4 e agora estamos em 1,1 por habitante, mas isso não garante a conectividade do brasileiro, uma vez que 50% das casas no Brasil não têm acesso a banda larga, e entre os 50% que têm acesso, quase metade acessa por linha discada. Com a Covid-19, essa realidade se deteriorou ainda mais. A conexão pela internet foi considerada pela ONU um direito fundamental do cidadão. Todos sabemos como ela é relevante hoje não só para entretenimento mas para educação, para trabalho. A questão que nos colocamos então foi: como é que nós, como empresa de private equity, resolvemos o problema, apresentamos uma solução para essas cidades pequenas, que hoje não têm acesso à conexão”?, afirma Luciana.


“Nós temos problemas graves aqui a serem enfrentados. O private equity e o venture capital precisam se posicionar como eixos centrais na solução de problemas, trazendo capital privado.” | Luciana Ribeiro, da EB Capital


Outro exemplo de Luciana está no fato de que, embora o Brasil tenha uma alta taxa de desemprego, há ofertas que não são preenchidas por falta de qualificação; supermercados às vezes têm vagas para caixa e não conseguem preencher. “São qualificações mínimas. Como o capital privado pode ajudar a resolver? Nós temos problemas graves aqui a serem enfrentados e eu acho que o private equity e o venture capital precisam se posicionar como eixos centrais na solução de problemas trazendo capital privado. Ninguém estaria fazendo benemerência, estamos falando de investimentos com retornos acima de 20% ao ano, bem acima do que o mercado paga. Retornos extraordinários. Ao escolher ter como foco resolver os problemas, eu escolho transformar o país, eu escolho um Brasil melhor. Acho que é essa a ideia do que seria construção de soluções. Acho que isso é mais poderoso do que qualquer classificação se é via ESG, se é via outro modelo. O que vale é o porquê das coisas e o nosso porquê deve ser melhorar o país.”

Outro ponto colocado em debate por Angélica foi a importância e como o investimento sustentável pode e deve olhar as cadeias de valor onde estão inseridos os negócios-foco.

Para Lina Lisbona, é importante perguntar como o negócio é escalável e, se a solução é aplicável, qual o valor que de fato está entregando. Além da análise tradicional, o investidor analisa os impactos ambientais e sociais, o que abre espaço para soluções de investimento de impacto. Impacto e sustentabilidade são analisados.

Lina cita um exemplo de investimento realizado pela Barn. “Investimos em uma empresa que fabrica motos elétricas para uso comercial, no setor de logística. É um mercado enorme, o Brasil tem a oitava maior frota de motos, é a maior frota do mundo ocidental e com a pandemia, essa tendência deve crescer. Faz sentido isso? Qual é o diferencial? Não só é uma moto elétrica mas o business, o modelo de negócio é inovador. A empresa se chama Origem, e as motos serão alugadas. Também tem de haver essa nova tendência, pois a empresa não pode ter um grande ativo imobilizado. Quais são as contribuições sociais e ambientais? Estamos falando de uma moto elétrica que vai evitar a emissão de quase 3 toneladas ano de carbono. Grandes frotistas e varejista, correios ou DHL, vão se interessar em incorporar uma estratégia de ser carbono neutro, na sua cadeia de valor. Ao mesmo tempo você está fornecendo uma moto elétrica em modelo de aluguel, diminuindo o que o motoboy gasta. De alguma forma, você está aumentando a renda dele também, porque diminuem os gastos de manutenção e de combustível. Dessa forma, vamos construindo o que é um bom investimento.”

E qual seria o ponto para que o investimento sustentável se transformasse em mainstreaming? Para Luciana Ribeiro, há duas frentes. A primeira, é o entendimento dos gaps estruturais. “Para mim, funciona como um guia de temas cheio de problemas e de coisas óbvias como o tema da qualificação. O tema do saneamento é um tema muito óbvio que felizmente tivemos algum progresso do ponto de vista legislativo, acho que teremos ações importantes nesse ambiente. E temas menos óbvios, como a obesidade infantil, especialmente no nordeste, com desdobramentos vários de saúde, de oneração da saúde pública, que muitas vezes passam despercebidos. Fico feliz de estar nesse painel com mulheres que são transformadoras nas suas áreas, porque infelizmente temos outro gap brasileiro importante que é a falta de oportunidade para lideranças femininas. Temos também tema de gênero, muito mais problemático, de creches, das mães sem alternativas para voltar para o seu trabalho, a flexibilidade da jornada, que passa também por um ambiente de digitalização. Temos uma série de temas que estão muito atrás e que desembocam na falta de igualdade de gênero no Brasil. E assim como esses dois exemplos diferentes que estou trazendo aqui, tem mais uma série de outros exemplos que me parece que os ODS fazem um belo guia. Sem falar nos temas climáticos ambientais que têm um enorme espaço e que nós deveríamos tratar sob a perspectiva de oportunidades”.

Na visão de Luciana, todos somos veículos de investimento. “A análise da rentabilidade de qualquer investimento precede obviamente qualquer outra avaliação. Nós somos rigorosos com essa análise, ou seja, fazemos o filtro do investimento do ODS que se pretende atingir e, ao final do processo, tem que haver uma revisão de ambos para poder realizar o investimento. Essa disciplina é extremamente positiva. É preciso quebrar a antiga crença de que os investimentos em gaps estruturais não dão retorno. Eu diria que muito pelo contrário. Temos hoje uma série de estudos sobre prevenção de risco mostrando que esse tipo de investimento traz mais resultados e, quando olhamos com a perspectiva de negócios que estão apoiando construção de soluções nós estamos falando de serviços essenciais que não deixam de ser essenciais por conta da crise ou das crises que acabamos enfrentando. São negócios com regras extremamente resilientes, altos e baixos que o país passa. Precisamos ter cada vez mais clareza de que tem sim aqui um ambiente de altos retornos atrelado a soluções e, por outro lado, só pra fechar, acho que também tem um ambiente importante para os investidores. Vejo uma pressão que começou pelo millenials, depois passou para as agências de desenvolvimento que fazem uma pressão mais mainstreaming.”


“Falar e olhar só para o PIB não faz mais sentido, nem só para o retorno financeiro. O que viabiliza a existência humana é o mundo saudável. Sou super apaixonada por empreendedores que estão batalhando para desenvolver soluções para construir um mundo melhor.“ | Lina Lisbona, Barn Investimentos


 

Para Marina Cançado, da XP, empresa que tem o grande objetivo de democratizar e ampliar o acesso aos investimentos para que os brasileiros possam viver melhor, o Brasil evoluiu muito mais sobre o consumo do que nos aspectos referentes aos investimentos. “Hoje todo mundo pensa na roupa que vai comprar e usar, observa os materiais, onde a roupa foi feita. De certa forma, já estamos mais conscientes. Mas isso ainda não chegou ao mundo dos investimentos. Lidar com dinheiro no Brasil já traz uma série de questões históricas e culturais. Não é fácil para muita gente falar de dinheiro ou investimento – o tema parece super complexo com tantos números, comparações e opções diferentes. Na XP tentamos facilitar e levar educação financeira para que os clientes consigam investir melhor. Mas quando falamos que vamos trazer impacto com ESG, adicionamos complexidade à reflexão de tomada de decisão. Um dos nossos grandes desafios é ajudar a entender o que significa trazer isso para os investimentos, porque cada vez mais as pessoas querem saber o que está naquele fundo. Acho que isso leva a um outro ponto que é a transparência. Muitas instituições financeiras não abrem as informações por vários argumentos, por uma questão de estratégia. Penso que assim como no consumo, cada vez mais as pessoas querem rótulos que tenham mais informações, clientes e investidores também vão exigir mais transparência e mais informação das instituições financeiras”.

Para Andrea Minardi, educação financeira é importante. “Muito pouco tempo atrás, o investidor brasileiro só colocava dinheiro em título do governo, na renda fixa. Por que? Títulos altíssimos estão em toda parte, renda variável e outros instrumentos exóticos. É toda uma educação nova que vai perder dinheiro, recuperar se temer os riscos. A XP tem um papel bacana de educar, assim como o Insper, FGV, USP e todas as universidades. Porque é bacana essa mudança de paradigma, agora com essa taxa de juros baixos, as pessoas estão sendo forcadas a enfrentar o risco e, para isso, têm que aprender.”

Não faltam fontes de inspiração para as mudanças. “Todo mundo que está realmente tentando fazer acontecer falando essa língua de desenvolvimento sustentável e de impacto é fonte de inspiração. Ou no meio acadêmico, ensinando o que é ou inserindo no processo de investimento de private equity, ou levando para o mainstreaming mesmo, para a ponta, mostrando que a nova geração está aí, pedindo isso que faz sentido. Eu gosto muito do livro Economics Donation, que para mim é um referência. Falar e olhar só para o PIB não faz mais sentido, nem só para o retorno financeiro. Precisamos olhar para as outras coisas. O que viabiliza a existência humana é o mundo saudável, se a gente está destruindo o mundo saudável não vai rolar. E claro empreendedores que estão construindo soluções. Sou super apaixonada por esses empreendedores que estão batalhando que estão inventando tentando criar essas soluções para construir um mundo melhor. Acho que hoje fico feliz em dizer que não falta inspiração”, afirma Lina Lisbona, da Barn Investimentos.