Como estimular a expansão dos negócios de impacto

Anna de Souza Aranha: superar o paradigma de modelo mental do "ou" e migrar para o "e"

O Quintessa já acelerou mais de 50 negócios de impacto em nove anos, melhorando direta ou indiretamente a vida de mais de seis milhões de pessoas por meio de suas ações

Com o propósito de transformar a realidade pelo empreendedorismo, o Quintessa busca impulsionar uma nova forma de fazer negócios, garantindo o sucesso de empresas que querem resolver os desafios centrais da sociedade. Anna de Souza Aranha*, diretora do Quintessa desde 2012, destaca nesta entrevista ao Portal NI os desafios que o segmento de negócios de impacto precisa resolver, as demandas dos empreendedores, os impasses que o ecossistema enfrenta e a forma de atuação do Quintessa. Confira!

Portal NI – De evolução recente no Brasil, o segmento de negócios de impacto social passa por rápido crescimento. O que é preciso, na sua visão, para que essa expansão seja ainda maior?

Anna de Souza Aranha – Acredito que seja necessária uma maior clareza em torno do conceito de negócios de impacto. Ainda há confusão, confundindo-os com o terceiro setor e as ONGs, ou mesmo com outras startups, não focadas em superar desafios sociais e ambientais relevantes. Outra confusão se dá também pela dúvida sobre poderem ou não distribuir dividendos para os acionistas – e a definição da Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil, seguida pela maioria dos atores do ecossistema, defende que sim, pode haver distribuição. Assim, é preciso que se compreenda que estamos falando de empresas escaláveis e lucrativas – e que geram impacto relevante.

Os negócios de impacto deveriam acessar recursos de investimento de venture capital e serem contratados para atuar em pautas estratégicas das empresas, superando o desconhecimento que faz com que sejam vistos como algo “extra” ou associados apenas à responsabilidade social. Dessa forma, acredito que seja necessário superar o paradigma de modelo mental do “ou” e migrar para o “e” – reconhecendo-os pelo seu potencial de gerar retorno financeiro positivo “e” transformações relevantes em nossa sociedade. Outro caminho para a expansão é o reconhecimento de que diversos desafios sociais e ambientais podem ser encarados como oportunidades de negócio. São potenciais clientes não atendidos e necessidades não supridas, que podem revelar ótimos mercados para se atuar.

A maior parte dos negócios ainda tem dificuldade em medir o impacto gerado. Até que ponto essa questão é essencial ao desenvolvimento do setor?

Acredito que essa questão seja importante para comprovar que os negócios de impacto não apenas têm em sua missão o foco em impacto, mas que em sua operação, ele de fato é entregue/realizado.

Além de recursos financeiros, quais são as principais demandas hoje dos empreendedores de negócios de impacto?

As principais demandas são por conexões comerciais e mentorias/suporte em gestão para crescerem – em áreas como marketing, comercial, gestão de pessoas, processos, financeiro, estratégia de expansão, validação de modelo de negócio, entre outras.

Que áreas hoje mais podem se beneficiar do modelo “negócios de impacto”? Educação, habitação, saúde, finanças, área pública…

As áreas que mais podem se beneficiar são aquelas que têm correlação com grandes desafios sociais e ambientais. Algumas são: acesso à educação e saúde de qualidade, mobilidade urbana, capacitação profissional, melhor uso da água, energia limpa, melhores práticas na cadeia de alimentação e moda, inclusão de PCDs, igualdade racial e de gênero.

Quais são os diferenciais do processo de aceleração do Quintessa no ecossistema de negócios de impacto?

O Quintessa trabalha de forma personalizada, próxima e em uma relação de longo prazo com os empreendedores. Assim, customizamos o programa de acordo com os desafios prioritários de cada negócio, nos dedicamos 8h/semana a nossos gestores e quinzenalmente a nossos mentores, e dedicamos um ano no programa, permitindo que atuemos desde a identificação dos desafios até o refinamento das soluções implementadas. Além disso, nossa equipe é formada por mentores muito qualificados e por gestores com expertise em gestão e negócios, fator que somado aos nossos nove anos de experiência traz solidez para a relação de parceria que estabelecemos com os empreendedores. Mais informações podem ser acessadas no Guia 2.5 para o desenvolvimento de negócios de impacto.

Quais são os requisitos básicos para os empreendedores se candidatarem ao processo do Quintessa?

Selecionamos com base em três pilares: Impacto, Empreendedor e Equipe, e Negócio. Assim, alguns requisitos são: atuar na solução de um desafio social ou ambiental relevante, ter uma equipe comprometida e qualificada, ter diferenciais competitivos perante outras soluções do mercado, atuar em um mercado com espaço para crescer e ter um modelo de negócio escalável e lucrativo.

Caso o negócio ainda não tenha concluído a fase de validação do modelo de negócio, encaminhamos para a Aceleração Focada. Caso já tenha passado desta fase e esteja no momento de estruturar uma gestão eficiente e impulsionar o crescimento da empresa, encaminhamos para o Programa de Aceleração.

Como é feita a ponte com investidores?

Hoje a conexão é feita por meio de duas soluções: Sponsorship Quintessa e Assessoria para Captação de Investimentos. Na primeira solução, conectamos os negócios com investidores qualificados, com foco em um tiquete na faixa de R$100 mil a R$400 mil. Na segunda solução, assessoramos os negócios selecionados na captação de investimento principalmente junto a fundos de venture capital e investidores estratégicos. Hoje estamos concluindo dois mandatos – um de R$ 2,5 milhões e outro de R$ 6 milhões.

Quais os cases de sucesso que contam com o apoio do Quintessa?

Podemos destacar a Escola de Idiomas 4you2, que passou de 100 alunos para 1.500 alunos durante a aceleração. Atuam na oferta de ensino de inglês de qualidade para pessoas de baixa renda. E a TNH Health, que de 10 mil vidas passou para 100 mil vidas durante a aceleração. Essa organização atua, por meio de tecnologia, com programas para engajamento em comportamentos saudáveis, educação e monitoramento remoto em saúde. Há também outros negócios como a Hand Talk, a Boomera e outros, que podem ser conhecidos em http://quintessa.org.br/portfolio/

(*) Anna de Souza Aranha – Diretora do Quintessa, aceleradora de negócios de impacto, dedica-se desde 2012 a estruturar a gestão, impulsionar o crescimento e captar investimento para empresas que resolvem grandes desafios sociais e ambientais. Formada em Administração pela FGV, cursou também, com foco em empreendedorismo e inovação, Stanford Ignite (Stanford University Graduate School of Business) e DEP (Singularity University). É também cofundadora do Intento DFW, plataforma focada em liderança com integridade, e professora no MBA de Business Innovation da FIAP.